Dados revelam que, enquanto a Uber anuncia lucros bilionários, seus trabalhadores, sem direitos trabalhistas, pagam com a própria vida, engrossando as estatísticas de fatalidades.
Igor Barradas | Macaé (RJ)
TRABALHADOR UNIDO – Nos últimos anos, o Uber Moto se tornou uma opção frequente nas cidades brasileiras. Diante do colapso do transporte público e dos preços elevados dos carros por aplicativo, muitos recorrem às motos para se deslocar. Porém, essa “solução rápida” tem um custo altíssimo: cada vez mais trabalhadores morrem para sustentar os lucros de uma empresa bilionária.
Dados do DataSUS e do Detran-SP mostram que motociclistas respondem por mais de 35% das fatalidades no trânsito urbano. Desde a expansão acelerada do Uber Moto durante a pandemia, esses índices não param de subir. Quanto maior o volume de corridas feitas por profissionais sem direitos trabalhistas, maior o faturamento da companhia, mesmo que isso custe vidas.
O lucro que tira vidas
O Uber Moto é a face brutal do apodrecido sistema capitalista que transforma um direito fundamental, o transporte, em mercadoria arriscada. Sem vínculo formal, sem garantias mínimas, o trabalhador está à mercê do perigo. Se se machuca, não tem suporte; se morre, é simplesmente substituído. Em 2024, a Uber anunciou lucros bilionários globais enquanto seus “parceiros” brasileiros pagam o preço nas ruas.
Alguns dizem que esses trabalhadores “escolheram” essa atividade. Mas quando as opções são desemprego, fome ou morte, falar em escolha é um cinismo. É a lógica cruel do sistema capitalista que força a precarização.
A empresa não oferece qualquer apoio aos familiares, não cobre despesas com funerais. Apenas mantém o funcionamento do sistema, trocando vidas como peças descartáveis.
Doação de órgãos
Outro lado chocante dessa realidade é que motociclistas de aplicativo estão entre os principais doadores de órgãos no Brasil. Jovens vítimas de acidentes fatais, com morte encefálica, têm seus órgãos utilizados para transplantes.
Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), mais da metade dos doadores com morte encefálica tem entre 18 e 35 anos – faixa etária predominante entre quem trabalha em apps de transporte e entrega.
Cidades desenhadas para poucos
Enquanto a burguesia circula em carros blindados e helicópteros, a maioria se arrisca em vias mal cuidadas, escuras e perigosas. A cidade é projetada para atender aos interesses dos mais ricos, não para proteger os que trabalham.
Nenhuma “tecnologia” ou aplicativo jamais resolverá essa desigualdade. Só a luta coletiva e a organização popular podem transformar essa realidade.
Lutar pela vida é urgente
Só um sistema 100% público, com tarifa zero, seguro e controlado pelos próprios trabalhadores pode garantir mobilidade digna. Enquanto o transporte for negócio, vidas continuarão sendo perdidas.
Nenhum trabalhador deveria arriscar a vida para ir ao trabalho. Construir uma sociedade socialista, disputar consciências e garantir passe livre são passos essenciais.
Porque, a cada queda de moto e a cada corpo no asfalto, cresce a pergunta que não quer calar: quantas mortes ainda serão pagas para sustentar esse lucro?
Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade