Prefeitura promove colapso na Saúde, com falta de recursos e atrasos salariais. A crise revela a má administração e o descaso da oligarquia com a população.
Cleber Gordiano| Redação PB
brasil- Principal oligarquia de Campina Grande, com influência em todo o estado da Paraíba, a família Cunha Lima, que está em seu quarto membro diferente na gestão da Prefeitura, é bem mais reconhecida por se envolver em escândalos (dentro e fora da política) do que por práticas de boa gestão.
Ronaldo Cunha Lima, patriarca da família, filho de um ex-prefeito de Araruna, também no interior do estado, ficou conhecido nacionalmente em 1993, quando, enquanto ocupava o cargo de governador da Paraíba, desferiu três tiros em um adversário político que acusava seu filho, Cássio Cunha Lima, de corrupção na Sudene. Este último – que assim como o pai também foi prefeito e senador – teve o seu mandato de governador cassado por ter distribuído cheques para comprar votos na eleição de 2008 (em 2020, a Justiça mandou Cássio devolver mais de 1 milhão de reais acumulados indevidamente enquanto era senador).
Tragédia anunciada
A bola da vez do clã é Bruno Cunha Lima (União Brasil), sobrinho-neto de Ronaldo e atual prefeito de Campina Grande, segunda maior cidade do estado, em seu segundo mandato. Conhecido pela postura intransigente em sua relação com os servidores, Bruno soma, em seu mandato, diversas crises de gestão, especialmente na Secretaria de Saúde. Após tentar privatizar a atenção básica no município com o malfadado programa “Saúde de Verdade”, o prefeito viu a estrutura de saúde do município colapsar.
Os sinais mais visíveis da erosão começaram a aparecer ainda em 2023, quando o Conselho Regional de Enfermagem da Paraíba (Coren-PB) realizou interdição ética em cinco Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da cidade. Na mesma época, um apagão na principal maternidade do município forçou a transferência às pressas de mães e recém-nascidos para outras unidades hospitalares. Em março de 2025, uma mulher morreu na mesma maternidade, conhecida pela sigla ISEA (Instituto de Saúde Elpídio de Almeida), vítima de negligência médica e violência obstétrica – a família de Maria Danielle Cristina Morais Sousa busca respostas até hoje. (Pouco antes do fechamento dessa matéria, em 20 de outubro, aconteceu mais uma morte no ISEA: Gabriella Alves Rodrigues dos Santos, 25 anos, professora do ensino fundamental, não resistiu a uma parada cardíaca após realizar uma cesariana).
Crise sem fim
Nos últimos meses, servidores da área realizaram diversas manifestações e até uma greve por conta dos reiterados atrasos no pagamento dos seus salários. Além disso, hospitais que mantêm convênios com a Prefeitura têm ameaçado paralisar os serviços e acionado a Justiça para receber valores não quitados: só a FAP (Fundação Assistencial da Paraíba) cobra uma dívida de aproximadamente 10 milhões; antes, já havia sido determinado pela Justiça o repasse de 17 milhões a um hospital pertencente a uma outra poderosa família do interior do estado: os Gadelha, também influentes na política, proprietários de uma rede de TV e de uma faculdade privada e com membros suspeitos de envolvimento em grilagem de terras.
Em 21 de outubro, o secretário de Finanças do município, Felipe Gadelha (o sobrenome não é coincidência!), afirmou, em entrevista, que todo o orçamento anual da Saúde de Campina Grande (R$165 milhões) já havia sido utilizado em nove meses: na prática, a pasta dependerá, até o fim do ano, da liberação de emendas parlamentares federais para pagar seus funcionários – até a data da entrevista do secretário, os servidores contratados não haviam recebido os seu salários referentes a outubro.
Para piorar a situação, a má gestão dos Cunha Lima na Prefeitura fez com que Campina Grande tivesse recursos do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) bloqueados por conta de pendências junto ao Tesouro Nacional. Enquanto não corrigir tais pendências, o município não receberá nenhum repasse federal, o que compromete ainda mais a já cambaleante Saúde da cidade.
No dia 22, a Câmara Municipal de Vereadores aprovou a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar possíveis irregularidades na gestão dos recursos destinados à Saúde em Campina Grande. Os vereadores da oposição reforçaram a necessidade de apurar as causas do descontrole orçamentário da pasta, que resultaram na atual situação de calamidade.
Basta de negligência com a Saúde
A crise crônica numa área essencial como a Saúde escancara a incompetência, a irresponsabilidade e o descaso da gestão Cunha Lima com o povo pobre de Campina Grande. O projeto de sucateamento da Saúde só serve aos hospitais e planos privados e coloca em risco a população que necessita dos serviços públicos. Basta de especular com a vida das pessoas! A saúde é um direito fundamental, não uma mercadoria, como a burguesia a enxerga. Lutar pelo fortalecimento do SUS e por uma saúde pública eficiente é um dever de todo socialista. A Saúde de Campina Grande pede socorro, e só a luta e a organização popular poderão acabar com o descaso.