Saúde pública ameaçada

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O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo. Prevê, o “acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país”.

Com certeza, ainda há muito o que avançar no que diz respeito à saúde em nosso país. Contudo, não há como negar que o SUS significou um grande avanço, reconhecido mundialmente, principalmente na atenção primária. Segundo dados do Censo de 2013, mais de 70% da população brasileira tem no SUS sua única forma de acesso à saúde.

Com a aprovação da Emenda Constitucional 95, ocorreu o congelamento dos gastos públicos por 20 anos, significando uma possível perda de mais de R$ 700 bilhões em recursos para a saúde pública.

Nesse contexto de corte de investimentos, somado ao aumento da pobreza extrema, que, segundo o IBGE, aumentou 11,2% em 2017, são as crianças mais pobres as primeiras a sentirem esse impacto. De acordo com uma pesquisa realizada pela revista científica Plos Medicine, o congelamento dos investimentos em saúde pode levar mais de 20 mil crianças à morte até 2030. Mortes que poderiam ser facilmente evitadas com investimentos na atenção básica à saúde, já que as principais causas são a diarreia e a desnutrição. Para a Fundação Abrinq, a taxa de mortalidade infantil (0 a 5 anos), que vinha caindo nos últimos 26 anos no país, passou a registrar um aumento e, em 2016, subiu 4,19%. Em 2017, a taxa de desnutrição crônica nas crianças de até 5 anos foi de 13,1%.

Imagina você e sua família tendo que viver com o mesmo orçamento por 20 anos! As coisas ficam mais caras, vocês envelhecem. Alguma criança talvez nasça. É claro que a vida da sua família vai piorar se o recurso que vocês têm para viver não aumentar. O mesmo vai acontecer com a saúde em nosso país. A população vai crescer. E o que já estava ruim, vai piorar. Acontece que estamos falando de atendimento primário. Estamos falando de coisas que poderiam ser evitadas e não serão. Milhares de crianças e idosos morrerão.

Nesse contexto de retrocesso, milhares de famílias ficarão sem atendimento médico. Segundo Mauro Guimarães, presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), a assistência médica nas aldeias indígenas era feita exclusivamente por médicos cubanos, sendo que muitas delas nunca haviam tido médicos antes do programa.

Não é preciso fazer grandes pesquisas para saber que nosso país atravessa uma grande crise. Fatores como desemprego, falta de moradia adequada, saneamento básico e alimentação de qualidade influenciam diretamente na saúde da população. Somado a isso, a retirada de investimentos na área e mais de oito mil médicos a menos, não é preciso ser especialista para ver que a saúde entrará em colapso.

Carolina Vigliar, Movimento de Mulheres Olga Benario