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quinta-feira, 22 de maio de 2025

Josenildo Antônio: “Temos uma grande oportunidade de fazer uma greve geral”

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O jornal A Verdade conversou com Josenildo Antônio, mecânico de manutenção de máquinas e diretor executivo do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Laticínios e Alimentação de São Paulo (Stilasp), responsável por acompanhar as bases na Região Metropolitana da capital paulista e realizar assembleias nas fábricas representadas pelo sindicato.

Entre elas, a Pepsico, onde os trabalhadores fizeram história ao deflagrar a primeira greve do país contra a escala 6×1, em novembro de 2024. Nesta entrevista, Josenildo relata como foi a mobilização, que, ao final, garantiu uma folga extra aos trabalhadores.

Cadu Machado | Redação


A Verdade – Como o Stilasp têm desenvolvido a luta contra a escala 6×1?

Josenildo AntônioTemos algumas bandeiras antigas do sindicato e uma delas era garantir nas convenções coletivas a mudança da escala de trabalho para que os trabalhadores folguem sábado sim, sábado não.

A legislação fala da jornada de trabalho de 44 horas de segunda a sábado, que é a escala 6×1. Mas nós já conquistamos acordos para que os trabalhadores tenham um pouco mais de folga, mesmo antes do movimento pelo fim da escala 6×1. Na indústria Panco, por exemplo, há mais de dez anos o acordo prevê a folga sábado sim, sábado não, a chamada semana espanhola.

Nos últimos anos, temos feito muitas greves na categoria e, às vezes, a gente consegue fechar na própria mesa de negociação porque o patrão sabe que a gente vai e faz a greve quando é necessário.

A greve é desgastante, mas é necessária, é a única ferramenta que a gente tem hoje para avançar, porque, se não houvesse a greve, a gente não teria como avançar. A gente só avança quando as máquinas estão paradas.

Quando as máquinas estão silenciosas, sem produção, o patrão começa a ouvir e dar um pouco mais de valor aos trabalhadores. Quando elas estão funcionando e a gente só está negociando, sem possibilidade de uma paralisação, não consegue avançar.

O que os trabalhadores pensam sobre essa pauta?

O fim da escala 6×1 é algo que tocou mesmo eles. É um sofrimento que os trabalhadores vêm tendo. Quando se trabalha no regime 6×1, não dá tempo para passear, não tem nem ânimo, porque no dia da folga, o trabalhador está cansado, está exausto.

Então, vivem exclusivamente para a empresa, não vivem para a família, não vivem para eles, não têm uma vida social, vivem exclusivamente para trabalhar. 

Pior ainda é trabalhar e receber um salário no final do mês que não dá nem para comprar o necessário e os alimentos, ou comprar algum objeto que ele tenha sonho ou vontade de comprar.

Mesmo a lei permitindo a escala 6×1, a gente tem o direito de lutar. Nós passamos isso para o trabalhador e eles aderiram à luta e à greve. Houve uma adesão muito grande dos trabalhadores.

Como foi o processo de construção da greve na Pepsico?

Antes de a gente fazer a greve na Pepsico, ia iniciar com uma multinacional também, a Dr. Oetker. Nós encaminhamos a pauta para as duas empresas para negociar o trabalho sábado sim, sábado não. Na Dr. Oetker, quando a gente mobilizou os trabalhadores e publicamos o edital de greve, eles pediram 15 dias para fazer uma avaliação. Nesses 15 dias, fizemos uma tratativa com a empresa e implantamos lá essa conquista.

Aí fomos para a Pepsico para mobilizar os trabalhadores. E hoje temos uma grande certeza: a pauta de reivindicar um descanso a mais é totalmente abraçada pelos trabalhadores porque eles estão exaustos. E eles só começaram a perceber que estão tão exaustos quando começou a se falar.

Quando começou a falar o fim da escala 6×1, deu o boom. Nós já tínhamos adesão antes, mas, quando se iniciou a campanha nas redes digitais e com os movimentos, os trabalhadores começaram a se conscientizar mais e começaram a ouvir e a se mobilizar. Nós fomos para a empresa, entregamos a pauta, negociamos, tivemos várias rodadas de negociação.

