Iraque: o fim de uma guerra injusta, ilegal e covarde

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No último dia 15 de dezembro o governo norte-americano anunciou o encerramento oficial da guerra do Iraque e a retirada do país dos últimos soldados da coalisão imperialista encabeçada pelos Estados Unidos e a Inglaterra, dando fim a uma guerra injusta, ilegal e covarde cujo único objetivo era a conquista e a escravização do Iraque e de seu povo.

Oficialmente, a decisão foi tomada depois que o parlamento iraquiano rejeitou a proposta dos Estados Unidos para que fosse concedida total imunidade jurídica e criminal aos soldados norte-americanos dentro do país. Entretanto, o enorme desgaste internacional provocado pela guerra, a impotência das forças invasoras frente à resistência iraquiana e a necessidade de se focar na preparação de uma possível invasão do Irã foram os verdadeiros motivos que levaram o imperialismo a “teoricamente” saírem do Iraque.

“Teoricamente” porque mesmo com a retirada das tropas milhares de “civis” norte-americanos permanecerão no Iraque para, supostamente, ajudarem na reconstrução do país que eles mesmos destruíram.

Tentando confundir a opinião pública dos reais motivos que levaram à retirada, o secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, disse durante a cerimônia de anúncio da decisão que “depois de muito sangue derramado por americanos e iraquianos, a missão de chegar a um Iraque que pode se governar e garantir sua segurança se tornou real. O custo foi alto, em sangue e recursos do Tesouro dos EUA, e para o povo iraquiano. Mas essas vidas não foram perdidas em vão”.

Uma farsa, pois, o Iraque deixado pelos imperialistas após a guerra está longe de ser um país “que pode se governar e garantir sua segurança”. De fato, de acordo com o levantamento feito por Michael O’Hanlon, da ONG BrookingsInstitution, o número de civis iraquianos mortos em 2011 foi até agora de 1.215, o que não é o que se espera de um país onde supostamente a guerra acabou. Além disso, ainda são registrados por mês mais de 200 ataques armados promovidos por rebeldes em várias regiões do país.

Entretanto, o que não se pode negar é que o custo da guerra foi alto, principalmente para os iraquianos.Para estes, a fatura a ser paga depois de anos de invasão é composta pela morte de centenas de milhares de pessoas ea mutilação de outros milhares, pelo pesadelo das torturas e humilhações, pela insegurança, o desemprego, a fome e a falta de água potável e outros serviços básicos. Ao contrário do que pregou o imperialismo, a democracia e o desenvolvimento não chegaram juntos com as bombas e os tanques.

Os motivos e as mentiras da guerra

Durante os meses que antecederam a invasão do Iraque uma gigantesca campanha de mentiras e falsificações foi promovida pela imprensa burguesa e pelos governos imperialistas para justificar perante a opinião pública internacional uma nova guerra e esconder dos trabalhadores e dos povos seus verdadeiros objetivos. A principal e mais famosa dessas mentiras era a de que o Iraque possuía armas químicas e biológicas de destruição em massa e que, portanto, era preciso desarmá-lo.

Entretanto, nas mais de 700 inspeções realizadas pela ONU no país nenhuma dessas poderosas armas foi encontrada, pois como sabemos, se há um lugar no mundo onde podemos encontrar armas de grande poder de destruição esse lugar são os Estados Unidos, que não apenas as possui em grande quantidade, como também as usam frequentemente contra pessoas inocentes, como provam os covardes bombardeios contra Hiroshima, Nagasaki, Vietnã, Afeganistão, Líbia e Iraque.

Mas, mesmo sem argumentos convincentes que “justificassem” a guerra contra o Iraque, a sede de dinheiro e de petróleo dos imperialistas falou mais alto.

Passados oito anos e nove meses, até hoje não se tem com certeza a dimensão dos estragos causados pelos bombardeios imperialistas no país. Segundo dados do Departamento Defesa dos Estados Unidos, dos mais de 150 mil soldados enviados ao Iraque durante a guerra, 4.487 morreram e quase 32 mil foram feridos. A Inglaterra perdeu 179 militares e os demais países que fizeram parte da invasão somaram 139 mortes.

