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sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Campanha internacional pelo aparecimento de Lichita pressiona o Estado paraguaio

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Filha de dirigentes da resistência camponesa em seu país, Lichita Villalba foi sequestrada pelas Forças Armadas do Paraguai em 2020. Desde então, movimentos populares de todo o mundo organizam luta pela aparição com vida de Lichita

Isis Mustafá e Gabriela Torres


Lichita Villalba, filha de dirigentes da resistência camponesa no Paraguai, é uma criança de 14 anos sequestrada por um destacamento das forças armadas, a Força Tarefa Conjunta (FTC). Nesta mesma operação, outras duas crianças de 11 anos, María e Lilian Mariana, foram assassinadas. O crime aconteceu há quatro anos e faz parte da política de perseguição e extermínio do Estado paraguaio à luta do povo por reforma agrária e à Família Villalba, conhecida pela atuação junto ao Exército do Povo Paraguaio (EPP). Por todo o mundo, inclusive no Brasil, movimentos populares promovem um abaixo-assinado pela aparição com vida da menina Lichita.

O Exército do Povo Paraguaio é uma guerrilha de camponeses pobres criada em 2008 no Norte do país e que luta pela distribuição de terras e realização de uma ampla reforma agrária. Os departamentos de Concepción, San Pedro e Amambay correspondem a 32% do território ocidental, com aproximadamente 700 mil habitantes, profundamente marcados pela concentração de terras e cabeças de gado nas mãos de poucas centenas de estrangeiros, ao passo que a imensa maioria do povo não tem nada.

No dia 30 de novembro, organizações revolucionárias e partidos marxistas de todo o continente latino-americano se reuniram na Plaza de los Desaparecidos, em Asunción. Localizada na capital paraguaia, ex-presos políticos e familiares dos mortos e desaparecidos fazem dessa praça um espaço de luta por Memória, Verdade e Justiça. Um grupo de vítimas da ditadura militar de Stroessner, que acampava em frente à Defensoria Pública exigindo seus direitos, também participou do ato.

A equipe de A Verdade esteve presente em Asunción e entrevistou os membros da 7ª Delegação Internacional Humanitária: Guillermo Kane, deputado provincial de Buenos Aires; Claudio Medina, diretor do Sindicato dos Docentes da Capital Federal Argentina; Fabricio Arnella, dirigente do Partido Comunista Paraguaio; e Ariel Prieto, militante da Juventude Comunista Paraguaia.

A Verdade – O que a violência contra a família Villalba representa para os lutadores da América Latina?

Guillermo Kane – A violência demonstrada pelo Estado paraguaio no crime político cometido contra a Família Villalba, que inclui infanticídios, desaparecimento de pessoas, julgamentos completamente fraudulentos, mantendo presos políticos detidos depois de já terem cumprido até mesmo as sentenças legais dos julgamentos originais pelos quais foram presos… Enfim, toda essa barbárie mostra a ficção representada pelas democracias capitalistas e a disposição de violar suas próprias constituições, sua própria legislação, para reprimir os trabalhadores e o povo quando eles se levantam contra o Estado capitalista.

A Verdade – Qual a importância dessa campanha para a luta dos direitos humanos no mundo?

Claudio Medina – Em primeiro lugar, gostaria de sublinhar que a solidariedade para com os irmãos e irmãs da classe trabalhadora é um princípio de classe. Por essa razão, é de extrema importância que a campanha não se desenvolva somente no Paraguai e na Argentina, que é onde está a família Villalba, mas em todo o continente, como nesta delegação que representa o Brasil. É preciso destacar a importância da solidariedade internacional para unir forças, organizar-se e denunciar publicamente a repressão e perseguição da Família Villalba.

Note que a burguesia e suas instituições repressivas não têm problemas de coordenar-se internacionalmente. Por exemplo, no dia 12 de abril, a ministra argentina Patricia Bullrich ordenou ilegalmente que a Família Villalba fosse detida de forma muito violenta, apontando armas pesadas para as crianças. Fizeram tudo em cumplicidade com o Estado paraguaio, que solicitou a extradição. Naquela ocasião, a Família Villalba foi detida e, em seguida, liberada porque tinham o direito de refugiados políticos. Entretanto, o Governo Milei lhes tirou o asilo e estão obrigadas a continuar fugindo desta terrível perseguição.

A Verdade – Você gostaria de mandar um recado para a militância do Brasil?

Fabricio Arnella – Sentimo-nos muito honrados e, ao mesmo tempo, acompanhados neste caminho. Não é comum assistirmos de forma tão sistemática e contundente à materialização do internacionalismo, que, por vezes, se reduz apenas a declarações e assinaturas. Apesar da indiferença do Estado e de muitas organizações de direitos humanos, sociais e políticas, esta delegação cumpriu os seus objetivos e fez-se sentir com a entrega de notas, a conferência de imprensa e a sua destacada participação no evento na Praça. Não é fácil adiar as próprias agendas, alocar recursos e múltiplos esforços para estar ao lado de uma causa tão sensível. Através de Guillermo, María José, Isis, Gabriela, Claudia e Claudio estendemos nossa gratidão aos seus espaços sindicais, políticos e institucionais e a todas as pessoas e organizações da Argentina, Brasil, Honduras e Uruguai aqui representadas.

Matéria publicada na edição nº 304 do jornal A Verdade

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