Diversas categorias de trabalhadores e segmentos da sociedade tem se mobilizado contra as medidas antipopulares de prefeita de Campo Grande (MS) Adriane Lopes (PP).
Douglas Soares | Campo Grande (MS)
BRASIL – Em mais um episódio que expõe o descaso com a população e a repressão aos movimentos sociais, a Prefeitura de Campo Grande (MS) recorre à violência da Guarda Civil Metropolitana para tentar se blindar de protestos. No dia 29 de novembro, uma manifestação pacífica organizada por servidores, entregadores e pela comissão de mães atípicas, denunciava o abandono da gestão de extrema-direita de Adriane Lopes (PP) em relação à infraestrutura da cidade, à saúde e à falta de insumos essenciais para pessoas com deficiência. Mesmo assim, as mães foram recebidas com truculência e violência por agentes da Guarda Civil Metropolitana.
Imagens que circulam nas redes mostram Elisângela Silva de Souza, de 43 anos, mãe atípica, sendo empurrada por guardas da GCM. Ela foi derrubada covardemente e registrou boletim de ocorrência. Elisângela relatou escoriações e dores provocadas pela queda.
Como se a agressão física não bastasse, os ataques da prefeitura continuaram após o ato, desta vez de forma difamatória. Em coletiva de imprensa, a prefeita Adriane Lopes classificou a população que protestava como “bandidos”, afirmando que “ninguém estava preparado para um ataque de bandidos em um evento de crianças. Mas aconteceu.” Já em uma entrevista a uma rádio local, a prefeita voltou a difamar as famílias, dizendo que as mães atípicas seriam “bandidos armados com mais de 50 passagens pela polícia”.
Blindagem política e mentiras
Por diversas vezes, Adriane Lopes recorre a notícias fabricadas por veículos da mídia tradicional sul-mato-grossense para tentar deslegitimar demandas populares. No dia 27 de novembro, um jornal tradicional de Campo Grande estampou a manchete: “Mais da metade dos campo-grandenses aprovam a administração Adriane Lopes”. A matéria é mais um exemplo de como a mídia dos ricos tenta manipular dados e distorcer a realidade, acreditando que a população não é consciente das condições em que vive.
No entanto, a mesma pesquisa mostra que 40,93% dos entrevistados consideram a administração “péssima”, enquanto apenas 22,93% a avaliam como “ótima”. Seria interessante que o veículo explicasse qual seria essa suposta “capacidade de diálogo” atribuída a alguém que acumula mais de 40% de desaprovação e que tenta criminalizar movimentos populares.
No fim, a mídia burguesa tenta vender a imagem de que “está tudo bem”. E talvez esteja, ao menos para os donos do Consórcio Guaicurus, para as empreiteiras, e para as empresas que receberam aditivos milionários. Para esse grupo, de fato, a situação é excelente. E a mídia, como sempre, tem lado, o de quem a financia ou a controla diretamente.
Porém fora das máscaras da mídia burguesa, a gestão de Adriane Lopes tem prestado um “serviço exemplar” apenas em um quesito: acumular insatisfação popular mês após mês, vinda dos mais diversos setores da sociedade. A cada novo período, surge um ato de revolta denunciando o caos que se espalha pela capital sul-mato-grossense.
Na saúde, faltam medicamentos básicos, insumos essenciais para pessoas com deficiência e remédios controlados para uso psiquiátrico, seguindo com a política não declarada de transformar o atendimento em uma verdadeira prova de paciência.
Nas obras públicas, o cenário é semelhante. Dezenas de obras paradas, pistas que desabaram e seguem “em obras” desde a gestão passada, quando Adriane era vice-prefeita. Buracos que se multiplicam por toda a cidade, gerando prejuízos para a população, e acidentes a diversos entregadores. Árvores caídas desde as chuvas de novembro ainda bloqueiam calçadas, algumas removidas pela própria população, entre outros absurdos que se tornaram rotina.
Governo de extrema-direita
A gestão que se vendeu como “técnica” nas eleições, no fim aparelha secretarias com líderes de extrema-direita ou ligados ao chamado Centrão. Alguns dos exemplos são o de figuras como Viviane Tobias (PL), conhecida por campanhas antivacina e discursos contra os direitos das mulheres, que hoje ocupa um cargo na Secretaria Executiva da Mulher e o de Juliana Gaioso (PP), investigada por participação no golpe de 2022-23, hoje ocupando a Secretaria da Casa Civil do município.
Em outubro, durante um ato na prefeitura, puxado pelas Mães Atípicas, Viviane e Juliana chegaram a hostilizar as mães que protestavam. Confrontadas, com o fato de que a falta de assistência representa uma política de morte para pessoas com deficiência, surgiu a fala que representa muito bem a indiferença da extrema-direita: “Morrem pessoas todos os dias”.
Enquanto cargos públicos com altos salários são ocupados pela extrema-direita, a prefeitura desmonta direitos e desvaloriza os servidores. Mais de mil trabalhadores foram demitidos só este ano, salários de contratados foram reduzidos. E houve tentativas de retirada de direitos, como a redução de bônus de risco e insalubridade, cortes de plantões, entre outras medidas.
A justificativa da prefeitura é o “caixa zerado”. Mas trata-se de opção política. Empresas contratadas pelo município receberam aumentos milionários, como a responsável pela iluminação pública, cujo valor passou de R$ 6,2 milhões, em 2021, para R$ 18,8 milhões em 2024, e segue na casa do R$ 11,7 milhões em 2025. Esse é apenas um recorte de uma série de contratos que receberam aditivos milionários e condições vantajosas.
Já o arrocho atinge somente a base do funcionalismo. O alto escalão, incluindo a própria prefeita, segue com salários que chegaram a superar até os cargos do Governo do Estado. Não por acaso, o município ultrapassou o limite de gastos com pessoal previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal. Diante desse cenário, Adriane recorre a mentiras e agressões, afinal, a verdade costuma ser inconveniente para quem governa contra o povo.