Em preparação para o 25 de novembro, o Movimento Olga Benario convoca para a construção de núcleos de luta em fábricas e bairros, visando transformar a indignação em organização política.
Coordenação Nacional do Movimento de Mulheres Olga Benario
MULHERES – De acordo com o IBGE, as mulheres dedicam, em média, 21,5 horas nos afazeres domésticos. As que estão empregadas, além das tais horas limpando, cozinhando, lavando em suas próprias casas, possuem uma jornada de trabalho de cerca de 47 horas semanais.
Mães com filhos pequenos gastam mais 15 horas semanais no cuidado com eles, além das horas dedicadas aos afazeres domésticos e em seus empregos, segundo a pesquisa Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado da Fundação Perseu Abramo e Sesc.
Como se já não bastasse gigantesca carga de trabalho, quase não restando tempo para descanso, de acordo com o 3º Relatório de Transparência Salarial, do Governo Federal, de abril de 2025, as mulheres recebem 21% a menos que os homens. E seguimos como o 5º país no mundo em feminicídios – diariamente, quatro mulheres são assassinadas por serem mulheres.
Por tudo isso, é necessário construir um movimento revolucionário entre as mulheres trabalhadoras. Com um trabalho que esteja profundamente ligado a suas necessidades mais sentidas. Um amplo movimento de massas que escancare as contradições deste sistema odioso que nos explora e mata, e que apresente uma perspectiva de nova vida para as mulheres do povo.
Ser uma mulher no capitalismo é trabalhar sem descanso, muitas vezes, em péssimas condições, é sofrer assédio em escolas e universidades. Se formos mães, os desafios são ainda maiores. Na universidade ou na fábrica, não há espaço seguro para deixarmos nossas crianças.
Cresce a violência
Vejamos como é grave a situação das mulheres: no Brasil, existem 5.570 municípios. Destes, apenas 568 possuem Delegacias Especializadas no atendimento às mulheres. Pior: apenas 56 funcionam de maneira ininterrupta.
Segundo o Mapa Nacional da Violência de Gênero, levantado pelo Observatório da Mulher Contra a Violência, nos primeiros seis meses deste ano, foram registrados 718 feminicídios no país e cerca de 34 mil estupros, uma média de 187 por dia.
Sofremos violência e não temos onde denunciar! Além de trabalharmos em jornadas extenuantes, somos responsabilizadas sozinhas pelo cuidado de nossas crianças e idosos. Vivemos num país no qual podemos ser mortas por sermos mulheres, e o Estado não oferece condições seguras para que possamos nos proteger daqueles que querem nos matar. Não é raro sabermos pelos jornais que muitas mulheres vítimas de feminicídio tinham medida protetiva contra seus assassinos.
Por tudo isso, o Movimento de Mulheres Olga Benario tem debatido a necessidade de se transformar num movimento para as amplas massas das mulheres trabalhadoras.
25 de novembro é dia de luta
Dia 25 de novembro é o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, e também é conhecido como Dia Latino-Americano e Caribenho pela Não-Violência contra a Mulher. Essa data homenageia as irmãs Mirabal, três mulheres assassinadas na República Dominicana, em 1960, por sua oposição ao ditador Rafael Trujillo.
Para desenvolver um trabalho mais profundo entre as mulheres, e tendo em vista a data do 25 de novembro, como um importante dia para denunciar toda essa exploração e violência, iniciaremos, desde já, uma atuação com foco nos territórios.
A meta é realizarmos manifestações em portas de fábricas, bairros, escolas, universidades. Porém, esse trabalho só dará frutos e terá continuidade se começarmos já e não pararmos após o dia 25. Precisamos realizar panfletagens, visitas em locais que atendem mulheres, como postos de saúde, Centros de Referência em Assistência Social e Delegacias para conhecer a realidade e desenvolver propostas concretas.
A maioria das mulheres se reconhece nas nossas bandeiras de luta e concordam com as denúncias que fazemos. Mas ainda falamos para poucas, realizamos reuniões em lugares distantes ou, muitas vezes, as desmarcamos.
É chegada a hora de desenvolvermos um trabalho territorial, que seja mais próximo das mulheres com quem queremos dialogar. Assim, daremos condições para que as mulheres, essas que tanto trabalham, participem. Pode ser o local de trabalho ou de moradia.
Definido o local, iniciaremos um trabalho diário e planejado, montando um núcleo, realizando panfletagens, organizando lutas concretas. Um trabalho persistente, contínuo, que desenvolva laços. Se estivermos diariamente em um bairro ou na porta de uma fábrica, com o tempo, iremos nos tornar conhecidas, entenderemos os problemas mais sentidos pelas mulheres daquele lugar e conquistaremos a confiança delas para construir a luta em coletivo.
Para que nosso trabalho seja uma referência para as amplas massas de mulheres trabalhadoras, precisamos espalhar os núcleos do Movimento Olga nos quatro cantos do país, sem perder de vista nossos objetivos, mantendo a persistência e a certeza do que estamos fazendo, que as campanhas que desenvolvemos sejam lutas permanentes, com conquistas evidentes para que o trabalho se multiplique e avance, assim aproximando e influenciando milhares e milhões.
Matéria publicada na edição nº324 do Jornal A Verdade.