“Chegamos do trabalho ontem à noite, umas seis horas da tarde, e já estavam aqui os policiais. As nossas coisas estavam dentro da ocupação, eles fecharam tudo. Nós tentamos conversar com eles, mas eles não quiseram. Estamos aqui até agora, meio-dia, e a polícia ainda não saiu. Passamos a noite inteira resistindo, mesmo com esse frio.”
Tiago Lourenço e Leonardo de Paula | Diadema (SP)
LUTA POPULAR – “Chegamos do trabalho ontem à noite, umas seis horas da tarde, e já estavam aqui os policiais. As nossas coisas estavam dentro da ocupação, eles fecharam tudo. Nós tentamos conversar com eles, mas eles não quiseram. Estamos aqui até agora, meio-dia, e a polícia ainda não saiu. Passamos a noite inteira resistindo, mesmo com esse frio”, relatou Ophny Jeune, de 34 anos, imigrante haitiano e morador da Ocupação Palestina Livre, de Diadema (SP).
Desde o começo da tentativa de despejo ilegal, às 18h da segunda-feira (22/9), quando os trabalhadores foram impedidos de voltarem às suas casas, as famílias da ocupação e outras famílias do MLB, militantes e apoiadores se mobilizaram para a defesa da moradia.
Sem nenhuma justificativa, a GCM começou a atacar com violência a manifestação, ferindo as pessoas com tiros de bala de borracha e prendendo um militante.
Reinaldo Donizete, 57 anos, servidor da saúde de Diadema, conta que “desde o dia 7, quando fizemos a ocupação, eles nos assediam. Quando chegamos do trabalho ontem à noite, não nos deixaram entrar, então nós nos juntamos pra nos defender. Quando eles jogaram uma bomba que estourou no meu pé, machucou muito, tive que ir pro hospital pra tratar, e um tiro de bala de borracha na barriga”.
Amanda Bispo, do diretório nacional da Unidade Popular pelo Socialismo (UP), em apoio à ocupação, fala da resistência organizada pelos trabalhadores: “A pressão durante a noite toda, as palavras de ordem que não pararam de ser cantadas muito alto, desde as seis da tarde até às duas da manhã, foi o que garantiu que Bruno, o companheiro que foi preso, saísse logo em liberdade. Durante a madrugada até o final da manhã, e está acontecendo até agora, meio-dia. E não vai deixar de acontecer até que as famílias possam entrar nas suas casas, porque não existe um mandato de despejo. Existe um processo que a juíza obriga a prefeitura a fazer cadastramento das famílias, dar auxílio aluguel, registrando isso no processo antes que o despejo aconteça”.
E continua: “Lutar por um direito também é direito da população. Os prédios abandonados, de acordo com a Constituição, deveriam estar sendo desapropriados, e a prefeitura de Diadema deixou de fazer isso com esse prédio, deixando ele abandonado há mais de 10 anos, com uma dívida de mais de R$400 milhões do proprietário. E a prefeitura, que nem era a parte interessada no processo, entrou na justiça só pra pedir a reintegração, em um ataque direto ao MLB, que luta em Diadema há quase 20 anos, que conquistou um projeto habitacional e que está sendo construído com muita luta”.
Até o começo da tarde de terça-feira (23/9), os militantes, famílias e apoiadores seguem firmes na resistência em frente à ocupação e dentro também, com a disposição de lutar pelo direito à moradia e contra a prefeitura reacionária de Taka Yamauchi (MDB).
Reinaldo foi para o hospital para cuidado do pé, mas assim que foi atendido, às 3h da manhã, voltou para a frente da ocupação: “Quando eu voltei, tinha um pessoal dormindo nas barracas, um pessoal se protegendo da chuva e do frio, mas tava todo mundo aqui. Ninguém arredou o pé, o povo aqui é de luta!”.