Modelo híbrido de trabalho impõe exigência desumana por produtividade à funcionários do banco Itaú. Trabalhadores se organizam para lutar contra as demissões injustificadas e a exploração
MLC | São Paulo
TRABALHADOR UNIDO – O Itaú Unibanco (o maior do país) registrou um lucro recorde de R$ 41,4 bilhões no começo deste ano. Mesmo assim, realizou uma demissão em massa de aproximadamente mil trabalhadores neste mês de setembro. A justificativa: “incompatibilidade” entre a marcação de ponto e a atividade registrada nas plataformas de trabalho durante o período de atuação remota ou híbrida. A ação gerou indignação entre os funcionários do banco e o Sindicato dos Bancários de São Paulo, que denuncia a falta de transparência e o impacto desumano da medida em um cenário de alta lucratividade da empresa.
Demissão sem aviso
Os trabalhadores desligados relataram que não foram notificados ou advertidos previamente sobre qualquer problema de produtividade. Muitos foram pegos de surpresa, sendo chamados em reuniões matinais com seus coordenadores para receber o comunicado de desligamento e, na sequência, encaminhados para os procedimentos de desvinculação.
Foi apurado que o plano inicial do Itaú envolvia o desligamento do dobro de funcionários, cujas atividades foram classificadas como “ociosas” no modelo remoto. No entanto, não foram divulgados os critérios exatos utilizados para selecionar o grupo de demitidos.
Os relatos dos trabalhadores demitidos escancaram uma realidade contraditória: muitos afirmam ter trabalhado em horários estendidos, incluindo noites, feriados e finais de semana, sem folgas compensatórias. Além disso, alguns haviam recebido recentemente avaliações de desempenho positivas, premiações por mérito e até promoções, o que torna a justificativa de “baixa produtividade” ainda mais questionável.
“Modelo Itaú”
Essa movimentação não é isolada. Nos últimos anos, o Itaú tem implementado uma série de mudanças em sua política de trabalho, dentre elas:
Final de 2021: Inicia estudos para o retorno ao trabalho presencial. No ano seguinte, já foram realizados alguns testes e adotaram um modelo voluntário, onde as equipes poderiam eventualmente trabalhar junto no presencial.
Maio de 2023: Corte de cerca de 150 funcionários de sua empresa de tecnologia ZUP Innovation.
Setembro de 2023: Banco implementa o regime de trabalho híbrido, exigindo a presença física no polo de trabalho pelo menos duas vezes por semana. Este modelo, conhecido popularmente como “Modelo Itaú”, tornou-se uma referência no mercado.
Setembro de 2024: Um novo corte, similar ao mais recente, mas ocorreu de forma mais discreta, também sob o argumento de “falta de ética dos trabalhadores em relação ao preenchimento do ponto com a jornada”.
Lucro recorde
A razão para essas demissões é a busca incessante por lucros cada vez maiores para os investidores do banco. Somente na última década, o lucro líquido do Itaú é estimado em quase R$ 300 bilhões.
Para ilustrar seu crescimento financeiro: em 2013, o lucro líquido reportado pelo banco foi de R$ 15,6 bilhões. Já em 2014, esse valor cresceu para R$ 20,6 bilhões (mais de 32%). No começo deste ano, Itaú Unibanco apresentou mais um novo recorde de lucro líquido entre os bancos brasileiros, atingindo R$ 41,4 bilhões, um crescimento de 16,2% em comparação ao ano anterior.
Paralelamente à redução de custos com pessoal, os trabalhadores que permaneceram no banco relatam um clima de intensa pressão por resultados, com a gestão afirmando que a reposição dos funcionários cortados não será necessária, mantendo prazos e metas já considerados inatingíveis.
A resposta do Sindicato
O Sindicato dos Bancários de São Paulo classificou a medida como uma “ilegal exposição de centenas de trabalhadores”. Em 11 de setembro, o Sindicato realizou uma plenária online que reuniu mais de 400 trabalhadores demitidos.
Durante a atividade, foram anunciadas as próximas ações, que incluem o ingresso de uma ação judicial por quebra do Acordo Coletivo por realizar uma demissão em massa sem negociar com o sindicato e uma ação por danos morais, reforçando que somente a categoria unida em prol da luta é capaz de mudar essa realidade.