Com mais de 25 anos de circulação, o jornal A Verdade se consolida como o único periódico popular de alcance nacional no Brasil, expandindo sua presença para novas cidades. A logística do jornal é parte fundamental desse resultado.
Larissa Mayumi e Maria Alice Galvão | Comissão de Logística (SP)
JORNAL – O jornal A Verdade é impresso e distribuído há mais de 25 anos e cresce sua tiragem e seu alcance. Está presente em todas as regiões do país. É o único periódico popular com alcance nacional. A cada edição, chega a novas cidades nos interiores, litorais e nas periferias das grandes cidades.
Para garantir esse alcance, existe um trabalho por vezes invisível: separar, contar e enviar os jornais através dos Correios e transportadoras, inclusive, de avião. Quando chega aos estados e cidades, ainda há a tarefa de buscar os pacotes e organizar a distribuição para que chegue às mãos dos brigadistas. Essa logística não pode ser subestimada, pois é ela quem garante que a política do Jornal chegue a cada militante e apoiador.
Afinal, o que é a logística?
Em um país continental como o Brasil, a logística é essencial para a circulação de mercadorias e movimenta milhões em lucros para empresas privadas. Os Correios, maior empresa do setor, é uma empresa estatal que atende todo o território nacional e, justamente por isso, é constantemente ameaçada de ser privatizada. A distribuição do nosso Jornal faz parte desse cenário, pois depende dessas empresas e é diretamente impactada pelas condições de trabalho dos que atuam nelas.
Construir vínculos com os trabalhadores que atuam nesse processo e apresentá-los à imprensa revolucionária é, portanto, uma tarefa importante – parte fundamental da organização cotidiana do povo pelos comunistas. Afinal, queremos que os trabalhadores realizem seu trabalho de forma consciente, e não alienada.
Vando de Azevedo, responsável pelo envio dos jornais da transportadora de São Paulo para outros estados, resume bem esse sentimento: “Acompanho todas as edições. Estamos remando para o mesmo lado, a gente é da mesma força. A minha missão é fazer [o jornal] chegar no país inteiro!”.
Em Sertãozinho, uma cidade operária no interior do Estado de São Paulo, os brigadistas do Jornal criaram um correio vermelho¹ para entregar os jornais aos operários e trabalhadores. Eles se organizam para rodar a cidade de bicicleta nos horários de intervalo do trabalho, no raiar do dia e até mesmo tarde da noite. “Sempre entrego o jornal em uma hamburgueria, para uma das trabalhadoras, e, em menos de duas semanas, outros trabalhadores começaram a se interessar pelo jornal, querendo ajudar a construir nossa luta”, relata Breu, brigadista do Jornal.
A importância da Comissão de Logística
São Paulo trabalha com a maior tiragem de A Verdade entre os estados do Brasil. Para dar conta desta demanda, criamos uma Comissão de Logística responsável por organizar a distribuição e garantir o envio dos jornais para mais de 50 cidades paulistas e para estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Antes da chegada dos jornais, a comissão realiza uma preparação: propõe a cota de exemplares para cada região do estado; confere os endereços de envio; prepara todo o material e a mobilização necessários para o dia da chegada dos jornais da gráfica, etc.
Os jornais chegam à Capital, onde uma equipe cuida da contagem e separação dos volumes. É fundamental garantir a regularidade dessa equipe, com o objetivo de especializar e profissionalizar os militantes. Ao repetirem o processo, as pessoas acumulam experiência, identificam erros e acertos com mais facilidade e podem propor novos métodos de trabalho, otimizando o tempo para que os jornais sejam enviados às cidades. O objetivo é que os jornais cheguem em até 24 horas a cada uma das 50 cidades e, no máximo, em 48 horas estejam nas mãos de todos os militantes.
Nos lugares mais organizados, a distribuição é feita por meio de banquinhas montadas nos centros das cidades ou em locais de grande circulação, como em frente a estações de trem e metrô, e em universidades, como a UFABC e a Unicamp. Nesses pontos, os jornais são contados, e os militantes retiram suas cotas. As banquinhas também realizam a venda de exemplares e, em muitos casos, expõem e vendem livros das Edições Manoel Lisboa.
Durante a distribuição, os brigadistas fazem agitações com megafones e caixas de som, divulgando as denúncias da nova edição do Jornal entre o povo. Isso ajuda a criar o clima de que uma nova edição acabou de chegar e mostra a importância de difundirmos o quanto antes as ideias defendidas naquela nova quinzena. Em algumas cidades, o dia da chegada é tão importante que nenhuma outra atividade é marcada além da distribuição.
