UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

domingo, 10 de agosto de 2025

Gabriela Mariel Silvério, presente!

Leia também

Gabriela Mariel Silvério, 33 anos, militante de movimentos populares em Mauá (SP), foi assassinada em 3 de junho, vítima de feminicídio. Criada em família pobre, conviveu desde a infância com uma doença rara que causa fraqueza muscular. Mãe de uma menina de 9 anos, conciliava o trabalho em cozinha de shopping com sua militância nas ocupações e campanhas pela moradia e pelos direitos das mulheres.

Coordenação Nacional do Movimento Olga Benario


Sua luta segue viva pelo fim da violência contra as mulheres e pelo socialismo

MULHERES – Gabriela Mariel Silvério nasceu na cidade de Mauá, no Estado de São Paulo, em 1992. Seu nome foi escolhido em homenagem à personagem Gabriela Cravo e Canela, do romance de Jorge Amado, que questionava os padrões impostos às mulheres na sociedade patriarcal. Gabi e seus irmãos tiveram vida difícil, típica das famílias pobres. Saiu de casa aos 14 anos e começou a trabalhar muito jovem. Herdou da mãe uma deficiência chamada miopatia do core central, que se manifesta por fraqueza muscular e pode gerar atrasos no desenvolvimento motor, o que a fazia ter dificuldades de caminhar, subir escadas e causava muitas dores.

Aos 24 anos, teve sua filha Leona, motivo pelo qual lutava por um mundo melhor. Iniciou a faculdade de Nutrição, mas teve dificuldades para pagar as mensalidades. Nos últimos meses, trabalhou na cozinha de um shopping em São Caetano do Sul (SP), na escala 6×1. Morava no bairro Paranavaí, em Mauá, numa casa de dois cômodos, decorada com vários materiais que ela mesma fazia, como uma foice e martelo de verdade, que já tinha na parede antes de se organizar na militância.

Uma militante aguerrida e disciplinada

Em 2022, conheceu a Unidade Popular (UP) por meio das candidaturas nas eleições, mas tinha dois empregos e não conseguiu se envolver nas atividades. Em 2023, filiou-se e, em 2024, passou a participar ativamente dos núcleos da UP, do Movimento Olga Benario e do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Foi a partir de uma plenária do socialismo que decidiu dedicar sua vida à luta pela revolução. Na conversa de recrutamento, após ouvir a história de Olga Benario, disse: “meu objetivo de vida é ser como ela”.

Assim, até o dia 03 de junho de 2025, dedicou todo o máximo de seu tempo para construir uma sociedade justa para as mulheres, crianças e toda a classe trabalhadora. Mesmo trabalhando na escala 6×1, Gabi nunca faltava a um ato ou na brigada nacional e, muitas vezes, realizava a atividades no sábado a noite, após o trabalho. Sua cota individual era de 15 jornais, e ela sempre o apresentava para as pessoas à sua volta, fosse no ponto de ônibus, no Uber, no trabalho ou nos núcleos dos movimentos.

Ela foi uma das principais responsáveis pela coleta de assinaturas do abaixo-assinado pela Delegacia da Mulher 24 horas em Mauá e também foi coordenadora da Ocupação da Mulher Operária Alceri Maria Gomes da Silva, em São Caetano.

Gabi superava todas as dificuldades para garantir cada proposta aprovada nas reuniões. Com pouco tempo de militância, ela era determinada em crescer as lutas, pegando contatos de várias regiões do estado para construir a Unidade Popular e o Movimento Olga Benario. Estava convencida de que valia a pena dedicar cada minuto para a construção de uma sociedade justa e socialista!

Luta contra os feminicídios

Gabriela se foi pelo mesmo motivo de uma das estatísticas mais duras do Brasil: o feminicídio, que mata quatro mulheres por dia. Nosso país é o quinto do mundo onde mais mulheres são assassinadas.

Ela estava há um ano num relacionamento em que não houve uma escalada de violência: ele praticava manipulação, apesar de nunca tê-la gritado ou agredido fisicamente.

Gabi estava na lista de famílias do programa Minha Casa Minha Vida – Entidades para conquistar seu apartamento com o MLB, mas já se passaram três anos do atual Governo Federal, e as construções ainda não foram iniciadas. Ela chegou a morar na Ocupação da Mulher Operária, em São Caetano, que foi despejada pela Prefeitura fascista. Lutava pela cessão do imóvel prometido pela Prefeitura de Mauá para a Casa Helenira Preta, que há anos não se concretiza e que poderia ter impedido esse crime.

Por tudo isso, precisava dividir o aluguel com seu futuro assassino. Assim, o baixo salário, a falta de política habitacional no Brasil, o desmonte das políticas de enfrentamento à violência e a perseguição e descaso aos movimentos sociais das Prefeituras de São Caetano e Mauá contribuíram para sua morte. Ela é mais uma vítima do Estado burguês e do sistema capitalista.

Sua luta segue viva

Nova ocupação de mulheres em Mauá homenageia Gabi. Foto: Movimento Olga
Nova ocupação de mulheres em Mauá homenageia Gabi. Foto: Movimento Olga

Assim que soube do ocorrido, a militância organizou um ato às cinco manhã na Estação do metrô, em Mauá, em que mais de 150 pessoas fizeram homenagens e seguiram em marcha até o velório. Dois dias depois, uma comissão de mulheres foi até a Prefeitura reivindicar uma reunião e, após serem tratadas com truculência, no mesmo dia, mais um ato foi organizado.

Entre as reivindicações da luta estão: garantia de auxílio para as crianças órfãs de feminicídio, incluindo a filha da Gabi, de nove anos; criação da Delegacia 24 horas; cessão imediata do imóvel para a Casa Helenira Preta em Mauá. Como nada se resolveu, no dia 13 de junho, o Movimento de Mulheres Olga Benario realizou sua 28ª ocupação, a quarta na cidade de Mauá: Ocupação Helenira Preta Vive por Gabriela Mariel Silvério!

Nos últimos dias, toda a militância se transformou, inclusive Gabi, que mobilizou atos, banquinhas, panfletagens e campanhas de crescimento por todo o Brasil. O Movimento de Mulheres Olga Benario, a Unidade Popular, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas e o Partido Comunista Revolucionário (PCR) se despedem de Gabriela com a certeza de que sua vontade de lutar jamais morrerá. Ela vive em nós em cada conversa, filiação, recrutamento, em cada luta, seja qual for a causa, desde que seja justa.

O exemplo de Gabi reforça a importância de crescer o trabalho entre as trabalhadoras, de levar a sério a política da creche e de cumprir as propostas que aprovamos nas reuniões. Levaremos sua memória até o fim, com a tarefa de construir uma grande revolução pelo poder popular e pelo socialismo no nosso país!

Matéria publicada na edição impressa  nº315 do jornal A Verdade

More articles

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Últimos artigos