Entretanto, os números de vítimas entre os civis iraquianos são os que mais impressionam e revelam com clareza a crueldade e a covardia dessa guerra.De acordo com a organização IraqBodyCount (IBC)ocorreram entre 97.461 e 106.348 iraquianos morreram até julho de 2010.Outros relatórios e pesquisas apresentaram estimativas diferentes. A pesquisa sobre a Saúde da Família Iraquiana, que contou com o apoio da ONU, estimou que ocorreram 151 mil mortes violentas apenas no período entre março de 2003 e junho de 2006. Já a revista The Lancet publicou em 2006 uma estimativa de 654.965 mortes entre iraquianos relacionadas à guerra, das quais 601.027 foram causadas por violência.

Toda essa violência levou milhares de famílias iraquianas a abandonar suas casas e fugir do país. De acordo com a Organização Internacional de Migração, que monitora o número de famílias que abandonaram suas casas, nos quatro anos entre 2006 e 2010, mais de 1,6 milhão de iraquianos tiveram que deixar seus domicílios.

Bilhões de dólares foram gastos com a guerra, recurso esse várias vezes maior do que o necessário para acabar com a fome e com dezenas de epidemias no mundo. Segundo o Serviço de Pesquisa do Congresso dos EUA,o país gastou quase US$ 802 bilhões para financiar a guerra. No entanto, o economista vencedor do prêmio Nobel Joseph Stiglitzafirma que o custo real chega a US$ 3 trilhões se os impactos adicionais no orçamento e na economia dos Estados Unidos forem levados em conta.

Guerra destruiu o Iraque

Durante nove anos o Iraque e seu povo foram vítimas de uma guerra injusta, ilegal e covarde promovida pelas maiores potências do mundo.

Injusta porque se tratou de uma guerra imperialista, uma guerra de pilhagem cujo objetivo era tomar posse das riquezas iraquianas e explorar seu povo.Ilegal, pois desrespeitou os mais básicos princípios do direito internacional e da livre determinação e soberania dos povos, passando por cima de várias resoluções da ONU e da vontade da opinião pública mundial. E covarde porque se tratou de uma guerra dos maiores exércitos do mundo contra um país que durante anos foi vítima de um bloqueio econômico que, entre outras coisas, proibia-o de comprar qualquer tipo de material militar.

O resultado é que hoje o Iraque é um país arrasado. A economia está praticamente destruída, não há liberdade para o povo e o desemprego, a violência e a pobreza são maiores do que antes da guerra. De fato, enquanto que, antes de 2003, aproximadamente um em cada dez iraquianos vivia na pobreza, hoje a cifra é de um em cada quatro.

Os únicos beneficiados pela guerra foram as grandes companhias petrolíferas do mundo, que explorarão o petróleo iraquiano por longas décadas, e o imperialismo norte-americano, que assegurou ainda mais o seu controle das maiores reservas de petróleo do mundo, além de ampliar sua presença militar no Oriente Médio, preparando-se desde já para a próxima agressão, desta vez contra o Irã, como demonstram as inúmeras ameaças e sanções impostas ao país pelos Estados Unidos.

Há anos a economia capitalista atravessa uma profunda crise, resultado da concentração de riquezas nas mãos de uma minoria, enquanto a grande maioria da população vive com baixos salários. Assim, com a perda crescente de sua força econômica, resta ao imperialismo norte-americano o uso do seu poderio militar para impor seus interesses ao restante do mundo e conquistar mercados e matérias-primas estratégicas.

A guerra contra o Iraque foi uma importante experiência para os trabalhadores e os povos do mundo, que aos poucos compreendem que o imperialismo constitui, pela sua natureza, uma fonte de guerras, e queenquanto existir o imperialismo, mantém-se a base econômica das guerras de agressão e o perigo do seu surgimento. E mais importante: percebem que a única maneira de se conquistar o fim das guerras, a paz entre os povos, o fim das pilhagens e violências é lutando contra esse odioso sistema capitalista e pela edificação do socialismo.

Heron Barroso