No dia 22 de junho de 2023, um acidente na planta da Braskem, no Polo Petroquímico de Capuava (Mauá-SP), deixou dois mortos e quatro feridos, todos trabalhadores da Tenenge, empresa prestadora de serviços terceirizados à Braskem, ambas controladas pela família Odebrecht.
Ananda Villanova | São Paulo
BRASIL – Durante uma manutenção autorizada pela Braskem, o tanque, que deveria estar livre de químicos para a manutenção, explodiu, jogando o trabalhador – que imediatamente veio a óbito – de cima do tanque ao chão. Um trabalhador nordestino, que veio para São Paulo com a promessa de uma vida melhor para ele, sua esposa e seu filho recém-nascido, de apenas três dias de vida no momento do acidente. Também faleceu outro trabalhador, inicialmente hospitalizado.
Um funcionário, traumatizado, relata um verdadeiro filme de terror: “Tivemos que esperar o resgate praticamente do lado do tanque que explodiu, um dos trabalhadores que foi atingido ficou esperando com a gente, com a roupa e o corpo todo queimado e em carne viva, e a gente sem saber se teria mais explosões porque desligaram os rádios e deixaram a gente incomunicável”.
Maria Silva (nome fictício) conta que recentemente os trabalhadores de um setor foram intoxicados ao serem expostos, por um longo período, a uma grande quantidade de benzeno, um químico cancerígeno que pode causar desde desmaios até coma e morte.
Segundo a denúncia, esse e outros casos de intoxicações e descasos da empresa com os trabalhadores são constantes e, segundo Maria, a empresa responde aos trabalhadores que eles devem esperar que os químicos saiam do corpo com o tempo.
No Polo Industrial da Braskem em Camaçari, na Bahia, no dia 31 de outubro de 2023, mais um trabalhador ficou ferido e precisou de atendimento médico por conta de um incêndio, provocado, segundo a própria empresa, por vazamento de eteno em um de seus tanques.
A Braskem está presente em diversos locais do Brasil. Seu endereço muda, mas o descaso com a vida da população e dos trabalhadores não, como mostrou reportagem especial do jornal A Verdade em sua edição nº 285.
Saúde do trabalhador
No Brasil, segundo dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, são registrados anualmente mais de 500 mil acidentes de trabalho no país. Em 2020, foram registrados 446.881 acidentes, com 1.866 mortes nessas ocorrências; em 2022, foram 612.920, com 2.538 mortes, um aumento de 37%.
A Reforma Trabalhista, que aumentou exorbitantemente a terceirização e retirou direitos do povo pobre e trabalhador, segue facilitando cada vez mais a precarização das condições de trabalho. Um dossiê elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) revela que, em comparação com os trabalhadores efetivos, os terceirizados cumprem jornadas maiores e sofrem mais acidentes de trabalho, especialmente os que resultam em mortes.
Isso demonstra que, ao contrário do que tentaram vender para a população durante a aprovação da Reforma, a terceirização não traz nada de bom para o trabalhador, pois só serve para o patrão aumentar seus lucros.
Os casos citados são exemplos disso, já que a família Odebrecht comanda a Braskem e a Tenenge, mas utiliza da terceirização para pagar menos aos trabalhadores, ao invés de os empregar pela “empresa principal” e garantir todos os direitos trabalhistas devidos.
Por tudo isso, é indiscutível que essa Reforma Trabalhista é cruel, fascista e precisa ser revogada urgentemente. A única maneira para conseguirmos é organizando os trabalhadores para lutar por nossos direitos e por uma vida digna com trabalho seguro.
Matéria publicada na edição nº 287 do Jornal A Verdade.