Sobre a recente proibição do uso de celulares nas escolas, o Movimento Rebele-se defende: “É preciso que essa medida venha acompanhada de uma política séria de incentivo à cultura, ao esporte e ao lazer; contratação de mais professores, psicólogos e assistentes sociais; promoção de aulas de artes; abertura das quadras e bibliotecas durante os intervalos e liberdade de organização dos grêmios estudantis.”
Coordenação do Movimento Rebele-se
O uso abusivo e o vício em celulares e outros dispositivos eletrônicos está atrapalhando a aprendizagem das crianças e jovens nas escolas. Nos últimos anos, alguns países como França, México, Espanha e Grécia chegaram a adotar uma política de regulamentação com o objetivo de combater a falta de sociabilidade entre os estudantes, problemas de saúde mental, distração e falta de concentração durante as aulas.
No Brasil, algumas unidades de ensino adotaram a proibição dos celulares e, no dia 13 de janeiro, o presidente da República sancionou a Lei 15.100/25, que proíbe o uso dos dispositivos nas instituições de ensino em todo território nacional. A lei permite a utilização de dispositivos para fins pedagógicos e didáticos, desde que sob supervisão de professor(a).
Falta de concentração
Diferentes estudos apontam que o uso do celular interfere na capacidade de concentração das pessoas. O relatório do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), de 2022, aponta que 8 em cada 10 alunos brasileiros de 15 anos disseram que se distraem com o uso de celulares nas aulas de matemática. Também há impacto pela simples presença de um smartphone no mesmo local que o indivíduo. Quando as pessoas conseguem evitar a tentação de verificar seus telefones, a mera presença desses dispositivos reduz a capacidade cognitiva. Ou seja, o esforço de ignorar a presença do dispositivo consome recursos cognitivos, tornando a concentração mais difícil e o desempenho nas tarefas prejudicado.
Problemas de saúde
O uso excessivo de dispositivos móveis acarreta em problemas musculares, ortopédicos, visuais, distúrbios do sono, dependência e transtornos psicológicos, como ansiedade e depressão.
A preocupação se intensifica quando se trata de crianças e adolescentes. Estudo publicado na Clinical Psychological Science revelou uma relação entre o aumento do tempo de uso desses aparelhos e o aumento dos índices de depressão e suicídio entre os jovens.
Desde a pandemia, o isolamento social entre os jovens tem se tornado uma preocupação crescente. O uso excessivo de celulares agrava essa situação, substituindo relações interpessoais por conexões digitais superficiais. Durante os intervalos escolares, muitos jovens preferem ficar em frente às telas em vez de interagir com os colegas, o que prejudica o desenvolvimento das habilidades sociais.
Movimento Estudantil
O vício em celulares tem afetado até mesmo a percepção dos estudantes sobre os problemas das escolas e o consequente envolvimento dos estudantes nas atividades do movimento estudantil. Por vezes, o celular se faz mais presente do que o que está sendo discutido em uma assembleia ou na reunião do Grêmio. Nas passagens em salas, testemunhamos que avisos importantes para as lutas, atos e ocupações competem com os chamados “vídeos curtos”.
Cabe, portanto, às entidades estudantis trabalharem para estimular a conscientização sobre os problemas que esse vício traz. É preciso despertar sobre nossa própria realidade e equilibrar os avanços tecnológicos com e a saúde da juventude, alinhada à organização da luta pela transformação da educação e da sociedade.
Quando os milhões de estudantes secundaristas tirarem os olhos das telas, poderão se indignar com a realidade da educação e lutar para transformá-la.
Lutar para transformar a educação
As escolas públicas estão abandonadas, com muitos problemas de infraestrutura, desde a falta de sabonete nos banheiros até a interdição de prédios pela falta de manutenção. A reforma do Novo Ensino Médio aprofundou as desigualdades, piorou o ensino público e destruiu a possibilidade de um ensino crítico e emancipador nas escolas.
A direita e os fascistas que ocupam o Congresso Nacional e os Governos Estaduais trabalham ativamente para impulsionar o desmonte da educação. Os recentes ataques têm como objetivo firmar o poder do lucro acima dos direitos da comunidade escolar, com a privatização do ensino. Nessa mesma lógica, a militarização impõe a repressão e a violência dentro das escolas.
E, diante de todos estes problemas, o Governo Federal, que deveria defender a educação, escolhe reduzir o seu orçamento com o Arcabouço Fiscal. Isso quer dizer que a restrição do uso de celulares é uma medida urgente de saúde pública, mas não vai resolver todos os problemas da educação. Além da revogação do Novo Ensino Médio, da militarização e privatização das escolas, queremos mais verbas para a educação pública brasileira.
É preciso que essa medida venha acompanhada de uma política séria de incentivo à cultura, ao esporte e ao lazer; contratação de mais professores, psicólogos e assistentes sociais; promoção de aulas de artes; abertura das quadras e bibliotecas durante os intervalos e liberdade de organização dos grêmios estudantis.
Precisamos de uma juventude forte, unida e saudável, capaz de edificar uma nova escola e, consequentemente, uma nova sociedade. Vamos à luta em defesa das nossas vidas e das escolas!
Matéria publicada na edição nº 306 do jornal A Verdade