Zoya Kosmodemyanskaya nasceu no dia 13 de setembro de 1923, na província de Tambov, na União Soviética. Seu nome é uma referência aos santos Cosme e Damião (Kosma e Demyan, em russo). Aos seis anos, sua família muda-se para a Sibéria, onde Zoya tem uma parte de sua infância em grande contato com a natureza. Aos oito anos, nova mudança. Dessa vez para a capital, Moscou. É lá que Zoya inicia sua formação política, ingressando nas Pioneiras, a organização responsável pelos primeiros ensinamentos socialistas às crianças e jovens de oito a quinze anos. Aos dez anos, seu pai morre precocemente.
Aos quinze anos, é transferida para o Komsomol, a juventude do Partido Comunista. Lá, cumpre com zelo as tarefas que lhe são confiadas, dedicando-se especialmente ao trabalho da alfabetização de adultos. Propõe e aprova em seu coletivo a meta de que cada militante seja responsável pela alfabetização de pelo menos mais 10 pessoas. Dizia que gostava desse trabalho porque a fazia sentir-se mais adulta, mais responsável. Essa responsabilidade também demonstrava em casa, sempre ajudando sua mãe nos serviços do lar e na educação de seu irmão mais novo, Shura. Adorava literatura e história. Seu sonho era ser escritora. Nessa época escreveu em seu diário:
“Respeita-te a ti mesmo; não te superestimes; não sejas incomunicável; não sejas parcial; não andes a clamar que os outros não te respeitam ou te apreciam; trabalha com afinco para te desenvolveres e assim adquirirás maior confiança em ti mesmo”
O trabalho na retaguarda
Os sonhos de Zoya, porém, e os de milhões de jovens em todo o mundo estavam ameaçados. O capitalismo criara o nazismo com o objetivo de aumentar a exploração sobre os trabalhadores em todo o mundo. O principal alvo da fúria nazista era a União Soviética, o seu governo revolucionário. Em 22 de junho de 1941, Zoya ouve pelo rádio o discurso do Molotov, Comissário do Povo para Assuntos Estrangeiros, anunciando a invasão nazista ao território soviético. Como militante do partido, tinha recebido treinamento militar e, no mesmo dia, alista-se nas forças de defesa.
O ataque nazista é cruel e fulminante. Várias cidades são destruídas. Moscou é bombardeada. Zoya participa da defesa da cidade durante os ataques aéreos. Depois, é transferida para a retaguarda, para os campos de batata que alimentam as tropas. Lá, se destaca não apenas na produção como também na luta política, mantendo sempre elevado o moral de seus companheiros de trabalho. Escreve para a mãe:
“Minha adorada mamãe: perdoa-me por não ter escrito ainda. É que me falta o tempo para cartas. Mamãe querida, bem sabes que estamos arrancando batatas, para ajudar o Estado a fazer a colheita … o trabalho aqui não é nada fácil, mas não te preocupes, quando voltar para Moscou verás como estou bem e feliz.”
A Guerrilheira Tanya
Quando termina seu trabalho no campo de batatas, Zoya volta a Moscou. A ameaça nazista, porém, ainda estava presente e cada vez mais próxima da capital. Zoya sabia que tudo de bom que os trabalhadores haviam construído depois do triunfo da Revolução de 1917 corria o risco de cair na mão dos nazistas, os mais reacionários inimigos do povo. Assim que toma conhecimento da situação, não tem dúvida: decide alistar-se como guerrilheira. A partir daí, adota o nome clandestino de Tanya. Antes de partir, diz a sua mãe: “Não te desesperes, mãe. Se me acontecer alguma coisa, não é razão para se desesperar. O Soviete cuidará de ti”.
Os guerrilheiros tiveram uma participação decisiva na vitória soviética sobre o fascismo. Enquanto o Exército Vermelho encarava o exército nazista, impedindo seu avanço, os guerrilheiros, compostos principalmente de civis, atacavam a retaguarda do inimigo. Sua missão era causar todo dano material e humano possível. Destruíam mantimentos, armazéns, vias de transporte e comunicação. Preparavam emboscadas e armadilhas. Atuavam à noite. Não permitiam que o inimigo descansasse, obrigando-o a ficar sempre alerta. Agiam como espiões. Forneceram valiosas informações ao Exército Vermelho.
O destacamento guerrilheiro de Zoya foi responsável por vários ataques às tropas invasoras. Uma informação, porém, iria mudar para sempre a história de Zoya. Ela e seus camaradas descobrem que uma pequena cidade nos arredores de Moscou, Petrishevo, fora invadida pelos alemães e transformada em um quartel-general. As casas haviam sido tomadas e os habitantes obrigados a servir aos nazistas. Zoya sabia seu dever. Sabia que as tropas de Hitler não poderiam ter um segundo sequer de descanso, e a idéia de que um povoado inteiro servia de refúgio para os fascistas a enfureceu profundamente. Reúne dois outros guerrilheiros e diz: “Vamos ver que espécie de repouso eles vão ter”.
Durante a noite, com grande habilidade, entra em Petrishevo sem ser notada. Alguns minutos depois, vários prédios da cidade estão ardendo em chamas. Zoya só se retira quando tem certeza de que o fogo estava suficientemente alto. Na saída, ainda corta os fios telefônicos, para impedir que os nazistas pudessem pedir socorro.