A Pepsico falou que era impossível implantar essa escala de sábado sim, sábado não. Nós insistimos, insistimos, até que não deu para fechar na mesa de negociação e nós publicamos um edital de greve. Comunicamos à empresa para dar o prazo de 72 horas para ela rever a postura e, mesmo assim, ela não voltou atrás, insistiu que não poderia mudar a escala do trabalho porque iria prejudicar a produtividade.

Fizemos a convocação, os trabalhadores toparam ir para a greve. Começamos a greve no domingo (24/11/2024). Decretamos a greve, os trabalhadores foram para casa e ficamos nove dias de greve.

Foi uma semana de greve e, na semana seguinte, fechamos um acordo no Tribunal. Os trabalhadores tiveram um dia a mais de folga no mês, que não foi o objetivo que a gente queria. Nós estávamos pleiteando no mínimo dois dias de folga a mais, mas foi uma conquista importante.

Seguimos negociando com a empresa, continuamos a negociação e, provavelmente, se a empresa não ceder em mais um dia de folga, pode ser que a gente tenha mais uma greve novamente na Pepsico, porque a gente não desistiu e os trabalhadores não desistiram, seguem na disposição de construir.

A greve da Pepsico também influenciou no fim da 6×1 em outras empresas. A Liotecnica, por exemplo, tem 600 trabalhadores e ela era o outro passo que a gente ia tomar. Nós tivemos a greve na Pepsico e comunicamos à empresa que a próxima seria ela. Tivemos uma reunião e eles pediram para a gente 30 dias para se adaptar e já vamos implementar lá também o sábado sim, sábado não.

Por que essa luta é tão importante?

Eu sou da Panco, uma empresa de biscoitos. Sou mecânico de manutenção. Lá nós criamos uma jornada de trabalho e mostramos que é possível manter a mesma produção trabalhando de segunda a sexta. O problema é a ganância dos empresários, que, se tiverem que sugar um dia ou dois dias a mais, mesmo que não tenha necessidade, vão fazer. 

No ano passado, teve mais de 500 mil trabalhadores afastados por doença psicológica. Eles estão doentes porque trabalham o mês inteiro sem folgar. Imagina como está a cabeça desse trabalhador. Ele não tem o direito de folgar, ele não tem o direito de descansar. Trabalha, ganha pouco… A gente ainda precisa lutar e avançar muito.

Qual é a reação dos trabalhadores depois dessas conquistas?

Nós temos relatos dos trabalhadores que eles estão muito contentes e muito satisfeitos. Vários trabalhadores mandaram mensagens falando que foram à praia depois de 15 anos, 20 anos de empresa. Eles não iam para a praia porque eles tinham só um dia de folga, então ficava muito cansativo ir e voltar. No primeiro dia de folga que eles tiveram no sábado, conquistado com a greve, a gente recebeu vários relatos e fotos deles agradecendo e falando que valeu a pena lutar.

A gente tem tido um retorno muito positivo dos trabalhadores, que estão reconhecendo ainda mais as conquistas alcançadas em nossas convenções coletivas. E isso foi conquistado com luta, com luta mesmo, com greve, com paralisação. 

Mas essa conquista de trabalhar a semana espanhola e poder ficar dois dias com a família, foi uma das que eles mais ficaram satisfeitos. A felicidade deles, o descanso deles, eles parecem que olham com mais brilho no olho da gente, começam a aderir mais, a confiar mais.

Você acha que essas greves e lutas influenciam na aprovação do Projeto de Lei no Congresso Nacional? 

Sim, influencia! Infelizmente, o movimento sindical está deixando uma bola quicando na frente do gol e não chuta. Quando a gente falava simplesmente da redução da jornada de trabalho, não havia empolgação dos trabalhadores. Agora, quando falamos do fim da 6×1, é impressionante: o trabalhador vibra, grita, levanta o braço, faz cara… é uma coisa muito impactante.

O fim da escala 6×1 é importante porque precisa haver redução da jornada sem cortar o salário. Não tem outro caminho. Eu acho que o movimento sindical está perdendo uma grande oportunidade de fazer uma greve geral. Essa pauta pode ser o impulsionador de uma greve geral, e a gente precisa avançar para que o projeto passe no Congresso, porque aí vira lei e todas as empresas do país vão ter que se adaptar.

Matéria publicada na edição n° 311  do Jornal A Verdade.

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