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quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Moradores de Joinville se manifestam contra demolição de suas casas

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Prefeitura demole casas de trabalhadores do bairro Ulysses Guimarães, em Joinville, e moradores protestam exigindo direito à moradia digna.

Kauê de Melo de Oliveira l Redação SC


LUTA POPULAR – Uma operação coordenada pela prefeitura de Joinville, em Santa Catarina, demoliu diversas casas no bairro Ulysses Guimarães, no loteamento José Loureiro durante o final de julho. Utilizando de máquinas pesadas, a Secretaria do Meio Ambiente, junto da Guarda Municipal fortemente armada, destruíram as casas enquanto grande parte dos moradores já haviam saído para trabalhar, com móveis e pertences destruídos junto com as construções erguidas com tanto esforço e trabalho. No mesmo dia, trabalhadores organizaram um protesto queimando pneus e lixo na Rua Dilson Funaro, uma rua movimentada do bairro.
O MLB esteve presente no protesto registrando o momento, e nos dias seguintes realizou brigada de casa em casa na região das demolições. Após a mobilização, o MLB conseguiu novos contatos e convocou uma reunião para apresentar a alternativa da luta em coletivo para conquistar uma moradia digna.
Segundo depoimentos, algumas famílias foram ameaçadas a serem soterradas junto aos escombros se não deixassem as casas, e tiveram que sair para que a demolição ocorresse. “As famílias desalojadas ficaram todas debaixo de uma árvore, uma cena muito triste”, disse Maria Zelete moradora antiga do local.
Outros vizinhos relataram que uma mulher se recusou a sair de sua casa e conseguiu defender sua moradia mesmo sob grande perigo, mas recebeu ameaças de que voltariam para demolir sua casa outro dia. Emanuel, imigrante haitiano, assim como outros tantos, estava trabalhando durante a operação, e quando voltou, sua casa já estava destruída. No protesto, ele mostrou as faturas de água e luz que já pagava, pois sua casa já tinha ligação com a rede da Celesc e da Águas de Joinville.
A Secretaria de Habitação disse em reportagens que estaria disponível para auxiliar os moradores “caso fosse necessário” mas não apareceu no local para cumprir sua função de solucionar os problemas de moradia da cidade. A Prefeitura disse em nota que “Os imóveis não estavam ocupados”, mas depoimentos dos moradores e a existência de móveis dentro das residências desmentem essa alegação.
Esse ato de violência causou grande revolta também pela forma que foi planejado e executado. Os ocupantes disseram que os policiais debocharam e provocaram os moradores, perguntando até se ninguém iria revidar para eles poderem reprimir violentamente as pessoas. “Coincidência ou não, a maioria das casas demolidas são dos imigrantes haitianos. Aqui perto todas essas casas eram dos haitianos” disse o morador Fábio, indicando locais de demolição.
“Eles cortaram os fios de internet e de energia e levaram embora, ninguém conseguiu se comunicar. Tenho problemas de pressão alta e ansiedade. Nesse dia eu achei que ia infartar! Fiquei muito mal, com tremores, tive que ficar fortemente medicada. Meu marido teve que voltar do trabalho nesse dia para ficar cuidando de mim” disse Lucia, moradora vizinha de casas demolidas.
A Prefeitura utiliza de lei de proteção ambiental para Área de Proteção Permanente (APP) para justificar as demolições sem aviso prévio. A região já é significativamente modificada pela ação humana com presença de moradias. “Joinville está cheia de buracos. Aí a população faz uma casa improvisada e a derrubam. Por que eles não vêm dar casa para o povo? Olha aqui, por causa da ocupação agora tem farmácia, tem mercado. O que falta aqui é escola mais perto, ônibus, e não destruir o que a gente construiu”, disse a moradora Maria.
O bairro Ulysses Guimarães, assim como muitas áreas de Joinville, historicamente cresceu com ocupações sobre região de mangue. A expansão industrial dos anos 1970 trouxe grande oferta de mão de obra. Pressionadas pela escassez de moradias acessíveis, famílias de baixa renda ocuparam terrenos públicos e privados em áreas periféricas sem infraestrutura básica. “Eles dizem que de um ponto da rua pra lá é mangue, mas é tudo igual! Eu moro aqui desde que nasci, quero que eles me provem por que é diferente o lado de lá” disse um manifestante se referindo às regiões mais antigas já regularizadas.
Recentemente foram aprovadas leis para flexibilização e criação de áreas de expansão urbana (AEU) de Joinville, totalizando 32 km², do tamanho de Bruxelas, capital da Bélgica. Amplamente comemorado como um avanço para o desenvolvimento de Joinville, essas medidas são convenientes para as loteadoras e imobiliárias da cidade para aproveitar o alto preço dos imóveis na cidade, principalmente para a construção de novos condomínios industriais próximo a BR-101, residenciais de luxo, moradias para classe média e para os ricos.
Os impactos ambientais da mudança do tipo de uso da terra envolvem diversos fatores dependendo de suas dimensões e já são alertados por especialistas. Os impactos no aumento da área residencial e industrial necessitam de investimentos e novas instalações para saneamento básico, abastecimento de água potável, lançamentos de efluentes de esgoto, geração de resíduos sólidos, pressão sobre a vegetação, poluição do ar, entre outros. Fatos esses que parecem ser ignorados para gerar lucro para a burguesia da cidade, já que o mercado imobiliário vê nas ocupações clientes perdidos que poderiam estar alugando residências do mercado formal.
“Por que eles vêm aqui demolir tudo, sem antes dar uma moradia para as pessoas?”, questiona o morador Emerson. A capacidade de ação dos políticos locais é diretamente afetada com as doações de campanha e vínculos diretos com o lobby dos setores imobiliários e de construção civil. “Cadê os vereadores, agora não aparece nenhum aqui para resolver o nosso problema” disse a moradora Rosimar, revoltada com a situação.
Nesse momento há grande demagogia dos políticos dos setores mais conservadores, criminalizando as famílias migrantes da cidade. Os ocupantes sofrem com xenofobia e frequentemente são estigmatizados com acusações de baderneiros, desordeiros, vagabundos entre outras calúnias e difamações. Na verdade, são em grande maioria trabalhadores dedicados, fazendo os serviços que os empresários da cidade precisam tanto, e ainda trabalhando no pesado construindo suas moradias nos finais de semana. Ivone, dona de uma mercearia no local, ao ser perguntada sobre a ocorrência de furtos e violências disse: “Aqui não temos esse problema, podemos sair de casa e deixar aberto. Recebemos bastante pedidos de ajuda e doação e ajudamos quando possível, mas questão de furto não temos, é bem calmo”.
A mobilização dos moradores do bairro Ulysses Guimarães mostra que somente a partir da organização do povo para lutar pelos seus próprios interesses é possível fazer mudanças estruturais em nosso sistema. Agora, é momento de apresentar a alternativa da luta coletiva e organizar as pessoas que querem lutar pela moradia e pela libertação do povo brasileiro no MLB e na Unidade Popular!

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