Movimento grevista iniciado na segunda-feira (3/7) denuncia o projeto de privatização do metrô do Recife pelo Governo Federal e critica o autoritarismo da PM do governo Raquel Lyra, que prendeu o presidente do sindicato.
Jesse Lisboa, Alysson Monteiro e Evelyn Dionízio | Recife – PE
TRABALHADOR UNIDO – Os trabalhadores e trabalhadoras do Metrô do Recife (Metrorec) iniciaram uma greve por tempo indeterminado na madrugada da última segunda-feira (3 de julho). A decisão, aprovada em assembleia da categoria, é uma resposta ao processo de privatização do sistema, que está sendo acelerado pelo Governo Federal, através do BNDES, e conta com o apoio do governo estadual de Raquel Lyra (PSD).
A paralisação é a principal ferramenta de luta da categoria contra o sucateamento programado e a entrega do patrimônio público à iniciativa privada. Os metroviários denunciam que o roteiro da privatização segue sendo o mesmo modelo: primeiro, o abandono e a precarização do serviço; depois, a venda a preço baixíssimo para grandes empresários.
Sucateamento
O estopim para a paralisação aconteceu no último sábado (25), quando um dos vagões do metrô do Recife pegou fogo, deixando toda a Linha Centro interditada. De acordo com a CBTU, o incêndio foi causado por um curto-circuito na rede aérea, sistema de cabos que fornece a energia elétrica para o funcionamento dos trens.
Esta não foi a única tragédia ocorrida no metrô: o transporte constantemente é interrompido por diversos problemas nos próprios trilhos ou no não funcionamento dos ares-condicionados. O estado de Pernambuco está sob um projeto de entrega para a rede privada dos serviços que devem ser do povo. Além do metrô, a COMPESA (Companhia Pernambucana de Água e Esgoto) está na lista de privatizações, a ser entregue para a empresa canadense BRK.
A governadora Raquel Lyra (PSD) esteve em viagem para a China e avalia conceder para a Corporação de Construção Ferroviária da China (CRCC) o serviço de transporte pernambucano. Caso seja privatizado, o BNDES já prometeu R$ 3,5 bilhões para a rede privada e o aumento da linha ferroviária.

Em carta aos usuários do metrô do Recife, o Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (Sindmetro-PE), coloca: “No último dia 25, uma composição pegou fogo, colocando em risco os usuários e o funcionário que conduzia o trem. Esse fato gravíssimo não pode ser tratado como um caso isolado ou como uma simples fatalidade. Ele é, na verdade, o resultado do descaso e do abandono do Governo Federal em relação ao Metrô do Recife e, consequentemente, do descaso e abandono para com a população que dele depende.”
O presidente do Sindmetro-PE, Luiz Soares, chegou a ser preso pela Polícia Militar durante um piquete realizado no Centro de Operações e Manutenção (COS), no bairro do Cavaleiro.
Vídeos que circulam nas redes digitais mostram a ação arbitrária da PM, que deteve o dirigente sindical sob a alegação de “desobediência”. A prisão é um ataque ao direito de greve e uma tentativa de criminalizar o movimento sindical, utilizando a força do Estado para defender os interesses privatistas. Nada novo sob o sol.
Enquanto a Justiça do Trabalho (TRT-6) se apressou em declarar a greve “abusiva” e determinar o funcionamento de 60% da frota nos horários de pico, a mesma agilidade não é vista para julgar o abandono do metrô ou a violência policial contra os trabalhadores que defendem o serviço público.
A greve dos metroviários do Recife não é um movimento isolado. Ela se soma a diversas outras lutas pelo país contra a agenda neoliberal de privatizações, que segue a pleno vapor. Os trabalhadores exigem investimentos públicos para a recuperação e melhoria do sistema, garantindo um transporte de qualidade para a população trabalhadora da Região Metropolitana.
Na audiência desta quarta-feira (6), o TRT-6 recomendou a suspensão da greve, acatada pelo sindicato após 3 dias de paralisação.