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quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Crise climática escancara o descaso dos governos e as injustiças do capitalismo

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Enquanto o mundo enfrenta uma crise climática, a preparação para a COP 30 em Belém revela um abismo entre o discurso oficial e a realidade da classe trabalhadora.

Lana Borges e Vitória Rodrigues | Belém (PA)


MUNDO – O mundo vive uma emergência climática sem precedentes. Diariamente, os meios de comunicação noticiam sobre o aumento do calor extremo, enchentes, secas, tempestades e furacões que se intensificam ano após ano, afetando milhões de pessoas, especialmente os trabalhadores, moradores das periferias e o povo pobre em geral, forçado a viver nas áreas de risco das grandes cidades.

Sem acesso a saneamento básico, arborização, áreas verdes ou qualquer tipo de plano de contingência, essas populações enfrentam o pior das catástrofes climáticas. E, quando ocorre uma “tragédia”, a culpa costuma cair sobre as próprias vítimas, pois “moravam onde não deviam”, diz a grande mídia, ignorando que a especulação imobiliária, o alto custo dos aluguéis e a lógica excludente do capitalismo expulsam milhares de famílias das regiões centrais e as empurram para as áreas de risco.

Diante desse cenário, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou a Agenda 2030, com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que incluem metas como moradia digna, combate à fome e à miséria, trabalho digno, acesso à saúde e educação e proteção ambiental. Metas que, em tese, deveriam ser prioridade para todos os governos.

Na prática, porém, os compromissos firmados na Agenda 2030 estão longe de serem cumpridos. Enquanto isso, eventos internacionais como a Conferência das Partes (COP), que deveriam debater soluções concretas para a crise climática e impulsionar a tão falada transição energética, transformaram-se em palco para negócios bilionários, acordos de bastidores e campanhas do chamado “marketing verde”.

O espaço da COP é dividido entre Estado (governos e diplomatas), Mercado (grandes empresas) e Sociedade Civil Organizada. Mas quem realmente tomam as decisões são os governos, dirigidos pelos interesses dos capitalistas.

Empresas como Cargill, JBS, ExxonMobil, Vale e Hydro patrocinam a Conferência, ao mesmo passo que exploram os territórios, destroem o meio ambiente e deixam um rastro de poluição, doenças e miséria por onde passam, como fez a Hydro em Barcarena (PA), onde contaminou o solo, os rios e a vida de milhares de pessoas.

Para completar o cenário de contradições, a poucos dias da realização da COP 30 (realizada em Belém do Pará), o Ibama concedeu licença à Petrobras para explorar petróleo na foz do Rio Amazonas, uma das áreas mais sensíveis do ponto de vista ambiental do planeta. A decisão, defendida por toda a cúpula do Governo Federal (incluindo o presidente Lula e ministra do Meio Ambiente Matina Silva), escancara a incoerência de um país que, ao mesmo tempo em que diz defender a Amazônia, abre novas frentes para sua degradação em troca de aumentar os lucros dos grandes monopólios capitalistas (incluindo os que operam por dentro da Petrobras).

As contradições da Capital da COP 30

Desde que Belém foi anunciada como sede da COP 30, uma série de obras de infraestrutura foi iniciada com o objetivo de impressionar os visitantes estrangeiros. No entanto, enquanto cerca de R$ 4,2 bilhões foram destinados à realização do evento – somando recursos do Orçamento Geral da União, BNDES e Itaipu Binacional –, a cidade segue marcada por problemas históricos e estruturais que afetam diretamente a vida do povo trabalhador.

Segundo o Instituto Água e Saneamento, apenas 20% da população tem acesso ao esgotamento sanitário. E, do pouco esgoto que é coletado, menos de 40% recebe tratamento. Nas periferias, milhares de famílias vivem em palafitas à beira dos rios, sem acesso a água encanada, com esgoto correndo a céu aberto, convivendo com o lixo acumulado nas ruas, fruto da lacuna de políticas públicas deixada pelo Estado.

“Muito dinheiro foi destinado para reformar os pontos turísticos da cidade, enquanto na rua da minha casa nunca foi trocado um cano e a água vem tão suja que não dá nem para escovar os dentes”, afirmou Maria de Lourdes, moradora do Guamá e leitora do jornal A Verdade.

Durante o inverno amazônico, a situação se agrava, e casas são frequentemente invadidas pela água da chuva, colocando vidas em risco e destruindo o pouco que essas famílias possuem.

