Enquanto 160 mil brasileiros vivem em moradias improvisadas, como tendas de lona e barracos de papelão, o Brasil acumula 11,4 milhões de imóveis vazios, revela o Censo de 2022 do IBGE.
Igor Barradas | Rio de Janeiro (RJ)
Dados do Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em setembro, apontam que 160 mil brasileiros e brasileiras vivem em moradias precárias ou totalmente improvisadas. Em todas as cidades do país, vemos diariamente milhares de famílias sendo expulsas de suas casas e empurradas para as regiões mais afastadas e áreas de risco. Ao mesmo tempo, o Censo apontou que existem no Brasil 11,4 milhões de imóveis completamente sem uso.
São pessoas vivendo em tendas de lona, de plástico ou de tecido (cerca de 57 mil pessoas, 35,3% do total) e em barracos de papelão; em estabelecimentos comerciais, construções degradadas ou inacabadas; em carros, caminhões, trailers ou barcos.
Vale ressaltar que a pesquisa trabalha com o conceito de domicílio. Ou seja, pessoas em situação de rua (que hoje são estimadas em quase 230 mil) não estão nesse enquadramento porque não possuem qualquer tipo de domicílio. O Censo também não mapeia pessoas morando em valões, encostas e áreas de alagamento, por exemplo. Ou seja, a crise de moradia pela qual o povo pobre vive é ainda mais grave do que mostram os dados.
Imóveis vazios e alugueis caros
As estruturas improvisadas em logradouros públicos (calçadas, praças e debaixo de viadutos) abrigam 14,5 mil brasileiros e brasileiras. O levantamento também identificou cerca de 17 mil pessoas residindo em edificações não residenciais permanentes degradadas ou inacabadas.
Outras 43 mil pessoas vivem em estabelecimentos, como comércios e galpões. Ainda de acordo com os dados, quase 2 mil cidadãos e cidadãs habitam carros, caminhões, trailers e barcos.
De fato, numa mesma sociedade onde a maioria das pessoas não conta senão com um salário para sobreviver, o valor do aluguel disparou 16% em 2023, mais do que o triplo da inflação. Como pagar aluguel recebendo um salário-mínimo?
Essa tragédia ocorre porque uma minoria de ricos, a burguesia, que lucra com a dor e o sofrimento da população, é dona de milhares de casas e prédios e dos meios de produção. É o que afirma Renan Carvalho, da Coordenação Nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). “A especulação imobiliária, o poder das construtoras e do capital financeiro dominam os centros das cidades. Nestes locais, ocorrem expulsões do povo e estes passam a viver em barracas, lonas e debaixo de marquises. Precisamos enfrentar as grandes elites do mercado financeiro urgentemente”, disse.
De fato, a burguesia se utiliza da especulação imobiliária, ou seja, deixam seus bens vazios ou subutilizados de propósito, esperando valorizá-los para negociá-los por um valor maior.
Ocupar para garantir moradia digna
Como o compromisso dos governos capitalistas é apenas com o lucro dos ricos e das grandes empresas de construção, para população falta moradia e sobram doenças, desemprego e fome.
Por isso, que não existe outro caminho para conquistar uma profunda reforma urbana e o direito à cidade que não sejam as ocupações. Quem não tem onde morar, tem o direito de ocupar. Toda ocupação de imóvel sem uso, seja público ou privado, é legítima, pois, enquanto moradia digna for um privilégio, ocupar é um dever.