A Aliança Democrática, formada por PSD e CDS, elegeu 91 deputados, enquanto o partido de extrema-direita Chega ampliou sua bancada de 50 para 60 cadeiras, tornando-se a segunda maior força na Assembleia da República em Portugal.
Victor Leôncio | Porto, Portugal
INTERNACIONAL – As eleições legislativas de 18 de maio confirmaram uma guinada à direita em Portugal, iniciada um ano atrás. Além dos 91 deputados eleitos pela coalizão de direita Aliança Democrática, formada por Partido Social Democrata (PSD) e Partido de Centro Social Democrático (CDS), a extrema-direita, através do partido Chega, também aumentou sua presença no Parlamento, passando de 50 para 60 deputados eleitos. Com esses resultados, a extrema-direita fascista tornou-se a segunda força política na Assembleia da República.
Juntos, o PSD, a Iniciativa Liberal (9 deputados) e o Chega elegeram 160 deputados dos 230, quatro a mais do que a maioria de dois terços exigida para uma possível revisão constitucional. Logo a seguir ao pleito, os liberais anunciaram a apresentação de um projeto de alterações à Constituição, que abre a porta à ameaça de revogação de direitos conquistados com décadas de luta das trabalhadoras e trabalhadores em Portugal.
Divórcio com a classe trabalhadora
A eleição marcou também a derrota da esquerda institucional. O Partido Socialista (PS) teve a sua terceira pior votação desde a redemocratização, em 1974, passando de 78 para 58 deputados eleitos, dois a menos que o Chega. O Bloco de Esquerda (1 deputada) e o Partido Comunista Português (3 deputados) também perderam assentos e ficaram à beira de sair do Parlamento.
A extrema-direita fascista foi a força política mais votada em quatro distritos que têm um histórico de eleger deputados do PCP e do PS: Setúbal, Faro, Beja e Portalegre. Isso deixou escancarada a debilidade dos partidos da esquerda parlamentar, cujas políticas de governo não se traduziram em benefícios reais para os trabalhadores do Alentejo e do Algarve, regiões que sofrem com secas, falta de recursos básicos e a crescente conversão em território turístico.
A cada vez maior frustração do povo português com a inércia da política institucional frente às atuais crises da habitação, da saúde e da educação confirmou a normalização de um discurso reacionário que coloca a culpa dos problemas da sociedade portuguesa exclusivamente nos imigrantes.
O falso discurso em torno da suposta dependência dos trabalhadores estrangeiros de subsídios do governo contrasta com a realidade: os estrangeiros, em 2024, contribuíram com 3,6 bilhões de euros (cerca de R$ 23,4 bilhões) para a Previdência Social portuguesa e exercem um papel essencial na economia do país.
Resistir e mobilizar
O fracasso eleitoral da “esquerda institucional” só confirma a necessidade de uma verdadeira ruptura na sociedade portuguesa. Portugal se confronta com governos que atuam como meros gestores do capital enquanto castiga os trabalhadores com condições de vida cada vez mais difíceis, salários defasados que não acompanham o crescente custo de vida, principalmente na habitação, privatizações na educação e na saúde, e fomentando um ambiente em que o racismo, o discurso de ódio ao imigrante e a xenofobia tornaram-se rotina.
Diante deste contexto de crescente tensão, o Núcleo da Unidade Popular (UP) em Portugal, mais do que nunca, reafirma seu compromisso de contribuir com a organização da classe trabalhadora na luta contra o capitalismo e o fascismo e para a construção da sociedade socialista.
Matéria publicada na edição impressa nº314 do jornal A Verdade