São nas jornadas “Seremos como Che” que conseguimos compreender a importância do trabalho voluntário para minar o individualismo e trabalharmos para sermos sempre os melhores que podemos ser.
Isabele Enes Ribeiro| Paraíba
JUVENTUDE- Anualmente a União da Juventude Rebelião realiza a sua Jornada de Trabalho Voluntário “Seremos Como Che”, onde nossa militância se reúne em diferentes lugares do Brasil para embarcar em ações que prezam pela solidariedade, voluntarismo e coletividade. Na Paraíba, iniciamos nossa jornada em João Pessoa no último dia onze de outubro. Na ocasião, nossa militância se reuniu na comunidade São Rafael para realizar um mutirão de limpeza e ajudar na construção de uma Horta Comunitária e de um Biodigestor.
A ação se concentrou na sede do Instituto Voz Popular (IVP) e contou com a presença de outros movimentos sociais, como o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas e o Movimento de Mulheres Olga Benario. O Instituto Voz Popular existe há 25 anos e atua na Comunidade São Rafael promovendo o acesso à cultura, esporte, lazer e educação com crianças, adolescentes e idosos da região através de oficinas socioeducativas e temáticas, visando o fortalecimento comunitário.
A comunidade São Rafael sofre há 10 anos com o Projeto João Pessoa Sustentável, que pretende despejar também outras oito comunidades do complexo beira-rio para construção de um parque linear às margens do rio Jaguaribe. Serão cerca de 226 famílias removidas de suas casas com a justificativa de que em 100 anos a comunidade irá alagar e que, por isso, é necessário a sua expropriação. Segundo Daniel Pereira, fundador do Instituto Voz Popular, “a prefeitura faz um projeto para daqui 100 anos remover famílias, mas o mesmo projeto não remove o Manaíra Shopping que cobriu o rio, tá colado, mas isso ninguém mostra.”
Foi através da importância política e de resistência que a comunidade São Rafael representa para a cidade de João Pessoa que a União da Juventude Rebelião escolheu esse local para iniciar a sua 5ª Jornada de Trabalho Voluntário “Seremos Como Che” no estado da Paraíba.
O trabalho voluntário combate o individualismo
O trabalho voluntário era muito incentivado por Che Guevara e o objetivo de nossa jornada é reavivar o legado de Che colocando em prática suas ideias, sua abnegação na construção de um mundo socialista e o espírito do sacrifício como parte da moral comunista. No trabalho voluntário praticamos atos de solidariedade e combatemos a ideia burguesa de que devemos olhar apenas para os nossos problemas.
Muito pelo contrário, no trabalho voluntário vemos que podemos fazer por nossas mãos tudo aquilo que nos é direito, assim como a ideia de que somos um coletivo e podemos agir e resolver nossos problemas de maneira conjunta. Esse trabalho não deve ser feito apenas uma vez por mês ou por ano, mas devemos nos dedicar para exercer ele nas horas de folga, nos sábados e domingos de forma continua.
Em João Pessoa estamos no nosso terceiro ano contribuindo para a comunidade São Rafael e com o Instituto Voz Popular. “O trabalho que realizamos hoje na comunidade foi uma experiência incrível, do início ao fim. Foi lindo ver e sentir o entusiasmo de todos ali presentes, ninguém fazendo corpo mole, todo mundo dando o sangue e ao terminar, olhar para o que fizemos, e saber que aquele trabalho será muito bem usado por toda a São Rafael. O trabalho voluntário serve também para lembrar que nossa luta é pelos mais explorados na sociedade capitalista, neste caso, a classe trabalhadora.” afirma Davi, estudante do IFPB Campus Cabedelo e militante da UJR. Já para Lohan, militante secundarista da UJR, “a atividade de sábado serviu como inspiração para ver como todos os camaradas se conectaram para alcançar um objetivo comum e como cada mínimo esforço foi fundamental para ajudar na obra”.
É preciso que possamos dar outra dimensão ao que o trabalho significa dentro do sistema capitalista e que possamos transformar este em um meio de libertação do ser humano, bem como em instrumento de luta para a construção do bem comum. Na atividade da São Rafael vimos esse exemplo, para além da nossa militância, pessoas da comunidade se somaram, inclusive idosas, nos seus mais de 60 anos participando do mutirão, escavando e recolhendo orgânicos para cobrir a horta comunitária.
Che Guevara e o exemplo de ser humano que devemos querer ser
Certa vez em uma entrevista para Carlos Quijano, Che Guevara afirmou que os dois pilares para a construção do socialismo e, consequentemente do comunismo, era o ser humano novo e o desenvolvimento da técnica. Esse tal “ser humano novo” não se expressa no símbolo unicamente de uma pessoa, mas no avanço da consciência dos trabalhadores, que juntos lutam pela construção de uma nova sociedade. Alcançar cada vez mais a consciência e firmeza ideológica, deixando para trás os sentimentos de egoísmo, arrogância e individualismo, entendendo que é preciso o trabalho político, orientado por uma vanguarda revolucionária, para transformar o sistema que vivemos.
É nesse sentido que devemos pautar nossas lutas e a jornada “Seremos Como Che”. Afinal, se queremos ser como Che é preciso que sejamos um exemplo para todos, que possamos ser os primeiros a chegar e os últimos a sair, assim como sermos exemplo no modelo do trabalho voluntário, da modéstia e da disciplina. Os 58 anos de sua imortalidade devem servir como motor para derrubarmos o capitalismo que se alimenta da exploração da nossa classe, promovendo guerras de rapina e precarização da nossa condição de vida. Devemos mostrar que o povo é consciente e pode transformar sua própria realidade.
Seremos como Che! Que tenhamos a esperança de que o povo pode avançar, liquidar a mesquinhez humana, se aperfeiçoar com o trabalho voluntário e acima de tudo, como Che disse: que possamos ser essencialmente humanos, ser tão humanos que nos aproximamos do melhor do humano.