Assim como na Grécia, na Espanha, em Portugal, e até mesmo na França, o povo italiano também é vítima dos planos de austeridade implementados pela chamada Troika (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional). Depois de cortes de verbas (e sucateamento) em todos os serviços públicos do país, com aumento dos impostos pagos pelas camadas mais pobres da população, com a implementação e os recentes aumentos das taxas anuais para o estudo universitário (que há alguns anos não é mais gratuito) e após uma reforma trabalhista que retirou os principais direitos dos trabalhadores e aposentados do setor privado, o primeiro-ministro Mario Monte resolve retirar dinheiro da educação pública, ou melhor, do Ensino Médio, para pagar a dívida formada pela crise causada pelas instituições financeiras europeias.
Em setembro, no começo do outono europeu, estudantes e trabalhadores começam a ver as novas mudanças da Reforma do Ensino Secundário (Riforma della Scuola Secondaria Superiore). Já em 2011 e 2012, as escolas italianas viram a diminuição das horas semanais realizadas por cada disciplina, além de concursos públicos que há alguns anos vêm sendo adiados, antes por Berlusconi e agora por Monti. Após a saída da ex-ministra Mariangela Gelmini, que implementou as reformas responsáveis pelo pagamento de altíssimas taxas para as universidades do governo, entra o atual ministro, Francesco Profumo, e impõe uma reforma, que tem como principais pontos:
* Aumento (de 18 para 24) das horas mínimas semanais em sala de aula dos docentes, tanto os contratados quanto os concursados. Isso significa que cada professor dará mais tempo de aula e serão necessários menos professores para cobrir a demanda, permitindo a contratação de menos docentes.
* A implementação da “Escola da Meritocracia”. Em cada escola será escolhido o melhor aluno como o “Estudante do Ano”, através de olimpíadas das diversas disciplinas. Esse estudante será premiado com desconto no pagamento das taxas anuais de ensino e redução no valor pago em transportes públicos. As empresas que contratarem aqueles considerados entre “os melhores”, receberão incentivos fiscais (redução de impostos).
Greves e protestos se intensificam
Segundo o ministro Profumo, as mudanças têm como objetivo “aumentar a competitividade, também entre docentes, mas principalmente entre os estudantes, ‘forçando’ estes a se dedicar mais, consequentemente melhorando a qualidade do ensino”. O ministro diz que, para “premiar” os professores, pretende aumentar o tempo de férias anuais dos docentes.
Em resposta, desde o mês de outubro, estudantes e professores vão às ruas nas principais cidades italianas como forma não somente de se manifestar contrários às mudanças anunciadas, mas principalmente para denunciar a grave situação das escolas italianas. Segundo professores da Central Geral Italiana dos Trabalhadores (CGIL), as escolas públicas não suportam mais tantos anos de sucateamento: falta de vagas nas escolas de todo o país (aumentando a tensão entre estrangeiros e italianos, que exigem prioridade de seus filhos no momento da matrícula diante dos não italianos), falta de material escolar, mesas e cadeiras quebradas, superlotação das salas de aula, ausência de concursos públicos, pouca reciclagem de profissionais (com professores que há anos lecionam para as mesmas séries, pois são impedidos de se aposentar). Com a atual reforma, as denúncias vão além: segundo cálculos dos sindicatos, haverá a demissão de aproximadamente 6.400 professores suplentes em todo o país. Isso é, na verdade, o plano de corte de gastos com educação de 184 milhões de euros, o que representa 86% do corte de verbas planejado pelo Governo com os planos de austeridade. Dinheiro destinado ao pagamento das dívidas interna e externa.
Em novembro, na manifestação europeia do dia 14 contra os planos de austeridade, professores e estudantes eram maioria nas ruas da Itália. E em 24 desse mesmo mês, numa greve nacional organizada conjuntamente por sindicatos de professores de todo o país e comitês de base das escolas, trabalhadores e estudantes das escolas públicas realizaram diversas manifestações em toda Roma.
Desta forma, mais uma vez, os trabalhadores e a juventude mostram que existe uma saída para essa crise que assola a Europa e todo o mundo, mas que essa união é fundamental para isolar o inimigo comum, o imperialismo e seus lacaios locais, e agregar as outras parcelas do povo que tanto sofrem com os ataques contra seus direitos, seus salários e condições dignas de vida.
Redação Sucursal Europa