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terça-feira, 2 de dezembro de 2025

O vestibular ainda é uma ferramenta de exclusão

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Apesar de alguns avanços no ingresso ao ensino superior, a urgência de uma educação gratuita, democrática e verdadeiramente para toda a juventude está longe de ser uma realidade onde a meritocracia e o individualismo decidem quem vai conseguir uma vaga no tão sonhado ensino superior. 

Gabriel Marinho Cunha de Barros| Paraíba


Educação- A conquista de uma vaga na universidade pública, celebrada como uma oportunidade de ascensão social, ainda funciona como parte da reprodução da dominação e ideologia da classe dominante. O ingresso no ensino superior público legitima, perpetua e naturaliza, sob a roupagem do mérito e da excelência, uma lógica profundamente excludente e seletiva. No centro desse funcionamento está o vestibular, esse filtro que decide quem entra e, por consequência, quem permanece do lado de fora da tão sonhada vaga. Mas este dispositivo de seleção não nasceu neutro — e tampouco permanece como tal.

A origem do vestibular

O vestibular foi criado no Brasil na década de 1910, a partir das reformas no ensino superior que buscavam, entre outras coisas, controlar o crescimento do número de estudantes e garantir que a universidade fosse ocupada por um grupo “qualificado”. Na década de 1930, com a criação da Universidade do Brasil (atual UFRJ), o vestibular passa a ser institucionalizado como condição obrigatória de ingresso. O critério de seleção, até então restrito a provas específicas de cada instituição, torna-se gradativamente um instrumento de regulação do acesso — não a partir das capacidades intelectuais, mas das desigualdades materiais que precedem a chegada de qualquer estudante às portas da universidade.

E é justamente aí que reside seu papel ideológico: o vestibular transforma a desigualdade social em “fracasso individual”. Ele não mede apenas conhecimentos — ele homologa trajetórias marcadas por abismos históricos e legitima que os mais pobres sejam reprovados por critérios que jamais tiveram chance de atender. A lógica do mérito, nesse cenário, opera como véu: oculta as determinações estruturais que moldam as trajetórias e transforma o sucesso dos privilegiados em virtude pessoal. Quem conseguiu a vaga, “estudou, abriu mão de muita coisa, fez pelos seus méritos”. Quem ficou de fora, “não se esforçou o suficiente”. Essa é a ótica vigente.

Nesse sentido, o vestibular é uma barreira de contenção social, de ordenamento do acesso ao saber e de manutenção da universidade como espaço de reprodução das elites.

Que a universidade se pinte de povo

 A defesa do fim do vestibular mostra a debilidade em nossa educação, como também é uma exigência política, profundamente ancorada na realidade do país. O Brasil é uma nação forjada na exploração colonialista, onde o acesso à educação superior ainda é um privilégio restrito a cerca de 20% da população jovem — e mesmo esse número esconde desigualdades profundas entre instituições públicas e privadas, entre brancos e negros, entre centro e periferia.

É necessário também que se diga: as políticas de cotas, embora conquistas relevantes das lutas sociais, permanecem, na maioria dos casos, limitadas ao vestibular. Elas funcionam como brechas no filtro, mas não resolvem o problema. Ao restringirem-se ao momento do ingresso, ignoram o fato de que a exclusão é um processo que começa muito antes da prova e continua depois dela. Sem políticas reais de permanência, de acolhimento, de reorganização curricular, essa mesma juventude que passa por um verdadeiro funil, acaba por não conseguir se formar e acabam abandonando, por diversos motivos, o sonho de concluir seu curso superior.

É necessário construir uma formação que articule universidade e território. Criar uma universidade onde ensino, pesquisa e extensão sirvam para realmente transformar todos os grandes problemas da sociedade, não continue sendo entregue ao rentismo. Precisamos abrir as portas do ensino superior, e, como falou Che Guevara, que a universidade se pinte realmente de povo.

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