Celebrada por seus camaradas como um exemplo de determinação, Ana Letícia provou que o engajamento coletivo é o caminho para vencer as barreiras impostas pelo sistema e as inseguranças pessoais.
Marcos Jobson e Caio Bentes | Belém (PA)
JUVENTUDE – Quando decidimos lutar, sabemos que, pelo caminho, iremos encontrar diversos obstáculos (financeiros, sociais e pessoais). Contudo, na militância cotidiana, o que nos faz continuar é a nossa capacidade de superá-los, tendo em vista a construção de uma nova sociedade e a superação desse sistema injusto. Ana Letícia era um grande exemplo disso.
Ao ser convidada para ingressar no Movimento Correnteza, demonstrou muita alegria. Mas, umas das primeiras coisas que falou é que era tímida demais, que ia ter dificuldades em vender o jornal A Verdade e passar em sala, como fazemos.
No decorrer de sua militância, a cada nova tarefa, demonstrava que podia superar suas dificuldades. Esteve presente em todas as brigadas nacionais do Jornal durante sua militância e, quando terminava sua cota, perguntava se tinha mais jornais para vender, e sempre dizia que gostava das brigadas porque adorava falar com as “senhorinhas” na parada de ônibus.
Ana também dizia que a tarefa que gostava mais na militância era a sua reunião de núcleo da UJR. Era assídua nas reuniões e, mesmo quando dizia que não queria, ou não tinha nada para falar, mudava de ideia e, logo em seguida, fazia ótimas falas.
Sempre demonstrando muita alegria e doçura no que fazia, no dia da eleição para os delegados ao Congresso da UNE na sua universidade, mostrava para todo mundo sua nova camisa do Movimento Correnteza. Também gostava bastante de fazer pulseiras de miçanga e, ao entrar na militância, fez uma pulseira com as letras “UJR”.
Esses pequenos gestos comunicaram para todos a felicidade que tinha no que estava fazendo. Dizia várias vezes que estava perdendo a timidez e se desenvolvendo socialmente cada vez mais e da melhor forma, porque estava utilizando de seu avanço a favor do povo, colocando sua capacidade de se comunicar e sua energia para construir um novo futuro para a humanidade. Ana falou que pensava que não iria ser aprovada e ingressar na universidade, mas, apesar de, às vezes, subestimar sua própria capacidade, sempre se desafiava e estava em movimento.
Muito participativa em seu curso, iniciou a graduação em Pedagogia na universidade já fazendo estágios, aprimorando-se cada vez mais no futuro que escolheu para si. Nas conversas, relembrava como era sua vida antes de ser militante e depois de ingressar nas fileiras da UJR. Ana dizia como era mais fácil passar pelas barreiras tendo uma vida coletiva, junto com os camaradas, pois se tornar militante é um exemplo de como abraçar uma nova vida que esteja longe dos vícios cotidianos, longe da ansiedade que o sistema capitalista impõe para nossa juventude, tornando o sentimento vazio e nossos problemas supérfluos, se comparados à luta revolucionária.
A vida de Ana Letícia é uma grande mensagem de ternura e alegria nas tarefas de uma militante comunista, uma mulher revolucionária que não se deixou limitar pelas dificuldades que o capitalismo impõe para as mulheres que desejam lutar. Sempre será um exemplo de que podemos fazer mais pela revolução. Ana demonstrou o quanto temos que acreditar no desenvolvimento de cada companheiro e companheira, que não devemos subestimar a capacidade dos que lutam ao nosso lado, que, na coletividade, podemos revolucionar nossas vidas para mudar essa sociedade.
Cada passo é importante, cada fala feita em uma reunião, cada jornal vendido, cada esforço evidencia que estamos mais perto de uma sociedade em que não haja ricos nem pobres, em que a universidade seja aberta a todos e todas, que não haverá mais fome, nem as mulheres se sintam incapazes de lutar e, sobretudo, em que mais mulheres como Ana Letícia possam existir plenamente com sua doçura e felicidade.
Ana Letícia (22), Leandro Dias (21) e Welfesom Alves (25), estudantes da UFPA, faleceram no dia 16 de julho, num acidente na estrada, quando se deslocavam de Belém para Goiânia (GO) para participar do Congresso da UNE.
Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade