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segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Racismo e capitalismo tiram bilhões todos os anos do povo negro

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O racismo promovido pelo capitalismo custa bilhões ao povo negro todos os anos, valor que deixam de receber por não terem a mesma remuneração que pessoas brancas exercendo as mesmas funções.

Rafael Figueira | Rio de Janeiro


BRASIL – O Brasil figura entre as dez maiores economias do planeta. É o sétimo país mais rico do mundo e o único entre os dez com maioria de população negra. No entanto, essa riqueza contrasta com uma realidade brutal: o país ocupa o posto de segunda nação mais desigual do planeta, dividindo o topo do ranking com países muito mais pobres, a maioria deles africanos.

Nosso país foi invadido por colonizadores portugueses em 1500 e viveu mais de 350 anos de escravidão legalizada. Isso significa que, de cada dez anos da nossa história, sete foram marcados pela escravização de pessoas negras.

As consequências desse período ainda determinam as oportunidades, a renda e a presença da população negra em diversas áreas sociais e profissionais.

Racismo custa bilhões ao povo negro

No fim de março de 2025, um relatório do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (CEDRA) trouxe novos números que ajudam a entender os impactos de séculos de violência e discriminação sobre a população negra.

Segundo o levantamento, a desigualdade racial promovida pelo sistema capitalista custou aos trabalhadores negros cerca de R$ 103 bilhões em 2025, valor que deixaram de receber por não terem a mesma remuneração que pessoas brancas exercendo funções idênticas. Um exemplo gritante está no trabalho doméstico: uma trabalhadora negra recebe, em média, 86% do salário pago a uma trabalhadora branca na mesma função.

O relatório destaca que a política pública mais importante para reduzir desigualdades foi a Lei de Cotas, de 2012. Em 2025, pela primeira vez, as universidades públicas terão metade dos seus estudantes negros e pardos.

Apesar do avanço, o impacto na renda ainda é tímido. Em 2012, a renda média de uma pessoa negra correspondia a 57,8% da renda de uma pessoa branca. Em 2020, mesmo com 13 anos de cotas, esse número subiu para apenas 59%. Mantido esse ritmo, a equiparação salarial só acontecerá em 2365.

Além disso, a presença negra ainda é majoritária em profissões como carpintaria, serviços domésticos, limpeza e mineração, enquanto cargos como juízes, arquitetos, médicos, engenheiros e economistas continuam predominantemente brancos.

Mesmo assim, as políticas de ação afirmativa seguem sendo alvo constante de ataques da extrema direita e das elites econômicas – os mesmos setores que sempre apoiaram a chegada de imigrantes europeus e asiáticos ao país, inclusive com políticas públicas, com o objetivo de embranquecer a população brasileira.

Mulheres negras chefiam lares

Em 2012, a maioria dos lares brasileiros era chefiada por homens. Em 2025, o cenário mudou: 51% das casas são chefiadas por mulheres, sendo 29,6% por mulheres negras e 21% por mulheres brancas.

Os lares liderados por mulheres negras, porém, enfrentam os maiores desafios: maior índice de gravidez na adolescência, moradias em áreas de risco e maior vulnerabilidade à mortalidade infanto-juvenil causada pela violência. Essas mulheres também lideram as estatísticas de desemprego: 15% estão desempregadas, em contraste com 7% dos homens brancos.

Outro dado relevante é a queda no número de lares interraciais. Atualmente, 42% das casas são compostas apenas por pessoas pretas e pardas, e 34% apenas por pessoas brancas. Pesquisadores levantam duas hipóteses para isso: pode haver uma maior consciência racial entre pessoas negras, estimulando relacionamentos dentro do grupo, ou um avanço do racismo e do higienismo na sociedade brasileira.

Só a luta pode vencer o racismo

O relatório do CEDRA aponta importantes propostas para enfrentar a desigualdade racial no Brasil. A desmilitarização das polícias militares aparece como uma das principais medidas estruturais, apontando a necessidade de transformar um dos instrumentos históricos de violência contra a população negra.

Também defende o fim da escala de trabalho 6×1, herança da lógica escravocrata, além da ampliação das políticas afirmativas, tanto no acesso ao ensino superior quanto nos concursos públicos. Outro ponto fundamental é a expansão de programas de moradia popular, com foco especial em garantir condições dignas para as famílias negras que vivem nas periferias.

Essas medidas, segundo o relatório, confirmam a importância da luta popular organizada, a exemplo das ocupações do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), das ações da Unidade Popular (UP), da Frente Negra Revolucionária (FNR) e do Movimento Luta de Classes (MLC) nas ruas, favelas, shoppings e mercados contra a exploração capitalista.

A história mostra que nenhuma conquista do povo negro veio sem luta. Foi a organização popular que derrotou a escravidão legalizada, que resistiu à ditadura militar, que derrotou o governo Bolsonaro e que enfrentou inúmeras políticas racistas ao longo dos séculos. Será com luta que conquistaremos uma sociedade sem racismo e capitalismo, a sociedade socialista. 

Matéria publicada na edição nº325 do Jornal A Verdade.

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