O Metrô do DF sofre com sucateamento e falta de investimento desde 2020, segundo estudo da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Em 2023, apenas 0,37% do orçamento previsto foi executado, o que resultou em apenas 14 trens em circulação para atender quase 3 milhões de moradores.
Alexandre Ferreira | Brasília (DF)
BRASIL – A atual gestão do governador Ibaneis Rocha (MDB) vem implementando um projeto de precarização e desmonte do Metrô de Brasília, com o objetivo de entregá-lo aos capitalistas. Esse projeto consiste em reduzir drasticamente os investimentos, não fazer concurso público, sucatear as estruturas, não renovar a frota de trens e os equipamentos. Tudo isso acarretando numa baixa qualidade do serviço prestado, que, constantemente, é paralisado por defeitos, vagões superlotados e insatisfação da população.
Segundo um estudo da Consultoria da Câmara Legislativa do Distrito Federal, identificou-se um baixo índice de execução orçamentária. Desde 2020, o nível de execução não ultrapassou 11% do que foi aprovado na Lei Orçamentária Anual (LOA). Em 2023, foram efetivamente utilizados R$ 640 mil, o que corresponde a impressionantes 0,37%.
Com esse baixíssimo investimento, o resultado é que o Distrito Federal tem apenas 14 trens funcionando (com outros 18 totalmente deteriorados ou em manutenção) para atender quase três milhões de habitantes.
O governador Ibaneis, ao ser eleito em 2019, afirmou que, até o final daquele ano, o Metrô estaria privatizado. Isso só não ocorreu graças à atuação firme do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transporte Metroviário do Distrito Federal (SindMetrô-DF), que vem organizando uma grande resistência, com greves, atos e mobilizações, além de atuar de forma firme no campo jurídico.
“O papel do sindicato foi fundamental para que hoje o Metrô não estivesse nas mãos dos amigos empresários do governador. Já no primeiro ano de mandato, ele lançou o edital da parceria público-privada, e nós fizemos uma greve para barrar, denunciamos diversas irregularidades do processo e atuamos junto com o Tribunal de Contas e Ministério Público de Contas, conseguindo paralisar o processo. Estamos atuando para enterrar de vez essa privatização e, com muita resistência e coragem da categoria e do sindicato, vamos vencer”, afirma Neiva Lopes, diretora do SindMetrô-DF.
12 anos sem concurso
O Metrô também vem sofrendo com falta de funcionários; já são 12 anos sem concurso. Durante esse período, dezenas de funcionários se aposentaram ou se afastaram por doenças, bem como cresce o número dos que passam em outros concursos e saem do sistema.
Hoje, segundo o portal da transparência, são apenas 1.205 trabalhadores ativos para fazer todos os serviços, de maquinista a agente de estação, engenheiros, técnicos de operação, tecnologia de informação, segurança, atendimento ao cliente e administração. Um sistema que funciona durante todos os dias, numa extensão de 42 quilômetros e tem 24 estações.
“A gente trabalha de modo geral nas estações com apenas dois funcionários, chegando a casos de ficar só com um funcionário o dia todo. Acaba sendo inseguro, principalmente se for uma mulher. Tanto para a gente quanto para os usuários, porque qualquer situação fora do normal acaba gerando um caos”, desabafa Jean Carlos, funcionário do Metrô.
Toda essa situação acarreta que os trabalhadores sofrem com altos índice de afastamento por adoecimento mental. De uma categoria com cerca 1.200 trabalhadores, os afastamentos por saúde, nos últimos cinco anos, foram de 112 pessoas. Desses, 80% foram por transtorno mental, representando um índice alto, bem acima da média de outras empresas públicas, reflexo das longas jornadas de trabalho e da sobrecarga. Algumas funções chegam a mais de nove horas diárias.
Enquanto o GDF reduz o investimento no Metrô público, aumenta o derrame de dinheiro para empresas privadas rodoviárias. Para se ter uma ideia, só em 2023, foram R$ 2 bilhões e 602 milhões e, em 2024, mais R$ 2 bilhões e 391 milhões. Para entender a tamanha desproporção, em quatro anos (2020 a 2024), foram investidos R$ 23 milhões no Metrô, menos de 1% do que foi entregue aos donos das empresas de ônibus em um só ano.
“O sucateamento do Metrô-DF não é fruto do acaso nem de falta de recursos, é uma escolha estratégica do Governo Ibaneis para justificar a privatização. Enquanto a população enfrenta trens lotados, intervalos longos, falhas elétricas e incêndios, o GDF deixa de investir, reduz o quadro de trabalhadores e ainda premia a diretoria com aumento salarial. Nós não vamos aceitar que vendam o Metrô como negócio, quando ele é um serviço essencial. Transporte público é direito, é o que garante acesso à cidade, ao trabalho, à escola e ao lazer”, denuncia o deputado distrital Max Maciel (PSOL).
Matéria publicada na edição impressa nº319 do jornal A Verdade