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sábado, 15 de março de 2025

A campanha pela creche e a libertação da classe trabalhadora

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A falta de acesso à creche impacta diretamente mães trabalhadoras, que dependem desses serviços para conciliar emprego e cuidado com os filhos. Diante desse cenário, o Movimento Olga Benario mobiliza campanha para ampliar o direito à creche, reivindicando mais vagas e melhores condições para a educação infantil.

Nana Sanches | Coordenação Nacional do Movimento Olga Benario


MULHERES – Para o sistema capitalista, a classe trabalhadora é vista como um número, como estatística. Para a burguesia, é necessário manter uma massa de trabalhadores reproduzindo capital, vendendo seu trabalho em troca de um salário, que, na maioria das vezes, não cobre as necessidades de uma família. Por isso que, há décadas, a classe trabalhadora luta por direitos e políticas públicas que garantam melhores condições de vida para nós e nossos filhos. 

Para as mulheres, essa luta é ainda maior, já que, na maioria dos lares, elas são as responsáveis por cuidar dos filhos e ainda fazer o trabalho doméstico. Para conseguir cumprir tudo isso, as mulheres trabalhadoras precisam de serviços públicos que garantam que seus filhos estejam em boas condições enquanto elas trabalham. 

Assim, as mulheres cumprem um papel fundamental na sociedade: são responsáveis pela reprodução de trabalhadores. Neste sentido, a educação cumpre o papel de formar a classe trabalhadora para que ela possa assumir seu posto de trabalho quando adulta, garantindo a troca de trabalhadores entre uma geração e outra sem que haja interrupção. Parte desta educação é realizada pelas mulheres.

Contudo, o estudo “Levantamento Nacional Retrato da Educação Infantil no Brasil: acesso e disponibilidade de vagas”, divulgado pelo Ministério da Educação em agosto de 2024, mostra que mais de meio milhão de crianças brasileiras, aproximadamente 633 mil, não têm acesso à creche, aguardando vagas em instituições públicas.

Importância da creche

Creche é um estabelecimento voltado para crianças de 0 (zero) a 3 anos e 11 meses e dispõe de profissionais preparados para atendê-las. Sabemos que, nesta idade, a criança não tem autonomia alguma, precisando de outra pessoa para alimentação e higiene. Desde o início da vida, a criança precisa de alimentação adequada, brincadeiras e aprendizagens. Sem isso, elas têm maior dificuldade de se desenvolver plenamente. A creche é um direito das crianças. Também é um direito de mães e pais que precisam que seus filhos estejam sob cuidados para que possam trabalhar ou estudar. 

Ao contrário de países que desenvolveram o setor industrial rapidamente, no Brasil, as primeiras instituições voltadas para atendimento a crianças surgiram através de instituições religiosas, que mantinham locais para crianças filhas de escravizadas, por volta dos anos 1870, década em que a Lei do Ventre Livre foi aprovada no país, que dava liberdade a todos os bebês de mulheres escravizadas. Só com o fortalecimento da classe operária brasileira, entre os anos 1900 e 1930, passaram a existir as creches.

Entendendo o papel que a mulher desempenha na produção e reprodução social, a ideologia propagada pelo capitalismo trabalha para colocar as mulheres no papel de esposas e mães. Por isso, além de serem contrários à educação digna dos filhos da classe trabalhadora, a burguesia e seus políticos de estimação têm atacado os direitos reprodutivos das mulheres.

Direitos reprodutivos são medidas que possibilitam que as pessoas decidam, de forma livre e responsável, se querem ou não ter filhos, quantos filhos querem ter e em qual momento de suas vidas. Muitos países garantem que mulheres tenham acesso a essa escolha e, nesses países, poucas mulheres morrem ao fazer abortos clandestinos, ao contrário do que ocorre no Brasil atualmente. E mais, são as mulheres negras as que mais morrem por não ter o atendimento necessário em casos de aborto. 

A verdade é que a burguesia utiliza todos os recursos possíveis para manter as mulheres oprimidas, presas às responsabilidades domésticas, presas em trabalhos precarizados e fazem com que seus filhos sigam pelo mesmo caminho, batalhando toda vida, trabalhando e, mesmo assim, sem conseguir ter uma casa, ter direito a transporte, alimentação e educação decentes. 

Por tudo isso, o Movimento de Mulheres Olga Benario organiza anualmente uma ampla campanha pelo direito à creche. Nessa campanha, conversamos sobre o direito à creche com mulheres e homens trabalhadores, estudantes, donas de casa, nos locais de trabalho, instituições de educação, bairros e ocupações e, a partir disso, organizamos diversos tipos de luta para garantir vagas em creches, fraldários e brinquedotecas nos dias de semana e também nos sábados e domingos, já que muitas mães trabalham na escala 6×1. Organizemos abaixo-assinados, ocupações, plenárias, mas o principal é mantermos as mulheres organizadas em núcleos antes, durante e depois da campanha da creche. Esta é a única forma que temos de conquistar uma vida digna para nossa classe.


Matéria publicada no jornal A Verdade impresso edição nº308

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