O transporte público é outro retrato do abandono: há décadas, a máfia das empresas de ônibus lucra com a miséria da população. A região metropolitana está repleta de ônibus velhos, sem ar-condicionado, com linhas mal planejadas e uma demora excessiva, sobretudo nas áreas mais afastadas do centro, onde o Estado só aparece para reprimir ou remover, nunca para garantir direitos.

Um projeto para os ricos

Sendo um evento voltado ao debate sobre aquecimento global e justiça climática, o esperado seria um planejamento urbano que considerasse o clima amazônico, o conforto térmico, a preservação das áreas verdes, os rios e os territórios populares de Belém.

Mas, na prática, a oligarquia da família Barbalho, que comanda o Governo do Estado e a Prefeitura da Capital, utiliza a COP como fachada para atender exclusivamente aos interesses do mercado imobiliário e de grandes empresários.

As obras prioritárias do Governo deixam isso claro: a construção do Parque da Cidade (onde será realizado o evento), a reforma das ruas ao redor dessa área e as regiões nobres da cidade, como as avenidas Doca de Souza Franco e Almirante Tamandaré.

A Avenida Doca, que concentra o metro quadrado mais caro de Belém, recebeu uma obra de R$ 310 milhões para a “revitalização” do canal – na verdade, um esgoto a céu aberto. O objetivo não é resolver o problema sanitário da cidade, mas sim valorizar ainda mais a área para a construção de prédios de luxo, que já estão sendo erguidos nos bairros do Reduto e Umarizal.

Para completar o absurdo, o Governo ainda está construindo uma estação de tratamento de esgoto na Vila da Barca, uma das maiores favelas da cidade, mas não para atender os moradores de lá, e sim para receber o esgoto dos ricos que vão morar nos novos empreendimentos da região.

O Jurunas, bairro historicamente operário e periférico, com um dos IDH mais baixos da cidade, vem sofrendo um intenso processo de elitização. Sua localização próxima a áreas nobres, como Batista Campos, atraiu o interesse do capital imobiliário, e projetos como o Portal da Amazônia, apresentados como “revitalizações”, na verdade expulsaram centenas de famílias da região com a promessa de moradias populares serem construídas pelo Programa Minha Casa, Minha Vida, mas não foram entregues até hoje. Enquanto isso, novas reformas e construções de luxo avançam, reforçando a exclusão dos moradores em benefício da elite paraense.

Nas periferias, feirantes são despejados de seus locais de trabalho por conta de obras paradas ou abandonadas, vendedores ambulantes são perseguidos e reprimidos pela Polícia Militar, cada vez mais violenta, e bairros populares, como Tapanã e Pratinha, seguem em total abandono.

A verdade é que a COP 30 pertence ao capital. Os governos fingem se preocupar com o meio ambiente e com a Amazônia para fazer propaganda, mas o povo trabalhador segue sendo o único a pagar a conta.

Povo organizado

Os participantes da COP 30 estão interessados apenas em garantir lucros e ampliar seus negócios. Os países imperialistas se negam a financiar políticas ambientais nos países periféricos; as petroleiras sabotam qualquer transição energética real; o agronegócio continua desmatando e queimando a Amazônia; as mineradoras recorrem ao “marketing verde”; e políticos corruptos recebem propinas para defender os interesses do empresariado. Enquanto isso, o povo sofre com enchentes, ondas de calor, privatização da água, especulação imobiliária, destruição das áreas verdes, alta nos alimentos e queda no poder de compra.

Em resposta a esse cenário de exclusão e farsa política, surge a Cúpula dos Povos, articulação formada por povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, comunidades tradicionais, agricultores, trabalhadores, movimentos populares e juventudes da Amazônia e do mundo, criando um espaço de verdadeira participação popular. Diferente da conferência dos governos e corporações, propõe discutir as causas reais da crise climática (o capitalismo e o modelo de exploração imposto pelos países imperialistas) e apontar caminhos baseados na soberania dos povos, na defesa dos territórios e na construção de um projeto popular para o Brasil e para o mundo.

A crise climática não é apenas ambiental, é política, social e econômica. A solução não virá das elites ou de acordos entre governos corruptos e empresas poluidoras. Mas sim da luta pelo fim do sistema capitalista que nos explora, destrói o planeta e é incompatível com a vida.

Por isso, é urgente lutar pelo socialismo. Ou construímos um novo modelo de sociedade, baseado na justiça social, na igualdade, na soberania dos povos e na recuperação da natureza ou viveremos sob a barbárie imposta pelo capitalismo. A saída real exige a organização dos trabalhadores e o fortalecimento das lutas populares. Só o povo organizado pode salvar o planeta.

Matéria publicada na edição nº324 do Jornal A Verdade.

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