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sábado, 21 de dezembro de 2024

No olho do furacão – (Carta aos netos)

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Escrevo esta carta com esperança de ser lido novamente daqui a alguns anos, por vocês, meus netos (Maria Clara, Pedro, Isabella, João e Lucas), os quais chegaram a este mundo agora recentemente; e pouco ainda sabem dos mistérios da vida neste lindo planeta azul.

Todavia, espero que, aí por volta de 2030, a geração dos meus netos possa avaliar se, enfim, triunfou a estupidez humana ou se conseguimos, pelo menos, manter viva a esperança. Prestem atenção! Neste início de milênio, não estamos atravessando apenas mais um momento de turbulência. Estamos dentro do olho do furacão.

A história contemporânea nos levou ao término da onda industrial, à drástica diminuição do Estado, à universalização da sociedade da informação (dominada pelo grande capital financeiro internacional), ao crescimento extraordinário dos fundos de previdência e aos lucros astronômicos das grandes instituições financeiras, fenômeno que fez explodir o estoque de recursos financeiros disponíveis, dos quais uma boa parte tem se destinado a perigosas especulações de curtíssimo prazo.

Falo do “capital volátil”. Um dinheiro sem pátria, ganancioso, sem coração, que quer ganhar muito e, se possível, muito rapidamente. Algumas fontes chegam a estimá-lo em mais de 30 trilhões de dólares. Especulação financeira pura e simples, que vai para onde os juros estão altos.

Nada desse dinheiro é investido para melhorar a qualidade de vida, não há interesse em acabar com a fome, nem preservar o meio ambiente, nem desenvolver qualquer economia, além de ser incontrolável.

Além disso, é preciso não esquecer a virulência da política externa da (por enquanto) maior potência do planeta, agora estimulada pela “vitória” na guerra contra um inimigo que não existia nem tinha armas nucleares: o Iraque. Para quem não sabe, Bin Laden era da Arábia Saudita, não era iraquiano.

Para manter os lucros do complexo industrial-militar e para conquistar reservas estratégicas de minérios, petróleo, entre outras; a guerra contra o Iraque bem não acabou e já estão preparando outras invasões.

As vendas do complexo industrial-militar não podem parar. São muitas indústrias multinacionais, faturando bilhões de dólares em aviões, helicópteros, veículos blindados, mísseis, armamentos, bombas, minas, munições, uniformes, alimentos, medicamentos, a lista é imensa.

Ah! O terrorismo deve ser incluído como ingrediente desse molho. Semana passada, uma nova série aparentemente coordenada de explosões acordou Bagdá e cercanias na manhã do aniversário de dez anos da Guerra do Iraque. São mais de 2.000 mortos e feridos apenas em 2013, que começa a ser um dos anos mais violentos no País desde a retirada das últimas tropas norte-americanas.

Na mesma sequência de ações de guerra, vimos caças de Israel bombardear alvos dentro da Síria. Segundo o New York Times, o carregamento era de mísseis terra-terra de última geração que vinham do Irã.

Será o início do indesejado (?) triunfo da estupidez humana?

Relembro: para depor Saddam Hussein, Bush mentiu e sacrificou a vida de milhares de iraquianos (mártires, na visão árabe); desrespeitou a ONU, a Otan (aliança militar ocidental), a coalizão antiterror; comprometeu a imagem dos EUA perante o mundo; destruiu monumentos e milhares de relíquias do berço da civilização e a própria noção de que a humanidade progride, ou deveria estar evoluindo.

Bush inaugurou a barbárie contemporânea. Aparentemente, o mundo caminha, perigosamente, sob uma estúpida hegemonia, no médio prazo, para a barbárie de alta tecnologia.

Cá no meu canto, ingenuamente, como queria Agostinho (354 a 430 d.C.), eu persisto com a Esperança, ao lado de suas duas filhas lindas: a Indignação e a Coragem de continuar lutando por um mundo melhor. Na estação futuro, vocês, Maria Clara, Pedro, Isabella, João e Lucas, poderão tirar a limpo se valeu a pena este avô haver sonhado com a Estrela da Manhã; ou se a estupidez humana triunfou.

Saibam que torço e vibro para que, com os pés bem firmes no chão, toda a geração dos meus netos possa ter os olhos, o coração e a mente nas estrelas. E que possam encontrar motivos para continuar gostando da vida como ela é.

Rinaldo Barros

Rinaldo Barros é professor – [email protected]

 

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