O Jornal como organizador coletivo
Vladimir Lênin, principal líder da Revolução Socialista na Rússia, compreendia o jornal como uma ferramenta central de organização política¹. Para ele, não se tratava apenas de informar, mas de construir um instrumento que unificasse a linha política e orientasse a ação dos militantes e das massas. Inicialmente, o jornal Iskra cumpriu esse papel, depois outros, até chegar ao Pravda (em russo, “Verdade”), instrumento decisivo para os bolcheviques organizarem o Partido e amplos setores operários para a tomada do poder, em 1917.
Tamanha era a importância do jornal para Lênin, que ele chegou a mudar seu local de exílio para garantir a melhor direção e recebimento do Pravda (Lênin, sua vida e sua obra – Edições Manoel Lisboa), defendendo que sua distribuição fosse feita com a mesma agilidade dos jornais da burguesia. O jornal deveria chegar ao povo o quanto antes, porque cada edição significava uma intervenção direta na luta de classes.
Inspirado nesse legado, o jornal A Verdade deve buscar cumprir esse mesmo papel no Brasil de hoje: ser o organizador coletivo do Partido e dos movimentos populares. E, para isso, a logística é fundamental. A estrutura construída ao longo dos anos para garantir que o jornal chegue rapidamente a centenas de cidades em todo o país não serve apenas à sua própria circulação, pode se tornar uma base logística que fortalece o conjunto da organização.
Nas últimas eleições parlamentares, por exemplo, foi graças a essa rede que conseguimos distribuir mais de 4 milhões de panfletos no Estado de São Paulo. Essa mesma estrutura serve aos movimentos, às campanhas de arrecadação, às campanhas de solidariedade e às grandes mobilizações de rua.
Luta ideológica
A distribuição do jornal também é um trabalho de fortalecimento ideológico. Em uma sociedade dominada pela ideologia burguesa, cada exemplar entregue é uma disputa política. Receber o jornal a tempo permite que o militante se aproprie da linha política do Partido e se fortaleça com suas palavras de ordem para atuar de forma consciente.
“Temos exemplos de companheiros que estavam afastados ou doentes, e mesmo durante a pandemia, que demos um jeito de o jornal chegar até eles. Isso fortalece muito, pode resgatar vários companheiros. Levar a cota individual é uma missão especial”, afirma Jorge Ferreira, da redação em São Paulo.
Onde houver dificuldade na chegada do jornal, é ali que devemos investir tempo e criatividade. O trabalho de separar, embalar, enviar e distribuir não pode ser visto como uma tarefa secundária. Pelo contrário: é parte central da construção de uma organização forte, com unidade de ação e consciência política.
Leia, distribua, venda e fortaleça o jornal A Verdade!
- Trecho do artigo Por onde começar?, em que Lênin apresenta de forma precisa esta ideia:
Um jornal, todavia, não tem somente a função de difundir ideias, de educar politicamente e de conquistar aliados políticos. O jornal não é somente um propagandista e agitador coletivo, mas também um organizador coletivo. Sobre este último aspecto, pode-se comparar o jornal com a estrutura de andaimes que envolve o edifício em construção, mas permite adivinhar seus traços, facilita os contatos entre os construtores, ajudando-lhes a subdividir o trabalho e a dar conta dos resultados gerais obtidos com o trabalho organizado. Através do jornal e com o jornal se formará uma organização permanente, que se ocupará não somente do trabalho local, mas também do trabalho geral sistemático, que ensinará a seus membros a acompanharem atentamente os acontecimentos políticos, a avaliar a importância e a influência de diversos estratos da população, a elaborar quais métodos permitem ao partido revolucionário exercitar sua influência sobre os mesmos. Até mesmo as tarefas técnicas de assegurar ao jornal fornecimento regular de recursos e uma distribuição eficiente obrigará a criar uma rede de distribuidores e correspondentes locais de confiança do partido único, que deverá manter-se em contato vivo uns com os outros, conhecer a situação geral, habituar-se a executar regularmente uma parte do trabalho para toda a Rússia, a experimentar as próprias forças organizando hora esta, hora aquela ação revolucionária. Esta rede será o esqueleto exatamente da organização de que aqui precisamos: suficientemente grande para estender-se por todo o país; suficientemente ampla e variada para efetuar uma rigorosa e detalhada divisão do trabalho, suficientemente temperada para saber cumprir inflexivelmente o seu trabalho em todas as circunstâncias, em todas as reviravoltas e em todos os imprevistos […].
Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade