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sábado, 18 de outubro de 2025

Manifestação no aniversário de Campina Grande (PB) denuncia projeto da Prefeitura para despejar centenas de famílias

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Moradores criticam a falta de diálogo da Prefeitura e exigem soluções concretas de moradia para diversos bairros que estão ameaçados após um projeto ser anunciado sem ouvir os moradores locais. 

Redação PB


 

No marco de 161 anos da cidade de Campina Grande (PB), dezenas de famílias do bairro do Tambor tomaram uma das maiores avenidas da cidade em protesto pelo direito à moradia. A Prefeitura da cidade, que tem à frente o oligarca Bruno Cunha Lima, do União Brasil, cuja família soma mais de 20 anos ininterruptos no comando da gestão municipal, além de já ter ocupado o Governo do Estado, o Senado e a Câmara Federal, tem sido alvo de críticas pela população, sobretudo por sua política antipovo.

O poder municipal começou a execução das obras para um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) que atravessará 15 quilômetros, cortando 11 bairros, sobre os velhos trilhos de um trecho da já desativada Ferrovia Transnordestina. Nessas décadas de desativação, centenas de famílias construíram suas casas às margens da malha ferroviária e, hoje, veem suas moradias ameaçadas pela construção do VLT. O Jornal A Verdade entrevistou Maynara Santos, moradora do bairro do Tambor e uma das lideranças populares nessa luta por moradia.

 

A Verdade – Mesmo antes da proposta de construção do VLT, já havia tensão entre as famílias que moram perto da linha ferroviária e a Prefeitura. Como era essa relação?

Maynara Santos – A gente que nasceu e se criou às margens da linha do trem vivemos sempre nessa expectativa de que um dia seríamos “mexidos”. Porque essa área aqui na realidade é Federal, é da Transnordestina, sendo que ela começou a ser ocupada, pelo menos aqui na região do Tambor, entre os anos 1950 e 1960. Ou seja, tem muitos anos que essas famílias estão ocupando aqui e essas famílias tiveram seus filhos, criaram seus filhos e seus filhos tiveram filhos, então criaram netos e bisnetos, enfim, são gerações nessa ocupação. Até que essas novas gerações ocuparam o lado oposto da malha ferroviária desde 2008-2009, e o poder público sempre esteve ciente dessa ocupação. Até porque nós temos vários serviços públicos aqui, então o aval do Estado foi dado para que essas famílias ocupassem essas margens. E aí a gente vê um grande descaso, porque a Prefeitura já era pra ter dado uma solução há muito tempo para essas famílias que estão aqui há décadas. Sempre houve essa tensão entre o poder público e os setores populares em luta por moradia, que não tiveram seu direito garantido por mais que tenham se passado décadas.

 

A Verdade- Faz poucos meses desde o anúncio do VLT. Como foi esse anúncio para as famílias que moram na região que vai ser afetada e quais as propostas da Prefeitura sobre a questão da moradia?

Maynara Santos- A gente percebe que as decisões sobre o futuro da cidade, passam longe das mãos e vozes populares. Então a população de Campina Grande em geral, e as populações que ocupam as margens da malha ferroviária em específico, assistiram o anúncio oficial desse VLT que foi feito no dia 11 de julho pelo Governo Federal junto à Prefeitura Municipal. E, desde que esse anúncio foi feito, não tivemos uma posição oficial da Prefeitura sobre o destino dos moradores. Estão acontecendo discussões na Justiça Federal, em que se formou uma comissão de soluções funcionais para decidir o futuro dessas famílias, porém sem nenhum tipo de representação jurídica [das famílias] e nenhuma representação popular das comunidades presentes nesse processo. Nessas audiências, descobrimos que existem ações de reintegração de posse contra os moradores. Diante disso, a Prefeitura não enviou nenhum representante legal para as audiências, mas deu uma proposta inicial de aluguel social, que a gente desde já rejeita, porque não é uma solução viável – até pelo histórico e experiências que outras comunidades já viveram de aluguel social, o poder público paga uma ou duas vezes e depois a população fica na mão.

 

A Verdade- Fala-se muito sobre a qualidade de vida, as boas condições de se viver na Paraíba, toda uma propaganda se faz em torno dessa questão mas, quando vemos a realidade, a coisa é bem diferente. Por que as famílias passaram a ocupar esse espaço?  

Mayara Santos- A gente ocupou essa área por uma necessidade concreta, real, que é a falta de moradia, e muitos ocuparam para sair do aluguel. Então a saída para o aluguel social não é viável para a gente, muito menos uma indenização com um valor que a gente não compra uma moradia na rua seguinte, então a gente quer uma solução concreta que diga respeito a nossos interesses, que seria no caso a moradia digna. Então não adianta construir um conjunto habitacional e colocar a gente no final da cidade, onde existem poucas oportunidades de emprego e onde as pessoas estão longe dos laços que já construíram na comunidade, porque a comunidade não é só pobreza: tem uma vida orgânica e uma vida cotidiana em que a pessoa já está inserida, as redes de solidariedade que foram construídas aqui, as pessoas que moram perto umas das outras, as redes de trabalho, o ganha-pão das pessoas. Essa é uma exigência da gente, que queremos a solução da moradia, mas não qualquer solução, não um tapa-buraco: a gente quer uma moradia que diga respeito aos laços que a gente já construiu no lugar em que vivemos.

 

A Verdade – Quase de imediato, foi iniciada uma mobilização em defesa da moradia. Quais são as perspectivas da luta?

Maynara Santos – A gente vem tentando se organizar da maneira que a gente está conseguindo, dentro das condições que temos. Temos uma comissão de moradores aqui do bairro para encaminhar as questões mais organizativas e temos tentado construir uma rede de solidariedade não só com os moradores, mas também com os moradores de outras localidades para que esse caldo engrosse e a gente de fato consiga chamar atenção da sociedade civil, do poder público, dos movimentos sociais, das lideranças populares de esquerda e tudo mais. Inclusive, nesse sentido, temos uma audiência marcada na Câmara de Vereadores no dia 5 de novembro e a intenção é unir os moradores, levar o pessoal até o Centro da cidade para a gente fazer um grande movimento e mostrar que não estamos alheios à situação em que estamos inseridos, e que queremos uma solução concreta. Não ao aluguel social, não a moradia para amanhã ou para depois de amanhã! Moradia já!

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