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quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Fraude no Enem escancara falha do vestibular

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A anulação de questões e os sucessivos erros na aplicação do Enem revelam que o filtro do acesso à universidade não é apenas injusto, mas estruturalmente falho.

Jesse Lisboa | Redação


EDUCAÇÃO – O projeto burguês de sucateamento da educação pública e investimento na educação privada trata milhões de jovens, que sonham ingressar no ensino superior, com descaso. A recente anulação de questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025, após um estudante antecipar perguntas em uma transmissão ao vivo, não é um caso isolado, mas a ponta do iceberg de um sistema que exclui os trabalhadores e trata a educação como mercadoria.

Enquanto o Ministério da Educação (MEC) tenta minimizar o escândalo afirmando que “protocolos foram seguidos”, a realidade mostra a falha no processo seletivo. O estudante, que afirmou ter “decorado o padrão” do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) após participar de pré-testes, expôs a lógica mecânica e repetitiva de uma prova que não avalia conhecimento, mas sim a capacidade de adestramento para um teste.

Um histórico de incompetência e exclusão

Não é a primeira vez que os estudantes brasileiros são prejudicados por falhas graves na aplicação do Enem. Relembrar o histórico do exame é ver um filme de terror repetido, onde quem paga o ingresso é a juventude pobre.

Em 2009, o exame foi cancelado após o vazamento da prova, furtada de dentro da gráfica, gerando um prejuízo milionário aos cofres públicos e um desgaste emocional para os estudantes. No ano seguinte, em 2010, erros de impressão em cadernos amarelos e a inversão de cabeçalhos no gabarito forçaram a suspensão da prova pela Justiça Federal.

A lista de absurdos continua:

  • 2011: Questões do Enem vazaram em um simulado de um colégio particular de Fortaleza dias antes da prova oficial, privilegiando alunos que já tinham acesso a um ensino de elite.
  • 2014: O roubo de um caminhão dos Correios no Rio de Janeiro levou cartões de resposta embora, obrigando estudantes de Pernambuco a refazerem o exame pela terceira vez.
  • 2019: Sob o governo Bolsonaro, fotos da prova vazaram durante a aplicação, circulando em grupos de WhatsApp enquanto os estudantes ainda estavam em sala. O ministro da época minimizou o caso, culpando aplicadores individuais e ignorando a falha sistêmica de segurança.

O vestibular é uma barreira

A recente fraude de 2025, somada ao golpe dos sites falsos de inscrição que lesou 35 mil estudantes em 2024, prova que o Enem é um terreno fértil para oportunistas e para o lucro. O modelo de vestibular no Brasil serve para filtrar quem entra e quem fica de fora, garantindo que as vagas nas universidades públicas continuem sendo ocupadas majoritariamente por quem pode pagar cursinhos caros e escolas privadas.

Para o estudante da escola pública, que muitas vezes precisa trabalhar para ajudar no sustento da casa, o Enem é um obstáculo quase insuperável. Estes estudantes sofrem com a falta de infraestrutura, de professores, de recursos pedagógicos e de políticas públicas que garantam uma educação de qualidade.

Pelo fim do vestibular

A solução não é apenas “melhorar a segurança” da prova, mas questionar a própria existência dela. A educação é um direito universal, não um prêmio para quem sobrevive a uma maratona de falhas e ansiedade. É preciso lutar pelo fim do vestibular e pelo livre acesso à universidade pública, gratuita e de qualidade para todos. Enquanto o ensino for tratado como privilégio e o acesso for mediado por provas falhas e excludentes, a juventude trabalhadora continuará pagando a conta.

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