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segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Moinho resiste aos ataques do estado fascista

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A favela do moinho, situada no bairro de Campos Elísios, é hoje a última favela do centro de São Paulo e tem sido território de disputa entre a resistência do povo trabalhador e a política higienista e gentrificante do governo de Nunes e Tarcísio de Freitas

Mabel e Felipe Fly | São Paulo 


LUTA POPULAR – A favela do moinho, situada no bairro de Campos Elísios, é hoje a última favela do centro de São Paulo e tem sido território de disputa entre a resistência do povo trabalhador e a política higienista e gentrificante do governo de Nunes e Tarcísio de Freitas. Mais de 800 famílias que habitavam a comunidade têm sido ameaçadas de despejo desde o ano passado.

A comunidade, que começou a se formar em 1980 no território de um antigo moinho abandonado, hoje ocupa cerca de 30 mil metros quadrados entre as linhas do trem, com mais de 350 moradias e comércios construídos nesse espaço.

A iminência do despejo, do desemprego e os ataques de perseguição política, ameaças e presença assediadora constante da polícia tem levado muitas das famílias a quadros de depressão e receio de retaliação.

Mais do que as paredes, o que os tratores colocam abaixo são décadas de trabalho árduo, são planos de vida, são as garantias de um teto na velhice de quem foi explorado toda a vida, como demonstra o relato das famílias ao jornal A Verdade.

Bruna* diz: “Moinho resiste! Eu vou ser uma das últimas a sair daqui. É triste, eu moro há 16 anos aqui, meus filhos nasceram e criaram aqui, nossa casa era de madeira, eu e meu marido suamos e lutamos muito pra construir nossa casa” e Judite* que vive no moinho há 19 anos e tem uma padaria desde 2015 conta da importância de ter uma casa na comunidade: “Antes de vir pro moinho eu vendia bala no farol e só tinha feito até a terceira série. Depois que vim pra cá fiz curso técnico, faculdade e criei meus três filhos”.

É através do enraizamento no território, do esforço diário e coletivo para a construção do barraco de madeira, depois da casa de alvenaria, que diversas famílias trabalhadoras garantiram na sua história no moinho que suas crianças dormissem sob um teto, diferente das demais 3759 que foram abandonadas pelo estado e hoje dormirão nas ruas.

Diversos representantes da social-democracia vieram até a comunidade, fizeram seus palanques, gravaram vídeos, apertaram as mãos das famílias prometendo que elas só sairiam de lá com a chave da casa na mão e, poucos meses depois essas mesmas figuras lavaram as mãos e abandonaram as famílias à própria sorte, algumas sem nada, outras com uma carta crédito que demanda documentos que as famílias não têm e só gera dívidas que nunca conseguirão pagar, e outras ainda com um auxílio aluguel de 700 reais que acaba antes mesmo de encontrar um local, uma vez que esse valor é irreal para qualquer família que busque moradia no centro de São Paulo.

A média do valor mensal do metro quadrado nos Campos Elísios hoje é de 54 reais por mês, ou seja, para que essa família consiga alugar um espaço no mesmo bairro onde criou raízes, identidade, pertencimento e mora hoje com esse auxílio aluguel, teria que se mudar para um espaço de até 12 metros quadrados. Essa metragem para uma pessoa que tinha sua casa construída é um absurdo, mas se considerarmos ainda que a maior parte das famílias são compostas por mães com crianças, é impensável, não passa de mais um desrespeito ao povo.

Essa é a real face do estado burguês: por um lado persegue politicamente e encarcera as lideranças da comunidade e por outro aponta para o povo: confinamento, rua ou sair do território onde viveu os últimos 40 anos para ir para as periferias cada vez mais distantes, tudo isso amparado pelo seu braço armado: cavalaria, choque, bombas e gás.

Moinho resiste!

O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e o jornal A Verdade estiveram presentes desde o primeiro momento dos ataques e seguem construindo a resistência junto às famílias e os demais movimentos do Comitê de Apoio ao Moinho. Mesmo com a perseguição política, os ataques sistemáticos e as demolições arbitrárias, muitas famílias seguem em luta e mostram os verdadeiros objetivos por trás da política do governador fascista.

Sinara* diz: “Não vou sair da minha casa. Não vou tirar meus filhos da escola, prejudicar meus filhos pra pegar uma bolsa aluguel, que ninguém encontra aluguel por aqui. Eles querem que todos saiam, pra quando a gente já estiver lá fora, se tiver algum problema a gente não conseguir lutar”.

Realizamos panfletagens semanais, porta a porta, e a cada semana mais famílias reafirmam seu compromisso com a luta pelo direito de morar dignamente e pelo socialismo. O comitê propôs ainda uma agenda de lutas para cobrar o poder público pelo não cumprimento dos acordos, e chamando as demais ocupações do centro que estão sob ameaça de despejo a se juntarem e fazerem um grande ato de denúncia e em defesa do centro para o povo.

Seguimos, dia após dia, no chão de barro, construindo uma sociedade em que ninguém mais viva sem ter a segurança de ter uma casa para voltar. Viva a luta das famílias do Moinho e viva o socialismo!

*Nomes fictícios

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