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sábado, 14 de junho de 2025

Ato no Recife exige justiça 5 anos após morte do menino Miguel

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Manifestação denunciou descaso da justiça brasileira em condenar a culpada pela morte do menino Miguel, ocorrida em 2020.

Redação PE


BRASIL – O dia 2 de junho é uma data que ficou marcada no coração do Recife. Nesse dia, há exatos 5 anos, Mortes Renata, perdia seu único filho, Miguel Otávio, data essa que foi marcada com um ato público em frente ao Pier Maurício de Nassau, edifício de alto luxo, chamado popularmente como “Torres gêmeas”. O ato contou com a participação de diversas entidades e movimentos sociais. Na ocasião a Frente Negra Revolucionária (FNR) entregou seu manifesto de fundação para Mirtes, junto ao movimento de mulheres Olga Benário e o MLB. 

Não esqueceremos

Em 2 de junho de 2020, em plena pandemia mundial de COVID, Mirtes Renata teve que levar seu filho, então com apenas 5 anos, para o trabalho, por não ter com quem deixar a criança. Essa, aliás, é infelizmente a realidade de muitas domésticas em nosso país, que são forçadas a levar seus filhos para o trabalho por falta de creche, apoio dos maridos ou nenhuma possibilidade de ter com quem deixar os meninos.

O caso de Miguel é ainda mais grave, pois estávamos exatamente na quarentena, com escolas e creches sem funcionar. Sarí Corte Real, patroa de Mirtes, deixou Miguel sozinho no elevador de serviço, além de apertar o botão, enquanto Mirtes passeava com o cachorro da patroa. Miguel caiu do nono andar, o que acarretou na prisão em flagrante de Sarí Corte Real por homicídio culposo (quando não se tem a intenção de matar), abandono de incapaz e negligência, tendo sido liberada após uma fiança de R$20 mil. 

Pelos crimes foi condenada a 8 anos e seis meses, mas até hoje responde em liberdade, tendo inclusive recorrido em segunda instância, diminuindo a pena para 7 anos. Um outro fato que passou impune em todo o processo foi o fato de que a mãe e a avó de Miguel eram pagas com dinheiro do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) do município de Tamandaré, onde Sérgio Hacker Corte Real (PSB) era Prefeito da cidade, sendo inclusive denunciado por improbidade administrativa, já que as duas trabalhavam como funcionárias fantasmas da Prefeitura. 

No ato, Mirtes lembrou que “a mulher que cometeu o crime contra meu filho está vivendo a vida dela como se nada tivesse acontecido. Sarí ainda está solta, o processo passou um bom tempo parado, sem andamento nenhum. Se fosse o contrário, o caso já estaria resolvido. Eu já estaria presa se tivesse deixado a filha dela sozinha no elevador e terminasse da forma que terminou”. 

A família Corte Real é representante da elite pernambucana, tendo diversos negócios no ramo imobiliário, comércio, postos de gasolina e diversos nomes ligados diretamente a política local. Não à toa que o casal mora na região do Recife que possuí o metro quadrado mais caro, com alugueis dos apartamentos das chamadas Torres Gêmeas custando em torno de R$15mil, fora IPTU e condomínio. Para a imprensa os advogados de defesa da ex-primeira dama afirmaram que “seguem confiantes que o judiciário deve absolver Sarí”, além de classificarem a acusação de “injusta”

“No país negro e racista / No coração da América Latina…”

Em setembro daquele 2020 a cantora e compositora Adriana Calcanhotto lançou a música “2 de junho”, homenageando e denunciando a impunidade cometida pela justiça no caso de Miguel. A artista ainda doou os direitos autorais da música para o Instituto Menino Miguel, criado também naquele ano pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) para fomentar projetos de extensão voltados para as crianças das comunidades periféricas e outras ações sociais.

A luta por justiça de Mirtes Renata tornou o Menino Miguel num símbolo de resistência em todo o país. O nome de Menino Miguel batizou ocupações urbanas, inspira artistas e poetas, alimenta a luta dos movimentos sociais por uma sociedade mais justa enquanto vemos os responsáveis por sua morte escondidos em suas mansões, envoltos na covardia e no anonimato que o dinheiro compra.

A Frente Negra Revolucionária (FNR) fez questão de afirmar o compromisso com essa luta em seu manifesto de lançamento, como um compromisso de lutar para destruir esse sistema injusto e racista: Nem mesmo as crianças, que deveriam ser protegidas e educadas estão sendo poupadas do extermínio, como ocorreu com as vidas da menina Ágatha e Thiaguinho (Rio de Janeiro, 8 anos e 13 anos respectivamente) e Jonathas (Engenho Roncadorzinho, Barreiros/PE, 9 anos).”

No capitalismo as crianças não são poupadas nem protegidas. Se forem os filhos da classe trabalhadora e da periferia a impunidade e a violência são ainda pior. São 5 anos que a justiça se coloca arbitrariamente ao lado dos poderosos, enquanto uma mãe periférica convive diariamente com o luto e a ausência. São milhares de Mirtes que sofrem diariamente nas mãos desse sistema apodrecido que a cada hora que passa escancara a necessidade de ter um fim, para que possamos construir uma sociedade onde crianças fiquem seguidas e não percam suas vidas pela garantia da exploração e do individualismo de uma elite racista.

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