Jornadas de 12 horas, falta de EPIs e alojamentos precários são a realidade oculta pelos lucros bilionários da montadora chinesa BYD.
Redação Bahia
TRABALHADOR UNIDO – No dia 9 de outubro, foi inaugurada a fábrica da montadora chinesa de carros elétricos BYD com a presença do presidente Lula, do vice-presidente e ministro da Indústria Geraldo Alckmin (PSB) e do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT). No entanto, não estavam presentes os operários da fábrica, uma vez que a empresa decidiu dispensá-los devido ao evento e compensar essa “folga” com mais um dia de trabalho. Excluir os trabalhadores da inauguração é uma demonstração de que a empresa não é, de fato, a “construção de sonhos”, como foi enfatizado pelo presidente, em referência ao lema da montadora (build your dreams – BYD).
No primeiro semestre deste ano, a empresa alcançou a receita de US$ 52,3 bilhões, um aumento de 23,3% em relação a 2024, e um lucro líquido de US$ 2,1 bilhões, 13,78% de aumento em relação ao ano anterior. Os lucros exorbitantes concentrados nas mãos dos donos de multinacionais só podem existir, justamente, por causa das condições de miséria e superexploração sofridas pela grande massa de trabalhadores que constroem as riquezas em detrimento de seus próprios sonhos.
A militância da Unidade Popular (UP) e do Movimento Luta de Classes (MLC) vem realizando regularmente, desde janeiro, as Brigadas Operárias do jornal A Verdade na porta da montadora, localizada no Polo Industrial de Camaçari (BA). São várias as denúncias relatadas aos brigadistas: jornadas extenuantes de 12 horas de trabalho no dia, alojamentos insalubres, longas distâncias percorridas a pé, falta de chuveiros e locais apropriados de descanso.
Além disso, “uma das empresas terceirizadas tem três valores de salário diferentes para trabalhadores que exercem a mesma função. Obriga os funcionários brasileiros a trabalharem sem EPIs e há desvio de função. Se o trabalhador se recusar, eles mandam embora. As empresas que não seguem as NRs são multadas pela BYD. Para elas, é melhor pagar a multa do que trabalhar com segurança de acordo com o que as Normas Regulamentadoras estabelecem. Por quê? Porque a saúde do trabalhador não significa nada para eles”, denunciou um trabalhador em anonimato.
Vale lembrar que, durante a construção da fábrica da BYD, em dezembro de 2024, houve denúncias de trabalho análogo à escravidão e tráfico de pessoas praticadas por terceirizadas da montadora chinesa. O Ministério Público do Trabalho (MPT) denunciou essa situação e pleiteou o pagamento de R$ 257 milhões por danos morais coletivos.
Recentemente, os brigadistas do jornal A Verdade chegaram à fábrica e se depararam com uma greve dos cegonheiros, pois a montadora optou por contratar empresas externas para fazer a logística, encerrando abruptamente os contratos com os motoristas locais.
Conversando com esses trabalhadores, um dos caminhoneiros comprou 20 jornais por R$ 100. Ao todo, foram vendidos 32 jornais nessa brigada com diversos contatos para nossa luta.
Matéria publicada na edição nº324 do Jornal A Verdade.