Apesar da ação bem sucedida, Zoya descobre que os fascistas haviam conseguido apagar o incêndio e que a cidade continuava a servir de quartel para os agressores. Insatisfeita, resolve voltar para terminar seu trabalho. Dessa vez, entra na cidade disfarçada em roupas de homem. Escondidos sobre o casaco e em todas as partes, benzina e fósforos. Conseguiu entrar em um dos prédios, mas havia caído em uma armadilha. Antes que pudesse sacar seu revólver, foi presa pelos alemães.
“Lutem sempre!”
Zoya foi espancada e torturada. Com o corpo e as roupas cobertos de sangue, foi levada à casa do camponês Vasily Kulik, que relatou o que viu:
– Quem é você? – pergunta o tenente-coronel Ruderer, comandante do 332º. regimento nazista.
– Não digo. – respondeu Zoya.
– Foi você que ateou fogo no estábulo na noite de anteontem?
– Sim.
– Qual seu objetivo ao fazer isso?
– Queria destruí-lo.
– Quando atravessou a fronteira?
– Não digo.
– Quem lhe mandou?
– Não digo.
Furioso, o coronel disse:
– Não diz? Em breve dirá.
Zoya foi torturada por mais duas horas. Mas, ao contrário do que pensava o coronel, ela não disse nada. Após as torturas, o camponês Vasily conseguiu convencer um dos guardas a deixá-lo levar um copo d’água para Zoya. Ela perguntou:
– Quantas casas eu queimei?
– Três. – respondeu Vasily.
– Queimei algum alemão?
– Um.
– Que mais?
– Vinte cavalos e o cabo telefônico.
Zoya suspirou. Gostaria de ter causado mais prejuízos. Mas a informação do resultado de seu ataque a reconfortou. Durante o dia seguinte, novas sessões de tortura. Mais uma vez ela não disse nada. Vendo que os interrogatórios eram inúteis, os nazistas decidiram enforcar Zoya em praça pública. Em seu pescoço penduraram uma placa com os dizeres: “Incendiária de lares”. Queriam que sua morte servisse de exemplo para os soviéticos. De fato, Zoya haveria de ser tornar um exemplo, porém bem diferente do que os nazistas planejaram.
A forca foi montada na praça central. Embaixo, uma cadeira. Os habitantes de Petrishtshevo foram obrigados a comparecer. Alguns choravam, outros viravam o rosto. Mas os alemães haviam ordenado, até, que fossem tiradas fotografias desse momento. Em cima da cadeira, com a corda no pescoço, Zoya aproveitou-se da espera e iniciou uma vibrante agitação política: “Avante, camaradas! Por que estão tristes? Sejam bravos! Continuem nossa luta. Matem alemães! Queime-os! Envenenem-nos!”.
Os nazistas enlouqueceram. Não sabiam o que fazer. A máquina fotográfica foi rapidamente guardada. O carrasco correu para empurrar a cadeira. Zoya ainda gritou: “Lutem sempre! Stálin está conosco!”.
Foram suas últimas palavras. Isso aconteceu no dia 5 de dezembro de 1941. Zoya tinha, então, 18 anos. Seu corpo ficou pendurado durante vinte dias. Suas palavras e seu exemplo, porém, correram a União Soviética como um raio. Seguindo o exemplo de Zoya, milhares de jovens alistaram-se como guerrilheiros. Os guerrilheiros faziam da vida dos invasores um inferno. Os soldados de Hitler não podiam descansar. Não podiam dormir. Em qualquer lugar, a qualquer momento, havia um guerrilheiro pronto para atacar. Muitos soldados nazistas enlouqueceram. Milhares foram mortos pelos guerrilheiros.
Em 1º de dezembro de 1942, um ano depois da morte de Zoya e já durante a contra-ofensiva soviética, o jornal Izvestia publicou a seguinte notícia: “No decorrer dos primeiros dias da ofensiva de Rhzev, os soldados do general Povetkin esmagaram várias unidades de tropas alemãs”.
Entre essas tropas, completamente destroçado e atemorizado, estava o regimento que havia assassinado Zoya. O glorioso Exército Vermelho havia conseguido vingar a morte de sua heroína.
Homenagens
O silêncio de Zoya ante os nazistas foi tal que mesmo o Exército Vermelho teve dificuldade de identificar quem era a guerrilheira Tanya. Em 16 de fevereiro de 1942, Zoya tornou-se a primeira mulher a receber, postumamente, o título de Heroína da União Soviética. Em 1944, Lev Arnshtam fez um filme sobre sua vida. Foram compostas também peças de teatro e músicas em sua homenagem. Dois asteróides descobertos por astrônomos soviéticos foram batizados com seu nome. Ainda hoje há estátuas de Zoya nas cidades de São Petersburgo (antiga Leningrado), Tambov, Dorokhov e Petrishevo.
Durante a década de 1980, uma das principais militantes da Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão, organização que lutava contra a opressão fundamentalista sobre as mulheres daquele país, adotou o nome Zoya como seu nome clandestino. Assim, Zoya Kosmodemyanskaya continua inspirando os revolucionários em todo o mundo.
Referências:
- Santa Rússia. Maurice Hindus. Editorial Calvino. 1944
- www.greeklish.org/features/zoya
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