UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Nossos queridos três camaradas

Leia também

Ana Letícia, Leandro e Welfesom são lembrados pela sua simplicidade, pelo compromisso com a libertação da nossa classe, pela alegria de como desenvolviam sua militância e pela camaradagem.

Edísio Leite | Belém (PA)


MEMÓRIA – No último 16 de julho, logo após às 04h da manhã, um micro-ônibus com estudantes da UFPA que estava a caminho do 60º Congresso da UNE, em Goiânia, foi atingido por uma carreta na BR-153, em Porangatu, já no Estado de Goiás, resultando num grave acidente que vitimou os camaradas Welfesom Alves, Ana Letícia e Leandro Souza, além dos motoristas do micro-ônibus da UFPA, Ademilson Militão, e da carreta, Keyne Oliveira. Vários outros passageiros também ficaram feriados, entre eles, eu. Neste micro-ônibus estavam 25 jovens, todos organizados nas fileiras da União da Juventude Rebelião (UJR), da Unidade Popular (UP) e do Movimento Correnteza, orgulhosos de terem construído a maior delegação da história deste Movimento no Pará.

Após o acidente, houve um grande esforço coletivo para ajudar a retirar do ônibus todos os camaradas com vida, além de muito cuidado com os que se encontravam feridos e emocionalmente abalados. Não éramos apenas 25 jovens numa caravana. Éramos jovens que mantinham profundas relações cotidianas, construídas nas lutas estudantis e pela libertação do nosso povo, relações de camaradagem e de amizade, que dividiam sonhos de um mundo justo.

Foi difícil encarar aquelas cenas e, mais duro ainda, perceber que alguns camaradas poderiam não sair vivos. Eram sonhos sendo interrompidos, mães, pais e irmãos que estavam perdendo os seus, camaradas perdendo camaradas, a luta por um mundo socialista perdendo valorosos lutadores.

Após o socorro, alguns feridos foram encaminhados aos hospitais da região, e os demais foram encaminhados a uma estrutura de apoio no campus universitário da Universidade Estadual de Goiás, na própria cidade. Rapidamente, uma grande rede de solidariedade foi se montando, doações de apoiadores chegaram até a universidade, nossos camaradas em Goiânia receberam a notícia e já iniciaram uma grande articulação para que os feridos pudessem receber o apoio de saúde necessário para nossa pronta recuperação.

Após ser atendido em Porangatu, fui transferido para a Fundação Banco de Olhos, em Goiânia. Cheguei às 19h e, na entrada do hospital, fui recebido pelos camaradas de Goiás, que me relataram todas as medidas que já havíamos tomado, que haviam camaradas da região Centro-Oeste acompanhando todos os feridos nas diferentes cidades e que as demais pessoas também já estavam sendo acolhidos por outro companheiro, em Porangatu. Neste momento, eu senti profundamente que não terminava em mim mesmo e que nada é mais importante para nós, comunistas, do que as nossas vidas.

O Congresso da UNE carrega as energias da juventude que se organiza e luta para mudar a realidade de sua universidade e que, assim, também luta por uma transformação de toda a sociedade. Naquele dia 14, a abertura do ConUNE foi marcada por um profundo sentimento de tristeza, mas também com muitas homenagens pela partida de nossos três camaradas. Nossa bancada decidiu seguir até Goiânia, encontrar os colegas do segundo ônibus da delegação e também receber o abraço da bancada nacional.

Na quinta, dia 17, as delegações do Pará foram recebidas com uma grande energia transmitindo solidariedade, carinho, camaradagem e luta, mesmo diante do luto. Aquela dor da perda não era só nossa. Éramos milhares de estudantes sofrendo com a partida de Ana, Leandro e Welfesom.

Eu não pude estar nesse momento, ainda estava hospitalizado, mas os relatos é de que a agitação durou, sem parar, por mais de uma hora, com todos entoando a palavra de ordem “É Cabanagem, revolta popular. Aqui está a bancada do Pará!”.

O camarada Leo Péricles, da UP, ressaltou que “nós estamos num sistema que trata a vida de forma secundária, que a mercadoria passa a ter mais função do que a vida das pessoas e, assim, fazem a circulação das mercadorias nessas carretas, com os motoristas sendo submetidos a jornadas extremamente exaustivas para ganhar algum dinheiro para levar para casa. Foi o que, provavelmente, aconteceu com esse motorista da carreta, no final da madrugada, tende a cochilar e pode acontecer uma tragédia como essa”.

Durante todo o Congresso, houve uma grande solidariedade de milhares de estudantes e das demais organizações políticas. Fomos acolhidos por diversos profissionais de saúde e pelos camaradas. Em nenhum momento fomos esquecidos e, durante a plenária final, a palavra de ordem mais cantada foi a homenagem à bancada do Pará.

Seguimos de volta ao Pará, nossos camaradas foram acompanhados e homenageados, suas lutas, suas histórias, seus exemplos, seus sorrisos estão sendo contados e lembrados. Com certeza, não serão esquecidos. Não deixaremos!

Ana Letícia, Leandro e Welfesom são lembrados pela sua simplicidade, pelo compromisso com a libertação da nossa classe, pela alegria de como desenvolviam sua militância e pela camaradagem. Apesar do momento de dor que estamos vivendo, temos coletivamente nos fortalecido e acompanhado cada dificuldade, ajudado nossos camaradas a superarem esse momento e a transformarem esse luto em luta, a continuarmos firmes a luta desenvolvida por eles, para encontrarmos novos lutadores e realizarmos os seus sonhos, construindo um mundo verdadeiramente justo, humano e socialista.

No dia 18 de julho, os corpos dos três camaradas e do motorista chegaram a Belém do Pará. Todas as organizações que constroem o Partido Comunista Revolucionário (PCR) estavam presentes desde cedo na UFPA. Na chegada dos corpos, foi feito um corredor com militantes empunhando bandeiras e cada um teve seu nome chamado, num clima de muita emoção.

Em seguida, realizamos um ato político para homenagear os camaradas, que contou com a presença de outras organizações políticas (PSOL, PCBR, PSTU, MST e diversos sindicalistas, amigos da universidade e familiares.

Após retorno dos camaradas que estamos no Congresso da UNE, foi lançada uma campanha de brigadas do jornal A Verdade. A militância rapidamente se respondeu ao chamado e fez a maior brigada da história do Pará. Com cartazes e falas na caixa de som sobre a história dos camaradas e seus exemplos de militância e abnegação pela construção do socialismo. A brigada totalizou mais de 600 jornais. Uma homenagem que se repetiu nos dias seguintes, atingindo quase 1 mil exemplares vendidos.

“Os camaradas deram o melhor do seu tempo, da sua energia, da sua alegria, tudo que podiam, para construir uma nova sociedade. A partida de cada um deixa um grande vazio. Os comunistas são pessoas de um valor inestimável. É uma perda para o povo do Pará e pro povo brasileiro. Seguiremos firmes na certeza de que cada um deles estará conosco até a vitória da classe trabalhadora”, declarou Fernanda Araújo, da direção estadual do PCR.

Toda nossa homenagem aos camaradas!

Leandro Souza Dias (21 anos), estudante de Farmácia da UFPA

Ana Letícia de Araújo Cordeiro (22 anos), estudante de Pedagogia da UFPA

Welfesom Campos Alves (25 anos), responsável pelo jornal A Verdade no Pará

Matéria publicada na edição impressa  nº318 do jornal A Verdade

More articles

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Últimos artigos