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quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Trabalhadores da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em greve por direitos e valorização salarial

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Movimento grevista dos trabalhadores Empresa de Pesquisa Energética mobiliza dezenas de pessoas no Rio de Janeiro. Pauta de reivindicações inclui valorização salarial e melhores condições de trabalho.

Redação RJ


TRABALHADOR UNIDO – Os trabalhadores e trabalhadoras da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estão em estado de greve há um mês, diante da falta de disponibilidade de diálogo por parte da direção da empresa. A decisão foi tomada após a diretoria declarar que não tem agenda para se reunir com os representantes da categoria, mesmo diante de uma série de reivindicações que seguem ignoradas.

A EPE, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, é responsável por planejar o futuro energético do Brasil. Criada em 2004, a empresa pública surgiu como resposta às crises e os apagões do início dos anos 2000, com a missão de viabilizar segurança energética, planejar o crescimento da matriz elétrica e pensar o uso sustentável das nossas fontes de energia.

Seus estudos, projeções e diagnósticos ultrapassam o setor elétrico: abarcam petróleo, gás natural, fontes renováveis, eficiência energética e políticas estruturantes que orientam o futuro energético do país. Ao prover ao governo brasileiro de planos decenais e de longo prazo consistentes, e ao sustentar o desenho da matriz energética, a EPE constitui pilar estratégico para garantir segurança, soberania e transição justa no campo energético.

Trabalhadores lutam por direitos

Por trás dos grandes planos e relatórios que orientam o país, há trabalhadoras e trabalhadores precarizados, enfrentando salários defasados, sobrecarga e falta de valorização. Neste cenário, os trabalhadores reivindicam a recomposição integral das perdas salariais acumuladas ao longo dos anos, que, segundo a categoria, ultrapassam 22% desde maio de 2014. A proposta inicial da empresa de reajuste em apenas 4 %, abaixo da inflação do período, foi rejeitada de forma unânime entre os empregados.

A luta não se limita apenas à recomposição salarial. Entre as demais reivindicações, estão: o fortalecimento das cláusulas sociais (auxílio saúde e alimentação), a definição e implementação de novo Plano de Cargos e Salários, a preservação do regime de trabalho híbrido e a rejeição de uma norma interna que permitiria demissões arbitrárias. Denuncia-se também que a lentidão nas negociações, que já somam sete meses entre a entrega da pauta e a primeira proposta, agravam o desgaste institucional.

O impasse nas negociações reflete o caráter liberal e fiscalista do atual governo, que tem orientado suas políticas para o corte de gastos públicos e sociais às custas da desvalorização do trabalho e do trabalhador. A proposta apresentada à categoria, com índice inferior à inflação oficial, representa na prática uma redução salarial, travestida de reajuste.

Enquanto se ampliam benefícios a setores privados e se flexibilizam regras fiscais para o capital financeiro, o governo impõe arrocho e cortes sobre o serviço público. As negociações, conduzidas sem transparência e sem abertura real ao diálogo, revelam a tentativa de impor um modelo de gestão que subordina direitos trabalhistas às metas fiscais, ignorando o papel essencial que os servidores da EPE cumprem na formulação de políticas energéticas estratégicas para o país.

Essa paralisação não pode ser reduzida a uma mera reivindicação corporativa. Ela expressa o desgaste prolongado de profissionais que detêm especialização elevada, dos quais muitos com cursos de mestrado e doutorado conforme tabela abaixo e que sentem, na prática, que seu aporte é subvalorizado. A fuga desses talentos para as empresas privadas ou para outros cargos públicos é apontada como consequência direta do cenário de defasagem e insegurança. Considerando o quadro atual de pouco mais de 400 empregados após o último concurso, mais de 100 evadiram para outras oportunidades.

Por que as reivindicações devem ser atendidas? Porque uma estatal estratégica não se sustenta sem técnicos motivados e remunerados dignamente. Quando se fragiliza a base humana que gera os estudos e diagnósticos, compromete-se a qualidade dos planos energéticos. E isso reverbera sobre a sociedade brasileira: impactos na confiabilidade do sistema, atrasos em projetos, distorções em políticas públicas e aumento na conta de energia.

A atual greve da EPE expõe uma contradição do atual governo, que apresenta um discurso de compromissos climáticos, investimentos em “transição energética” e promover justiça social, mas que mantém segmentos essenciais do setor público precarizados. O movimento grevista da EPE é uma chamada ao Estado para reconhecer e valorizar quem planeja o futuro energético do Brasil é investir na soberania, no fortalecimento institucional e no direito dos servidores de exercer com dignidade sua missão.

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