
Inaugurada no dia 25 de julho, Dia das Mulheres Negras, Latino-Americanas e Caribenhas, a atividade faz parte de uma campanha nacional de homenagem e memória a Gabriela Mariel, trabalhadora negra e militante do Movimento Olga, que foi vítima de feminicídio.
Redação PR
MULHERES- O Movimento de Mulheres Olga Benario realizou uma nova ocupação na capital paranaense, fundando a Casa de Referência da Mulher Enedina Marques. Localizada no Centro de Curitiba, na Rua Padre Antônio, 33, o objetivo do movimento é construir um centro de referência para atender mulheres em situação de violência.
A ocupação foi organizada em um espaço abandonado há quase 10 anos e que não cumpria função social, e é a 30ª casa construída pelo movimento no país. Inaugurada no dia 25 de julho, Dia das Mulheres Negras, Latino-Americanas e Caribenhas, a atividade faz parte de uma campanha nacional de homenagem e memória a Gabriela Mariel, trabalhadora negra e militante do Movimento Olga, que foi vítima de feminicídio.
Após a primeira ocupação do movimento na capital, a quantidade de mulheres em situação de violência atendidas de forma voluntária mais do que dobrou, e os registros de violência só aumentam: o estado do Paraná, segundo dados do Laboratório de Estudos de Feminicídio da UEL (Lesfem), é o segundo estado em número de feminicídios no país.
Essa realidade de opressão não é combatida de forma eficaz através de políticas públicas. Segundo Emily Kaiser, coordenadora nacional do movimento, “os serviços existentes ficam disponíveis apenas em horário comercial, em alguns dias menos. A Delegacia de Curitiba, única no estado com atendimento 24 horas, funciona com serviços reduzidos, a depender do horário em que a vítima for. O atendimento da CMB (Casa da Mulher Brasileira) se restringe aos residentes da cidade de Curitiba, e só existe acolhimento em risco de morte iminente.”
A forma como se organiza a sociedade, através da propriedade privada e com bases racistas e escravocratas, não permite que milhões de mulheres negras possam viver uma vida com dignidade. Mais de 60% das famílias monoparentais e em situação de fome no Brasil são chefiadas por mulheres negras. Em 2023, quase 70% dos casos de feminicídios registrados no país e mais de 50% dos casos de estupros foram contra mulheres pretas e pardas. “A luta das mulheres negras é fundamental para fazer enfrentamento à exploração e à opressão capitalistas, que segue, em pleno século XXI, tratando as mulheres negras e afro-latinas como a carne mais barata do mercado…”, relata Indira Xavier, coordenadora nacional do Movimento de Mulheres Olga Benario.
A homenageada, Enedina Marques, nasceu na cidade de Curitiba em 1913. Filha de uma família de lavradores do interior do estado, passou a sua infância trabalhando em casa de família com sua mãe, empregada doméstica. Foi alfabetizada e matriculada em uma escola particular pelo delegado que contratava os serviços de sua mãe, e rapidamente se destacou pela inteligência.
Em 1940, ingressou no curso de Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná e teve de enfrentar diversos obstáculos: registros históricos comprovam inúmeras perseguições a Enedina por parte de docentes, com reprovações arbitrárias e violências racistas dentro da sala de aula. Apesar das dificuldades, a aptidão para a produção científica e a disposição de lutar por um futuro diferente garantiu que fosse consagrada como a primeira mulher negra a se formar como engenheira no Brasil, em 1946.