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domingo, 22 de dezembro de 2024

Lydia Monteiro é homenageada pela OAB

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A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), secção Piauí, reativou, no dia 12 de maio, a Sala de Direitos Humanos Lydia Monteiro da Silva, funcionária da OAB nacional brutalmente assassinada pela ditadura militar. A sala foi inaugurada com este nome pela primeira vez em 1985, na gestão de Reginaldo Furtado. O atual presidente da OAB/PI, Chico Lopes, referenciou o ex-presidente Reginaldo Furtado e destacou que o evento era “uma demonstração de reconhecimento à pessoa de Lydia Monteiro, que representa luta e garra, e nos motiva ainda mais a continuar trabalhando em prol dos Direitos Humanos”.

Lydia Monteiro foi secretária por 43 anos da OAB Nacional, sediada no Rio de Janeiro, onde começou a trabalhar aos 16 anos de idade. De acordo com o advogado Reginaldo Furtado, Lydia era sempre sensível, bem-humorada, de memória prodigiosa e atenciosa com todos que recebia: “a eficiência dela era tanta que conhecia todos os conselheiros nacionais da OAB por seus nomes completos e era de extrema confiança de toda a diretoria”. Devido a essa confiança, tinha a tarefa de abrir as correspondências destinadas ao presidente da OAB, Eduardo Seabra Fagundes. No dia 27 de agosto de 1980, recebeu uma correspondência destinada ao presidente. Era uma carta bomba. Lydia perdeu um dos braços, que voou pela janela, e toda a sala ficou destruída. Ela morreu no trajeto para o hospital. Seu enterro reuniu cerca de 10 mil pessoas que saíram do Centro do Rio de Janeiro até o Cemitério São João Batista, em Botafogo. O ato tornou-se um grande protesto contra a ditadura militar e os atentados terroristas cometidos pelo Estado.

O atentado terrorista foi uma tentativa de intimidar a OAB nacional, que estava denunciando as torturas e os assassinatos políticos cometidos pela ditadura militar.

 “Na viagem que fiz ao Rio, após o ocorrido, Isis, que também trabalhava no conselho e era sobrinha de Lydia, me contou que durante uma visita ao túmulo, 15 dias após ao assassinato, aproximou-se um senhor perguntando se eram parentes e lamentou a morte, depois rezou e retirou-se. Nove meses depois, ocorreu outro atentado terrorista num show no Riocentro, que fracassou. No jornal do dia seguinte, colocaram a foto dos dois militares, um capitão e um sargento que tinham sido vítimas da explosão da sua própria bomba. Ao ver a fotografia, Isis reconheceu o homem que tinha ido rezar no túmulo de Lydia meses antes”.

O plano era explodir uma bomba no show de Chico Buarque, Caetano Veloso e dezenas e outros grandes artistas, com mais de 10 mil pessoas. Mas a bomba explodiu dentro do carro e o sargento Rosário morreu na hora.

Em 2015, a Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, após investigação, confirmou a suspeita de Isis. Com depoimentos de testemunhas, fotos e retratos falados, a comissão conseguiu confirmar a participação do sargento Magno Cantarino Motta, codinome Guarany, responsável por entregar a bomba pessoalmente na sede da OAB; o sargento Guilherme Pereira do Rosário, que produziu o artefato; e o coronel Freddie Perdigão Pereira, que coordenou a ação.

Inúmeros atentados terroristas foram promovidos por agentes das Forças Armadas durante a ditadura. Em 26 de março de 1981, um grupo de 15 terroristas, armados com bombas e encapuzados, invadiu o jornal Tribuna da Imprensa, explodiu as impressoras e danificou as instalações. Uma carta bomba foi endereçada à Associação Brasileira de Imprensa, mas o artefato foi desativado após um telefonema anônimo. No primeiro dia do golpe, a União Nacional dos Estudantes (UNE) sofreu um atentado, sua sede foi destruída e queimada, sedes de jornais, entidades de trabalhadores, estudantis e direitos humanos foram cotidianamente aterrorizadas e os militares sempre negavam, dando a responsabilidade à esquerda e aos comunistas.

Até hoje, prevalece a impunidade, nenhum agente do Estado terrorista de 1964 a 1985 foi julgado e muito menos punido. A Comissão Nacional da Verdade e as Comissões Estaduais cumpriram um importante papel de comprovar os crimes e seus culpados, mas esses precisam ser levados aos tribunais, julgados e obrigados a pagar por seus crimes contra o povo brasileiro.

Alexandre Ferreira, Teresina

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