A burguesia e os latifundiários do Paraguai, apoiados pela embaixada do EUA, aplicaram sumariamente um golpe no país, valendo-se das próprias leis burguesas, que sempre permitiram que as classes dominantes impusessem sua vontade.
Em duas rodadas de votação no Parlamento, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, foi deposto de seu cargo no último dia 22 de junho. Na Câmara dos Deputados o resultado foi de 76 votos a favor do impeachment e apenas um contra, e no Senado de 39 votos a favor, quatro contra e uma abstenção. Assumiu imediatamente a Presidência da República o vice de Lugo, Federico Franco.
Em nota oficial, a Direção Nacional do Movimento ao Socialismo, partido do presidente deposto, afirma: “O Parlamento hoje só representa a si mesmo. Os parlamentares que votaram pela destituição do presidente Fernando Lugo não podem arrogar-se de maior representação que a si próprio. Assim, 115 indivíduos impuseram sua vontade sectária aos 700 mil cidadãos que elegeram Lugo como presidente”.
Da abertura formal do processo de cassação à sua execução, passaram-se menos de dois dias, não possibilitando tempo real para a defesa, nem muito menos tempo para que o povo paraguaio, maior interessado na questão, pudesse opinar ou se manifestar sobre os rumos do seu país. Dada à forma truculenta e apressada como tudo foi feito, a manobra se constituiu num “Golpe de Estado Parlamentar”. Tudo isso, realizado com total monitoramento da Embaixada dos Estados Unidos no Paraguai.
O ex-bispo da Igreja Católica foi eleito como alternativa à dominação dos partidos oligárquicos, ao Partido Colorado – que comandou o país por seis décadas, inclusive sob uma ditadura abertamente fascista –, e recebeu apoio de parte das classes trabalhadoras, que acreditou em suas propostas.
Com o propósito de ganhar as eleições, Lugo construiu uma composição com o Partido Liberal, um dos partidos tradicionais da oligarquia, denominada Aliança Patriótica para a Mudança.
Devido a essa aliança com forças reconhecidamente de direita, um importante setor dos trabalhadores, especialmente dos camponeses, e as principais organizações de esquerda (Movimento Popular Pyhuara e o Pátria Livre) não o apoiaram, além de terem alertado para sua posição de conciliação com os latifundiários.
Como a principal promessa de Lugo para as massas populares foi a realização de uma Reforma Agrária que acabasse com o latifúndio, e esta não se concretizou em quatro anos de governo, os conflitos sociais no campo aumentaram. O último ato desta disputa secular no Paraguai foi o assassinato de 11 camponeses e a morte de seis policiais numa ação repressiva do Estado contra uma ocupação de terras improdutivas. A verdade é que Fernando Lugo, preso à aliança com as forças conservadoras, não conseguiu implementar nenhuma das reformas políticas, econômicas e sociais que prometeu na campanha, perdendo apoio popular.
Apesar de este fato ter sido o detonador da crise que culminou com o impeachment do presidente, este não foi um caso isolado, tendo já o Parlamento aprovado a Lei Antiterrorista, com a sanção presidencial, justamente para reprimir as lutas dos trabalhadores da cidade e do campo.
Centenas de militantes políticos estão sendo processados, perseguidos, demitidos e mesmo assassinadosd e os camponeses paraguaios permanecem vivendo na miséria, sem saúde, sem lar, sem terras, enquanto uma minoria de ricos fazendeiros enriquece cada vez mais.
As forças reacionárias nacionais e internacionais, em especial o imperialismo norte-americano, o Partido Colorado (derrotado nas últimas eleições) e o Partido Liberal (que governava com Lugo na Vice-Presidência) aproveitaram o cenário político de instabilidade e aplicaram sumariamente um golpe, valendo-se das próprias leis burguesas, que sempre permitiram que as classes dominantes imponham sua vontade. Novamente, a história se repete em nosso continente, já tão marcado por manobras políticas, corrupção estatal, golpes e ditaduras militares.
Mas o Governo de Fernando Lugo não satisfazia por completo a burguesia e os latifundiários, já que se inscrevia entre os governos ditos progressistas na América Latina, que possuem certas contradições com o imperialismo ianque e que, permanentemente, são alvo de seus atos subordinadores.
Fica, mais uma vez, a lição: fazer aliança com a grande burguesia e os latifundiários é a mesma coisa que colocar raposas para tomar conta do galinheiro.
As massas populares, os povos originários, os trabalhadores, os camponeses, a juventude e a esquerda revolucionária paraguaia repudiam esta farsa para depor o presidente eleito e não reconhecem o impostor Federico Franco.
Seguirão seu caminho, firmes e de cabeça erguida lutando por seus interesses e pela libertação nacional e social e por um Paraguai socialista.
Comitê Central do Partido Comunista Revolucionário (PCR)