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segunda-feira, 4 de agosto de 2025

“Cadê a praça que estava aqui?”

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Apesar de ser a capital do estado e a cidade mais rica do estado, o Recife é uma cidade abandonada pelo capitalismo. Foto: Nayara Ramos. JAV-PE

As Praças públicas deveriam ser espaços de lazer, cultura e convívio social com a natureza, mas não é bem isso que vemos na realidade das grandes cidades. E a cidade do Recife é prova disso. 

Nayara ramos- Recife (PE)

Em meio à selva de pedras que é uma cidade grande, como é o caso do Recife, praças e parques são essenciais para oferecer um respiro verde à população. Esses espaços promovem saúde física e mental, proporcionando ambientes para a prática de exercícios e esportes, lazer, apreciação da natureza e contato com outras pessoas. O problema é saber se esses espaços estão sendo oferecidos para a população, e como estão sendo ofertados.
Na Praça do Cavouco, localizada na Zona Oeste da capital pernambucana, em um bairro residencial, e fazendo parte do Programa Academia da Cidade (PAC), gerenciado pela Prefeitura do Recife, que deveria fornecer à população uma área de atividade física, pista de cooper, quadra poliesportiva e um parque para crianças, hoje possui apenas a quadra e a área de atividade em boas condições de uso, deixando os moradores sem aproveitar o espaço.

 

Abandonar espaço público é abandonar o povo

O direito ao lazer e à saúde são garantidos pela Constituição Federal, mas, no Brasil, esse e outros direitos não chegam em muitos bairros similares ao da Iputinga. Uma das principais preocupações dos moradores é a falta de manutenção da pista de corrida, onde o acúmulo de sujeira já causou até quedas de pessoas idosas. Renata, aluna da academia relata: “Só não caí porque uma colega do meu lado me segurou. É muita sujeira. Muitas senhoras idosas caminham aqui mas a gente não vê uma manutenção. Será necessário esperar alguma tragédia para que a Prefeitura tome providências?
A falta de lixeiras e a limpeza irregular da praça reforçam a sensação de abandono. Moradores já cobraram melhorias na praça, mas nunca tiveram resposta da prefeitura. Quando não há atividade na academia ou na quadra, o local atrai a presença de usuários de drogas e aparenta insegurança para a população. Sandra, outra aluna da academia, conta que tentou passear com seus filhos numa tarde e não se sentiu segura: “É muito frustrante isso, você está querendo aproveitar o seu bairro e não pode”.

Outra questão que afeta a população são os cavalos soltos no local. A população solicitou por diversas vezes a remoção dos animais, mas com a postura indiferente da prefeitura a situação persiste, assim como persistem as fezes dos bichos no local e a falta de uma limpeza mais regular e constante.

 

Uma questão de classe

Essa é a triste realidade de quem utiliza a Praça do Cavouco: parque quebrado e perigoso para crianças, fios elétricos expostos e até mesmo o banheiro do local, interditado por 6 meses. O abandono é generalizado. No fim, o que importa é a falta de atenção da Prefeitura do Recife para bairros que não estão nas áreas “nobres”, onde o uso do dinheiro público é para favorecer bairros ricos.

Isso fica claro ao atravessar a ponte que conecta a Iputinga com à Zona Norte do Recife. No Parque Jardim do Poço, localizado em bairro nobre, a grama bem irrigada, a limpeza é frequente e os brinquedos estão em pleno funcionamento para os filhos de quem tem dinheiro. Enquanto o interesse público não cuidar verdadeiramente de toda a população, as “Praças do Cavouco” pelo Brasil continuarão abandonadas e perigosas.

 

O Recife do comercial é outro

 Esse abandono das praças públicas enquanto espaços de cultura e lazer para a grande população é um reflexo de uma política populista e enganosa, sobretudo em épocas de redes digitais. Um exemplo disso é que o prefeito do Recife, João Campos (PSB), gastou nos últimos quatro anos (2021 a 2024), R$609 milhões com propaganda, shows e eventos, enquanto destinou apenas R$ 234 milhões em manutenção e drenagem da cidade, deixando escancarado todo o transtorno que vemos quando chove. Ou seja, o Recife na propaganda da prefeitura é bem diferente do mundo real. Enquanto a população paga seus impostos, a sequência de privatizações (disfarçadas de concessões) deixa claro que o interesse real é beneficiar empresários e não cuida do dia-a-dia do povo trabalhador.

No início desse ano, o prefeito recifense aumentou em 25% o número de cargos comissionados e as gratificações na prefeitura, aumentando os gastos em R$ 65 milhões ao ano, enquanto propôs um “aumento” de 1% no salário dos servidores, levando diversas categorias a fazerem greves e paralizações. A cidade não acolhe quem lhe mantem, e o abandono dos mínimos espaços para quem deseja um mínimo de saúde mental e lazer, se quer consegue ter acesso.

 

Só a ação popular faz a diferença

No bairro de San Martin, Zona Oeste do Recife, a Associação Amorforte, coletivo que debate gestão ambiental e os espaços públicos na cidade, mostrou que a mobilização comunitária traz resultados. Criada a partir do incômodo da população com a sujeira, insegurança e abandono dos bairros recifenses, conseguiram, depois de muita mobilização por meio de eventos, palestras e debates, que a prefeitura revitalizasse 3 praças com manutenção, arborização e novos parques, e segue lutando por melhorias, mostrando que quando o povo age de forma coletiva e organizada, consegue realmente mudar a realidade.

Enquanto essa política só atende aos interesses dos pouquíssimos ricos, e a maior parte da população sofrer com serviços precários, todos os trabalhadores e trabalhadoras tem o direito de exigir viver em cidades com espaços públicos limpos, seguros e acessíveis. Mais ainda: é necessária uma transformação social na qual o poder político e a capacidade de gerar mudanças verdadeiras esteja nas mãos da classe trabalhadora e só com organização e luta o povo poderá conquistar isso. O direito à cidade é um direito também a questões básicas, cotidianas, mas que também fazem parte das necessidades básicas e que também nos diz respeito.

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