Um dos cursos de Design mais antigos do Brasil enfrenta desafios na UFMA. Sua comunidade de mais de 350 estudantes lida com uma infraestrutura precária, com laboratórios sucateados, marcenarias abandonadas e ausência de recursos tecnológicos, incluindo computadores e softwares.
João Montenegro | Pernambuco
EDUCAÇÃO – Um dos cursos de Design mais antigos do Brasil enfrenta desafios na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Sua comunidade de mais de 350 estudantes lida com uma infraestrutura precária, com laboratórios sucateados, marcenarias abandonadas e ausência de recursos tecnológicos, incluindo computadores e softwares. A difícil realidade dos estudantes levanta questionamentos sobre as prioridades de investimento da universidade e o impacto direto na formação dos futuros profissionais.
A antiga oficina de marcenaria do curso de Design da UFMA encontra-se desativada e serve atualmente como depósito para móveis e materiais inutilizados. O espaço, antes destinado a aulas práticas, está ocupado por pilhas de cadeiras e mesas quebradas. A medida impactou diretamente disciplinas obrigatórias que necessitam do espaço para suas atividades práticas. O processo de desativação da oficina de marcenaria teve início após a aposentadoria do último técnico responsável. A administração universitária optou por recolher os equipamentos do laboratório em vez de abrir um novo concurso para a reposição do profissional.
Para justificar a remoção do maquinário, a gestão universitária anunciou a intenção de criar um FabLab (Laboratório de Fabricação). Tais laboratórios são equipados com tecnologia de fabricação digital, como impressoras 3D e cortadoras a laser, para o desenvolvimento de protótipos. No entanto, o projeto não foi implementado. Após a retirada dos equipamentos da marcenaria, o espaço não recebeu novos investimentos.
A precariedade da infraestrutura digital
Hoje, o curso dispõe de um único laboratório de computação com 20 computadores. Um laudo da própria Superintendência de Tecnologia e Informação (STI) da UFMA, emitido após visita técnica do reitor, classificou as máquinas como “computadores de escritório”, inadequados para os softwares de modelagem e design gráfico exigidos pelas disciplinas.
A situação dos softwares também é um ponto crítico. Foram solicitadas licenças do pacote Adobe, padrão na indústria criativa, mas a STI, com o respaldo da reitoria, disponibilizou apenas duas, que não chegaram a ser instaladas. Segundo o relato dos estudantes, outros cursos da universidade possuem laboratórios com as mesmas licenças que foram negadas ao Design.
A carência de infraestrutura transfere aos estudantes a responsabilidade financeira pela aquisição de computadores de alto desempenho e pelo pagamento de assinaturas de software. Em especial, estudantes mais pobres relatam dificuldades para acompanhar as aulas e realizar os trabalhos, o que levanta questões sobre isonomia e permanência estudantil.
A perspectiva dos estudantes
A gestão da UFMA aprovou neste ano um “Programa de Modernização” que prevê melhorias em infraestrutura, gestão acadêmica e inovação tecnológica. O reitor Fernando Carvalho classificou a aprovação do programa como um “marco para a UFMA”.
Para os estudantes, no entanto, o discurso contrasta com a realidade. Kírio Lopes, presidente do Centro Acadêmico de Design, afirma sentir-se “profundamente violentado”. Segundo ele, “o direito à educação superior digna e de qualidade tem sido sistematicamente negado por uma instituição que insiste em mascarar sua negligência atrás de belos discursos de modernização”.
Outro ponto de atrito denunciado pelos estudantes foi a condição do telhado do anexo da oficina, que apresentava risco de desabamento. A reforma da estrutura só ocorreu após uma campanha de denúncias dos estudantes nas redes sociais.
Um legado acadêmico em risco
As universidades federais no Brasil enfrentam um cenário de austeridade fiscal devido a políticas de cortes neoliberais no financiamento da educação. No entanto, a alocação dos recursos existentes é de responsabilidade da gestão local. A comunidade do curso de Design argumenta que a existência de investimentos em outros setores da universidade indica que a situação do curso é resultado de uma decisão de prioridades administrativas.
Em contraste com a situação de sua infraestrutura, o curso de Design da UFMA apresenta indicadores de excelência. A instituição obteve nota 4 (em uma escala até 5) no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), uma das avaliações mais altas do país para a área. Há poucos anos, o professor Delano Rodrigues, do mesmo curso, conquistou o primeiro lugar na 35ª edição do Prêmio Design Museu da Casa Brasileira, o mais importante do setor no Brasil. A universidade celebrou a conquista em seus canais oficiais.
Fundado em 1970, o curso de Design da UFMA é um dos mais antigos do Brasil e ainda hoje realiza atividades pedagógicas e de pesquisa científica de grande valor para o campo, sendo uma referência regional. Por isso, a situação atual de precarização ameaça a formação dos atuais 350 alunos e também o legado histórico do curso.
A comunidade acadêmica do curso de Design reivindica condições básicas de ensino. Diante da aparente falta de diálogo com a reitoria, a pergunta formulada pelo estudante Kírio Lopes sintetiza o impasse:
“O que mais o curso de Design precisa enfrentar para que a Universidade lhe assegure ao menos o básico de dignidade?”.
A resposta da administração definirá o futuro do curso e de seus estudantes, além de sinalizar as prioridades da instituição em meio ao debate sobre o futuro da universidade pública.