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sexta-feira, 18 de abril de 2025

Polícia de São Paulo agride manifestantes que lutam contra a privatização dos trens

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Guilherme Goya | São Paulo (SP)


No coração da cidade de São Paulo, a Rua Boa Vista tem o seu movimento cotidiano concentrado nos prédios comerciais e lojas que a cercam. O cenário no fim da manhã do último dia 27, porém, foi diferente. Um cenário de guerra tomou conta da rua após a Polícia Militar utilizar bombas, gás de pimenta e pauladas para reprimir violentamente centenas de apoiadores e familiares de trabalhadores da CPTM, que lutavam contra a privatização das linhas 11-Coral, 12-Safira e 13-Jade. Eles ocupavam o prédio da Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes contra a privatização da Companhia Paulista de Trens Metropolitano.

Mesmo com a negociação, que envolvia a saída dos manifestantes do prédio e o prosseguimento do ato na rua, as forças policiais não demoraram a agir com provocação e truculência. Nicole Ramos, assistente social e coordenadora nacional do Movimento de Mulheres Olga Benario, foi arbitrariamente detida ao tentar se juntar ao bloco dos manifestantes na rua. Ela recebeu socos na costela e foi levada à força por dois policiais para o camburão, sem qualquer justificativa. Sabendo que a repressão geraria revolta, a PM imediatamente avançou o pelotão do Baep e da Força Tática e intensificou a violência.

Na linha de frente do ato, foi possível constatar mais arbitrariedades. Golpes de cassetete na altura da cabeça fizeram dezenas de manifestantes saírem sangrando com ferimentos graves. A PM agrediu até mesmo mulheres que estavam caídas. Enquanto registrava esse momento, também fui agredido com golpes na altura do quadril, que deixaram um hematoma e inchaço no local. Outros companheiros da equipe de reportagem do jornal A Verdade também foram agredidos.

Resistência à repressão

Ainda assim, a violência não abalou aqueles que tinham a convicção de que a luta contra a privatização era justa. Apoiados uns nos outros e nos demais trabalhadores que passavam pelo local, o grupo se reorganizou de cabeça erguida, a poucos metros dali, para dar os próximos passos no enfrentamento à privatização dos trens de São Paulo. Rapidamente, a denúncia do que havia ocorrido ganhou apoio de diversos trabalhadores da região, e a revolta com a truculência da PM estava na boca do povo. 

“Fui pega por um dos policiais, e depois vieram mais cinco. Senti eles me batendo principalmente na costela. A minha reação foi mostrar que aquilo era injusto. Comecei a gritar contra a privatização e que eu sou trabalhadora. Havia várias pessoas passando e algumas mulheres da limpeza de um dos prédios também gritavam para me soltar. Vários trabalhadores passaram filmando e pedindo minha liberdade”, disse Nicole, que permanece com sequelas da violência que sofreu.

Além dela, o programador Yan Rodrigues (26) e o estudante Samuel Zanateli (18) foram detidos. Com a rápida pressão popular, foram soltos no mesmo dia, escancarando a injustiça de suas prisões. “Na hora, me veio a lembrança daquela menina que foi estuprada dentro de uma viatura da Polícia. Mas, dentro do camburão, eu reforcei para mim mesma, a todo momento, que eu não estava sozinha, que eu tinha um coletivo e um Partido que estava ali por mim. Isso foi o que mais me fortaleceu”, reforçou Nicole.

Uma das pessoas que ficou ferida com mais gravidade foi Ana Leite, diretora da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) pelo Movimento Rebele-se. Convidada pelas famílias para apoiar a manifestação, a estudante de 19 anos recebeu diversos golpes de cassetete na cabeça e precisou ser encaminhada ao hospital para tomar pontos.

“Eles bateram algumas vezes no mesmo lugar até abrir um corte. Na hora, achei que eu ia morrer. Não conseguia respirar. Mas quando eu senti a companheira me carregando, eu tive menos medo. Eu já não estava apavorada, porque eu tinha certeza que os meus camaradas não iam deixar que algo mais grave acontecesse comigo, e realmente não permitiram”, disse Ana, que recebeu os primeiros socorros dos próprios companheiros ainda na rua, antes da chegada do Samu.

Categoria quer a luta 

O uso da força policial tem o objetivo de reprimir aqueles que se posicionam e lutam contra o projeto de privatização dos transportes promovido por Tarcísio de Freitas. Sem consulta popular e atropelando a opinião do povo, o governador enfiou goela abaixo da população paulista o seu plano privatista na base da porrada, como já havia feito com a venda da Sabesp, quando a mesma PM agrediu e prendeu manifestantes no plenário da Assembleia Legislativa, no fim de 2023.

Além de entregar a gestão das linhas nas mãos de empresas bilionárias, a proposta de privatização também inclui o Programa de Demissão Incentivada (PDI), que tem como objetivo demitir 72% da categoria, ou seja, 4.200 trabalhadores da ferrovia. Aos trabalhadores que permanecerem em seus postos, a proposta é de redução de 50% dos salários.

Sabendo disso, a categoria demonstrou disposição de luta contra o projeto de privatização e chegou a aprovar, em assembleia, a paralisação total do serviço a partir da meia-noite do dia 26/03, decretando greve como forma de pressionar o governo. Contudo, a própria direção do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Central do Brasil realizou uma manobra para suspender a greve. Ainda assim, mais de 500 assinaturas foram coletadas em um abaixo-assinado que rodou a base ferroviária para exigir a convocação de uma nova assembleia para garantir o direito de greve dos trabalhadores.

No dia seguinte à repressão contra aqueles que lutam em defesa da CPTM nas mãos do povo, o Governo de São Paulo concluiu o leilão que entrega as Linhas 11, 12 e 13 à iniciativa privada. Com grande aparato policial nos arredores da B3 (bolsa de valores), a população foi mais uma vez impedida de se manifestar, enquanto a burguesia comemorava a entrega de mais um setor do transporte paulista em suas mãos. Ainda assim, os movimentos sociais, familiares e amigos dos trabalhadores da CPTM, junto ao Movimento Luta de Classes (MLC), continuam na organização de uma campanha em defesa do caráter público do transporte.

Ao realizar uma assembleia ferroviária e popular, o grupo aprovou propostas à categoria, ao governo e ao sindicato, demonstrando à sociedade a sua posição de resistir à privatização, organizar greves a partir da decisão democrática da base ferroviária, além de garantir solidariedade àqueles que lutam e a exigência de um sindicato combativo e transparente nas suas decisões.

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