Por Arthur Ventura
O movimento dialético da história tal como concebido, juntamente com o materialismo-histórico, pelo revolucionário Karl Marx, é responsável por gestar grandes figuras revolucionárias que capazes de compreender as transformações e a centralidade da luta de classes, conseguem conduzir a classe trabalhadora oprimida, para o poder, para a instauração da ditadura do proletariado e sua liberdade.
Vladimir Lenin, Josef Stálin, Ernesto “Che” Guevara e Fidel Castro, são exemplos concretos da história da classe operária, de dirigentes que colocaram o povo no poder, na luta pelo socialismo. E juntamente com os grandes dirigentes, o processo revolucionário e a ditadura do proletariado, também forjaram por onde triunfaram, novos seres humanos responsáveis pela transformação cultural e artística da nova sociedade sob as ruinas do capitalismo. E dentre o processo dialético de transformação da realidade, Carlos Puebla é o artista cubano transformado pela própria Revolução Cubana.
Nascido no ano da Revolução Russa, advindo de uma família pobre de operários, sendo seu pai participante da Guerra de Independência Cubana (1895-1898), Carlos Puebla que começa desde cedo a trabalhar nas usinas de açúcar do latifúndio, aprende a tocar violão mas sem nenhuma instrução acadêmica. A partir do ano de 1930 realiza composições que variavam entre músicas românticas e “canções cruéis” com algum tom humorístico, com ritmos que iriam de “guarachas” a boleros, realizando shows em diversos bares na cidade de Manzanillo na província de Granma de Cuba, onde nasceu.
A partir dos anos 50, Puebla passa a residir em Havana e no ano de 1952 forma o grupo “Carlos Puebla y sus Tradicionales” composto por músicos que tocavam violões, marímbula, bongós e maracas. O grupo frequentou lugares de onde pisaram importantes figuras como Pablo Neruda e Nicolas Guillén, grande poeta e comunista cubano, tocando no famoso bar chamado de “La Bodequita del Medio”. Suas composições, na medida em que se aproximava o ano da revolução, assumiam um caráter mais social, sendo a música “Quiero Hablar Contigo” de 1956, uma das últimas músicas românticas a serem mais populares das composições do autor. Sobre a segunda metade da década de 50, várias de suas canções tornam-se populares, como a canção “Influencia” que falava sobre as influências norte-americanas na cultura cubana.
Mas é sobretudo após o triunfo da revolução cubana no ano de 1959 que o grande músico e compositor Carlos Puebla transforma de uma vez suas músicas e composições, dedicando-se dali pra frente a ser na verdade, um grande porta-voz cultural do socialismo cubano para seu povo e para o mundo. Em 1959, Puebla lança um disco destacando a heroica luta do povo cubano contra o imperialismo “Este es mi Pueblo”, com músicas como “Y em Eso Llego Fidel” que narram a participação do grandioso dirigente comunista Fidel Castro na luta contra os latifundiários, burgueses e exploradores de todo tipo do povo trabalhador cubano.
“Aquí pensaban seguir ganando el ciento por ciento
Con casas de apartamentos
Y hechar al pueblo a sufrir.
Y seguir de modo cruel
Contra el pueblo conspirando
Para seguirlo explotando…
Y en eso llegó Fidel.
Aquí pensaban seguir tragando y tragando tierra
Sin sospechar que en la sierra
Se alumbraba el porvenir.
Y seguir de modo cruel la costumbre del delito,
Hacer de Cuba un garito…
Y en eso llegó Fidel.
Y se acabó la diversión,
Llegó el Comandante y mandó a parar”
(Trecho da letra de “Y en Eso Llego Fidel”
Músicas como “Todo por la Reforma Agraria” e “El son de la alfabetización” foram lançadas exaltando e defendendo a medida de distribuição de terras e a campanha de alfabetização dos primeiros anos do governo revolucionário, além de músicas que tratavam da expulsão de Cuba da Organização dos Estados Americanos – OEA e o rompimento de relações com a União Europeia, como as canções “Rompiendo las relaciones”, “Los comités de defensa”, “Yo sigo siendo cubano”, “La OEA es cosa de risa”. Os seus próximos tantos discos lançados tomariam então projeção internacional. E mais do que isso, serviriam para a consolidação da revolução, na medida em que suas canções engendravam no povo a importância da defesa da ditadura do proletariado e do socialismo.
Dentre vários e vários “hinos” populares de apoio as medidas do governo revolucionário e outras músicas em memória dos heróis cubanos como “Canto a Camilo” onde Puebla canta sobre a eternidade da figura do grande revolucionário Camilo Cienfuegos: “Te canto, porque estás vivo, Camilo. E não porque estejas morto”, certamente a canção mais emblemática, consagrada e hino para todos os revolucionários do mundo, “Hasta Siempre Comandante”, composta no ano de 1965 após a saída de Che de Cuba, se tornaria o maior sucesso de todos os tempos do autor.
“Aquí se queda la clara,
La entrañable transparencia,
De tu querida presencia
Comandante Che Guevara.”
(Trecho da música “Hasta Siempre, Comandante”)
Nos anos 70, Carlos Puebla ainda escreve músicas de apoio ao presidente Salvador Allende como “Elegía a Salvador Allende” e também músicas de apoio ao honroso povo vietnamita na luta contra o imperialismo como “El ejemplo de Viet Nam”, assim como músicas de apoio a independência de Porto Rico como “Canto a Puerto Rico”.
Carlos Puebla que era acusado por reacionários de “panfletário”, entrevistado no ano de 1981 pela revista “Revolución y Cultura” declarou que se sentia muito honrado de ser acusado de “panfletário”, pois José Martí, mártir da independência cubana e Lenín, gigantesco revolucionário russo, também o foram.
De forma concreta, Carlos Puebla foi sem dúvidas a voz da cultura musical das transformações estruturais que se seguiram em Cuba. Foi sem dúvidas outro revolucionário internacionalista, sendo a sua vida e obra, lições de que os comunistas devem tirar, da necessidade dos artistas na revolução, como sendo seu papel promover a arte popular no sentido de aprofundar a consciência do povo, incentivando-o a produzir uma cultura que reafirme cada vez mais a nossa identidade e a necessidade de construir a revolução e o socialismo.
“Y empezamos a tener
Leyes revolucionarias
La ley de reforma agraria
Y la ley del alquiler
Y una ley tras otra ley
Leyes para los de abajo
Para el hombre sin trabajo
Muerto de hambre en el batey
Y el pueblo después de un año repite
Gracias fidel”
(Trecho da música “Gracias, Fidel”)