Moradores do Ribeirópolis, Praia Grande (SP), sofrem despejos violentos promovidos pela prefeitura. Comunidade se organiza para lutar pela regularização do bairro e por infraestrutura básica, denunciando a especulação imobiliária e abandono do poder público.
Redação SP
LUTA POPULAR – A prefeitura de Praia Grande, no litoral paulista, dirigida pelo prefeito Alberto Mourão (MDB), usou de forma covarde a polícia e os servidores da limpeza urbana para destruir casas em terrenos alvos da especulação imobiliária na cidade.
Mourão é um dos prefeitos mais ricos do país, dono de construtora, tem como compromisso fazer da cidade uma colônia de férias para os ricos, enquanto a população é humilhada diariamente, pagando impostos e aluguéis absurdos, trabalhando na escala 6×1 ou no serviço público para receber um salário miserável.
Como se não bastasse, os moradores do bairro Ribeirópolis ainda vivem sob a ameaça de terem casas destruídas por tratores da prefeitura. O governo municipal tem realizado despejos violentos no bairro, utilizando a polícia para agredir os moradores que resistem.
A Secretaria de Serviços Urbanos (SESURB), responsável pela coleta de resíduos na cidade, também tem sido instrumentalizada contra a população da região. Além da destruição de casas, materiais de construção comprados pelos moradores, como tijolos, tapumes e cimento, tem sido saqueados.
População é duramente reprimida
Segundo Jaqueline, moradora do bairro há mais de 14 anos, a repressão policial e abandono do Estado sempre fizeram parte do cotidiano dos moradores do bairro: “É uma situação muito difícil quando temos que viver sob constante ameaça de acordarmos de manhã com um trator da prefeitura prestes a derrubar algo que demoramos tanto para conquistar. Nunca apresentam mandato nenhum, sempre chegam com violência e hostilidade contra os moradores, chegaram até a me ameaçar por estar gravando o acontecido”. Existe uma ação judicial dos moradores do bairro movida contra a prefeitura que não obteve resposta.
Devido à negligência com a política habitacional da cidade, o bairro, ocupado há mais de 20 anos, ainda não possui saneamento básico, iluminação e asfaltamento. Os próprios moradores compram holofotes e refletores para as ruas.
As condições precárias afetam principalmente as crianças, expostas ao esgoto e lixo, levando a casos graves de saúde, com internações recorrentes. Outra moradora relata que “ninguém vive nessa situação por que quer, todos aqui querem apenas condições mínimas de viver, sem ter que se preocupar com doença, despejo e violência.”
A falsa preocupação ambiental
A prefeitura mente para os moradores ao alegar que o motivo do despejo é devido às casas estarem em local de preservação ambiental. Ironicamente, no mesmo mês dos despejos, o prefeito anunciou parceria com a construtora do Grupo Peralta para a construção do novo CT (Centro de Treinamento) do Santos FC.
O empreendimento terá mais de 90 mil m², ou 9 hectares de floresta, com investimento inicial de R$10 milhões. O local escolhido fica aos pés do morro Xixová, na entrada da cidade de Praia Grande, área densamente ocupada pela mata atlântica.
Moradia não é mercadoria
No capitalismo, tudo o que é produzido tem como objetivo central a ampliação do lucro — e com a moradia não é diferente. Uma casa não é vista como um direito fundamental, mas como uma mercadoria, algo que deve gerar retorno financeiro.
A lógica do mercado imobiliário transforma um bem essencial para a vida humana em instrumento de especulação: terrenos e imóveis são comprados não para serem usados, mas para valorizarem e renderem lucros.
Grandes empreendimentos são erguidos em áreas centrais com preços inacessíveis, enquanto a classe trabalhadora é empurrada para as periferias, muitas vezes sem infraestrutura ou serviços básicos. Milhões de imóveis permanecem vazios servindo apenas para manter o valor de mercado.
Os aluguéis sobem mais rápido que os salários, os financiamentos duram décadas, e os imóveis são cada vez menores, apertados, desumanos.
Se vivêssemos em uma sociedade que priorizasse a vida humana em vez do lucro, todo trabalhador, toda mãe e todo pai de família teria garantido o direito de uma moradia digna, segura e bem localizada.
Moradores se organizam para lutar
Portanto, a construção do socialismo é a única alternativa que temos para sairmos dessa sociedade de exploração e violência. Por isso devemos construir cada vez mais espaços de luta e organização.
Diante disso, os núcleos da Unidade Popular de Praia Grande estão lutando junto aos moradores do Ribeirópolis para que o bairro seja regularizado e receba os serviços essenciais. Realizamos brigadas de porta em porta com o jornal A Verdade, panfletando, denunciando a situação e apresentando uma alternativa de luta por meio da organização popular.
Após as panfletagens, realizamos reuniões com os moradores, apresentando a UP e os movimentos sociais. Desde então, promovemos ações como a coleta de assinaturas do abaixo-assinado pela regularização do bairro e a realização de um cine-debate com o documentário “Lanceiros Negros Estão Vivos”, que retrata a luta dos moradores organizados pelo MLB em Porto Alegre. Estamos escrevendo também uma carta de reivindicações a ser levada à secretaria de urbanização. Essas e outras atividades estão reunindo cada vez mais moradores.
O Movimento Luta de Classes (MLC) de Praia Grande iniciou a mobilização dos trabalhadores da limpeza urbana (SESURB) para uma paralisação pelo fim dos despejos no Ribeirópolis. Seguiremos com as ações de luta, atos, tribunas populares até que a população seja ouvida, e as reivindicações sejam efetivamente atendidas, cumpridas e transformadas em conquistas concretas.
Além disso, o objetivo dos movimentos também é fortalecer e expandir o poder popular, filiando na UP e nos movimentos sociais, formando lideranças locais, construindo novos núcleos e fazendo mais lutas. Só assim venceremos!