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quinta-feira, 18 de setembro de 2025

O salário do trabalhador não paga o aluguel

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Mais de 8 milhões de famílias brasileiras vivem sem casa própria ou gastam mais de 30% da renda com aluguel. A situação atinge em cheio a classe operária que recebem entre um e dois salários mínimos. 

Márcio Alves e Kleber Santos | São Paulo (SP)


BRASIL – No Brasil, somos milhões de trabalhadores e trabalhadoras que formam o exército da classe operária, obrigados a produzir a riqueza da nação, que é roubada pela classe dos possuidores do capital do país e do mundo. Somos quem produz tudo que existe, como carros, casas, roupas e tantas outras coisas, mas nosso trabalho é sugado pela burguesia, que, empenhada em sua sede de lucros, rebaixa nossos salários e nos nega o acesso a direitos básicos.

Entre os direitos negados aos operários está o direito de morar com dignidade. Muitas vezes, apesar da extenuante jornada de trabalho, o salário não chega ao final do mês e não conseguimos pagar todas as contas de casa. Somos obrigados a escolher entre comprar comida ou pagar o aluguel.

Kemeson, trabalhador da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) em Ribeirão Pires, de 35 anos, relata: “Recebo em torno de R$ 2.700,00 por mês, eu e minha esposa somos operários em grandes fábricas do ABC Paulista e, mesmo juntando nossos salários, o dinheiro não dá. Quando entrei na fábrica, em 2020, pensei que meus problemas estariam resolvidos, porque é o que se ouve, que o operário de uma grande empresa ganha bem, mas é mentira. Nosso trabalho é roubado, o patrão fica rico e a gente chega no final do mês sem saber como vai pagar o aluguel”.

A classe operária é uma classe sem teto

Com a chegada das primeiras fábricas no país, no final do século XIX e início do século XX, negros escravizados e ex-escravizados, descendentes dos povos indígenas e imigrantes pobres foram trabalhar na indústria, dando origem à classe operária brasileira. Esses trabalhadores não tinham terras, moravam em condições precárias e, devido aos baixos salários e à falta de políticas de moradia por parte do Estado, a classe operária nasceu e, ainda hoje, sobrevive sem ter um teto para morar.

De fato, mais de 8 milhões de famílias são sem teto no país, morando de favor, em condições precárias ou gastando mais de 30% de sua renda com aluguel. São famílias operárias, como é o caso de Amanda, de 29 anos, trabalhadora da Polistampo Indústria Metalúrgica, em Diadema (SP).

“Trabalho na empresa há três anos como operadora de produção. Meu salário é pouco (R$ 2.400,00) para sustentar eu e minha filha de seis anos. Me considero uma sem teto porque nunca tive uma casa própria, me mudei muitas vezes por não conseguir pagar o aluguel e toda a minha família sempre viveu assim. Na empresa, a rotatividade é muito grande, tem muitas demissões, então eu tenho medo porque, se já está difícil agora, imagina se eu perder o emprego”, relata Amanda.

Segundo a última Pesquisa Industrial Anual (PIA), o salário médio na indústria gira em torno de R$ 3.700,00. Essa média, porém, é puxada para cima pelos altos salários dos executivos, diretores e gerentes das indústrias. Na realidade, no chamado chão de fábrica, onde está a maior parte da classe operária, os salários geralmente ficam entre 1 e 2 salários mínimos, como é o caso de Gabriel, operador na empresa HSA Automotive, em Mauá (SP).

“Recebo R$ 2,200,00 por mês e pago R$ 700,00 de aluguel. Hoje, moro sozinho e as contas já estão muito apertadas. Imagino como será quando tiver uma família, filhos… Vai ser impossível pagar um aluguel e garantir comida em casa. Vejo meus colegas de trabalho endividados e não sei como vou fazer para não cair na mesma situação”, desabafa Gabriel.

Luiz, metalúrgico na Sodramar, em Diadema, afirma: “É por isso que tem tanta gente morando em barraco em área de risco, lugar que alaga, que desliza. Se não for assim, não sobra dinheiro pra colocar arroz e feijão na mesa”.

Na construção civil, setor que emprega mais 7,5 milhões de operários e operárias em todo o país, responsáveis por construir os imóveis onde moramos, o cenário é o mesmo. Segundo pesquisa da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), de 2024, mais de 60% desses trabalhadores recebem entre um e dois salários mínimos. Ou seja, é uma grande contradição: quem constrói casas e apartamentos para as construtoras lucrarem não tem casa própria.

Por isso, é preciso dedicar tempo para lutar lado a lado com a classe operária, conviver com os trabalhadores para conquistar o coração desta classe que tudo produz e que tem um peso fundamental para derrubada do odioso sistema capitalista. Com a força da classe operária, construiremos uma revolução e a sociedade dos trabalhadores e trabalhadoras, o socialismo.

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

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