UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sábado, 15 de março de 2025

Escala 6×1 prejudica mais as mulheres

Leia também

Dados do IBGE mostram que as mulheres recebem, em média, 80% do salário dos homens, com um impacto ainda maior sobre as mulheres negras. A escala 6×1, predominante no comércio e no telemarketing, agrava essa realidade, impedindo a qualificação profissional e sobrecarregando ainda mais as trabalhadoras.

Guita Marli e Adriana Farias | Movimento Olga Benario (PE)


MULHERES – Geny, 18 anos, mora com seus pais e mais quatro irmãos menores. Ela queria terminar o segundo grau no colégio para conseguir um emprego formal e ajudar nas despesas da casa, além de ficar com alguns trocados para comprar batom, esmalte e creme para cabelo.

Amanda, 23 anos, é mãe solo. Todo dia, gastava a sola da chinela em busca de um emprego para não mais ouvir: “Quem pariu Moisés que o embale”. Desejava sustentar e alimentar Ágata, que nasceu em meio a um relacionamento abusivo.

Mas não é fácil para as mulheres encontrarem emprego no país, como mostram os dados do IBGE. A desvalorização da mão de obra feminina é uma realidade incontestável, já que as mulheres recebem cerca de 80% do valor dos salários dos homens. Se a mulher for negra, seu salário é ainda menor.

Muitas jovens que procuram emprego acabam sendo engolidas pelo setor de serviços, no comércio e no telemarketing, onde a escala 6×1 é dominante e a superexploração é mais constante.

Essa escala reflete a essência do próprio sistema econômico capitalista que, na verdade, é uma máquina de moer gente. Gente que precisa ganhar dinheiro para sobreviver e entra no chamado “mercado de trabalho”, em que mulheres e homens buscam sua sobrevivência tendo sua força de trabalho como mercadoria. O que importa para esse sistema é o lucro dos patrões, que, a cada dia, procuram novas formas para extrair o lucro máximo da classe trabalhadora.

As mulheres entraram no mercado de trabalho, que antes era masculino, numa fase em que faltavam homens para produzir devido às guerras na Europa. Naquele período, o mundo estava mudando a forma de produzir da pequena escala para a produção em série, uma necessidade do desenvolvimento da humanidade. Dessa forma, elas foram puxadas pela demanda da produção, com promessas dos capitalistas de que a indústria lhes traria liberdade e independência, mas foram engolidas, desvalorizadas com salários menores que seus colegas homens, como uma força de trabalho menosprezada. 

De lá para cá, muita coisa mudou, mas não o fato de que para alguém ficar rico nesta sociedade é preciso explorar a força do trabalho de mulheres e homens em jornadas extenuantes. Essa dura realidade atinge principalmente as mulheres, como no caso da escala 6×1, afinal, além de trabalhar seis dias na semana e ter apenas um dia de descanso, ainda acumulam o trabalho doméstico, sendo responsáveis por cuidar dos filhos, lavar roupa, fazer comida e arrumar a casa.

Geny, enfim, fez teste para uma vaga de caixa de supermercado no seu bairro e segue a vida sem expectativa de crescimento profissional. Seu salário mal dá para comer e ajudar sua família a se vestir, pagar passagem, aluguel, água e luz e só conseguem comer carne duas vezes por semana, mesmo com três pessoas da família trabalhando

Amanda trabalha na banca de bicho na frente de sua casa, porque não conseguiu uma vaga na creche do bairro, uma vida difícil para uma jovem cheia de vontade, de força para trabalhar, que recorre ao subemprego, obrigada a se submeterem a uma vida com ainda mais percalços.

A escala 6×1 sinônimo de superexploração, é a impossibilidade de tempo e oportunidade dos trabalhadores investirem em formação profissional para ter descanso, saúde e convívio com a família.

O capitalismo oferece apenas ilusões, mas, fruto da experiência, cresce a consciência da classe trabalhadora. Não vamos nos calar. No próximo 08 de Março, Dia Internacional da Mulher, vamos às ruas exigir nossos direitos, creche para nossas filhas e filhos, salários decentes, fim da carestia e da escala 6×1.


Matéria publicada no jornal A Verdade impresso edição nº308

More articles

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Últimos artigos