Uma mobilização inédita impulsionou a campanha salarial dos trabalhadores em empresas privadas de informática no Estado de Minas Gerais em 2012, organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Informática, Processamento de Dados e Similares de Minas Gerais (Sindados-MG). Após vários anos acumulando perdas salariais, com o consequente rebaixamento de seu poder de compra e de seu padrão de vida, a categoria decidiu se mobilizar para defender seus direitos já conquistados – e alguns deles ameaçados – e lutar também pelo avanço dos seus interesses.
A campanha salarial 2012 se iniciou com uma mobilização tímida, mas, após as primeiras rodadas de negociação com o sindicato das empresas, nas quais os patrões propuseram um reajuste salarial abaixo da inflação (INPC), congelamento dos tíquetes e redução da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) dos atuais 25% para 15%, a categoria se sentiu provocada e iniciou uma mobilização. Há muito tempo que não se via entre os trabalhadores das empresas privadas do setor tanta determinação para defender seus direitos.
Logo na assembleia seguinte a essa infame proposta, a categoria lotou o auditório do Sindados. Para as próximas assembleias foi necessário alugar um amplo estacionamento ao lado do sindicato para acomodar a todos.
Mostrando que é uma categoria esclarecida, que sabe muito bem o valor daquilo que produz, e que as empresas estão tendo lucros fabulosos devido à exploração do seu trabalho, os trabalhadores de tecnologia da informação não arredaram o pé dos valores iniciais de sua pauta de reivindicações durante várias rodadas da mesa de negociação. Isso levou a um acirramento com os patrões, que se mostraram intransigentes e dispostos, então, a resolver o impasse no tribunal.
Mas, para mostrar sua disposição de luta, numa das rodadas, a categoria fez manifestação, comparecendo à porta do sindicato patronal com bandeiras, faixas, apitos, cornetas e carro de som, fazendo muito barulho enquanto a comissão do Sindados negociava com o patronato. Somente quando os patrões abandonaram sua posição intransigente, sinalizando que manteriam a PLR, a categoria reconheceu que a negociação realmente iria começar.
O sindicato patronal, não obstante o crescimento do setor de Tecnologia da Informação nos anos anteriores, alega que as empresas estão passando por um momento delicado. E isso mesmo sendo beneficiadas com a redução dos encargos trabalhistas na folha de pagamento concedida em 2011 pelo Governo Federal às empresas do setor. O plano Brasil Maior reduziu os encargos de 20% para 2,5%. E, em agosto, essa taxa cairá ainda mais, para 2%.
Além dessa benesse do Governo, a presidente Dilma Rousseff anunciou em setembro o programa T.I. Maior, um pacote de R$ 500 milhões para incentivar as pequenas empresas do setor.
No ano de 2011, o mercado de Tecnologia da Informação fechou com US$ 102,6 bilhões, o que correspondeu a 4,4% do total do PIB. E, já no primeiro trimestre de 2012, o crescimento do setor foi três vezes maior que o PIB. Para o ano de 2012, algumas fontes projetam um crescimento de 10% a 12%.
Apesar dos incentivos fiscais e da redução de encargos criados pelo Governo Federal e dos superlucros obtidos pelas empresas do setor, os trabalhadores continuam sendo muito explorados, recebendo um salário abaixo do praticado pelo mercado e vivendo constantes ameaças de retirada de direitos.
Os trabalhadores sabem que toda essa riqueza foi produzida por eles e, por isso, não aceitam nem migalhas e muito menos retirada de direitos. A categoria de informática em Minas Gerais mantém, portanto, suas reivindicações de ganho real, reajuste dos tíquetes, aumento dos pisos e redução da jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas semanais. Nas próximas semanas, as negociações prosseguem com os trabalhadores mobilizados.
Glauber Athayde, diretor do Sindados-MG