Leonardo Péricles iniciou sua militância ainda estudante secundarista, destacando-se como presidente da Associação Metropolitana dos Estudantes Secundaristas da Grande BH (AMES-BH), estando à frente de dezenas manifestações em defesa do meio-passe estudantil em Belo Horizonte e por educação pública de qualidade. Como estudante da UFMG, foi eleito diretor da União Nacional dos Estudantes (UNE), protagonizando as lutas em defesa do livre acesso dos estudantes à universidade pública e pela assistência estudantil. Convidado para participar da reorganização do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) no Estado de Minas Gerais, foi um dos responsáveis pela retomada das lutas por moradia popular e reforma urbana na capital mineira. É um dos organizadores da Ocupação Eliana Silva, um exemplo de organização popular e trabalho coletivo, e da união das dezenas de ocupações urbanas da Belo Horizonte. Agora, Leonardo assume um novo compromisso, que é a construção de um novo instrumento político para continuar avançando a organização popular em todo o Brasil, a Unidade Popular pelo Socialismo. Em entrevista exclusiva ao jornal A Verdade, ele fala dessa nova experiência, das expectativas e dos desafios que terá pela frente.
A Verdade – Como nasceu a proposta de organizar a Unidade Popular pelo Socialismo?
Leonardo Péricles – Esta ideia não surgiu só agora, mas sim há cerca de oito anos. Um grupo de militantes de diversos movimentos populares, sindicalistas, ativistas e jovens, socialistas e comunistas, de várias partes do país e que desenvolvem importantes lutas pelos direitos do povo, há muito tempo, não se sente representado pelos partidos legais existentes. Após as chamadas jornadas de junho de 2013, quando milhões de pessoas tomaram as ruas do Brasil exigindo direitos historicamente negados (saúde, educação, moradia, democracia, etc.), ficou ainda mais clara a necessidade de organizarmos uma alternativa política para dar resposta a essas demandas. Vivemos num país muito rico, populoso e com muitas riquezas naturais. Temos condições suficientes para resolver todos os principais problemas sociais, ou seja, acabar por completo com a fome, a miséria, o desemprego, a falta de moradia, com o analfabetismo, com a falta de uma saúde pública digna. Temos um povo extremamente criativo, que luta diariamente para sobreviver, que não se rende à opressão, mas que ainda não tem vez neste país. Para esta empreitada, contamos com o apoio de diversas militantes e organizações populares, como o MLB, movimento do qual faço parte de sua Coordenação Nacional, do Movimento Luta de Classes (MLC), da União da Juventude Rebelião (UJR), do Partido Comunista Revolucionário (PCR), do Movimento de Mulheres Olga Benário, dentre outros, que são parte integrante desta construção.
Quais são as principais bandeiras do Partido?
Nosso partido tem como bandeiras principais as mudanças estruturais pelas quais o povo luta há mais de um século no Brasil como, por exemplo, uma reforma agrária popular que tire as terras das mãos dos latifundiários e as entregue aos camponeses pobres; nacionalização de todas as riquezas naturais; nacionalização do sistema bancário e controle popular do sistema financeiro; controle social de todos os monopólios e consórcios capitalistas e dos meios de produção nos setores estratégicos da economia; a reestatização das empresas estatais privatizadas em nosso país, como Vale do Rio Doce, CSN, o sistema de telefonia e de energia; salários dignos para e efetiva justiça para a maioria trabalhadora e o povo.
Lutamos também para construir o socialismo em nosso país, pois esta é a única forma de assegurar nas mãos da classe trabalhadora o poder político. Não se pode conduzir uma luta séria, consequente, em busca da justiça social, se não tivermos este norte. O socialismo é o único sistema que pode garantir a felicidade aos que hoje são oprimidos e explorados pelo sistema capitalista.
As campanhas eleitorais dos três principais candidatos à Presidência da República – Dilma, Marina e Aécio – gastarão quase R$ 1 bilhão. Como pretendem enfrentar esta situação nas eleições?
Para que essas campanhas arrecadem tanto, tiveram que buscar recursos nas grandes empresas, bancos e poderosos monopólios econômicos, que acabam determinando e controlando as principais decisões políticas dos governos através dessas “doações”. E lógico que, ao fazer isso, têm que se comprometer em manter os privilégios desses grupos que os financiam. Não há como governar garantindo os direitos da maioria do povo se esses governantes estão comprometidos com uma minoria, com os donos das fábricas, das terras, dos bancos, que enriquecem explorando justamente a maioria trabalhadora.
Para enfrentar essas campanhas milionárias, que têm como base o marketing, desprezando o debate de ideias e escondendo suas reais intenções, é necessário organizar um movimento capaz de reunir milhões de pessoas, ou seja, devemos responder com militância política. Ao invés de cabos eleitorais pagos, vamos investir na formação de militantes para saírem às ruas, escolas, universidades e bairros populares, que atuem nas organizações classistas, nos sindicatos e entidades combativas, lutadores sociais que representem as forças vivas da sociedade e que defendam transformações profundas.
Mas não é só isso, também temos que acumular força entre os trabalhadores, no que há de mais honesto e sincero que exista no meio do povo, contarmos com milhares de lideranças que não se vendam, que não recebam para fazer campanha e não tenham objetivo de enriquecer e de explorar. Pelo contrário, que lutem contra a compra de votos, contra os privilégios e contra esse modelo de político burguês, com um estereótipo de empresário. Por isso, nosso partido entende que devemos defender as classes exploradas, que são a maioria esmagadora do povo, porque todo partido defende os interesses de uma determinada classe, e, como sabemos, a maioria dos partidos legais defende as classes dominantes.
Por ter havido erros de outros partidos, não quer dizer que não possam haver novas opções que superem esses erros. As diversas experiências devem ser usadas a nosso favor. Podemos acumular forças para que nossas ideias sejam entendidas pelo povo e possamos eleger pessoas comprometidas com os reais interesses populares, mas sem cair em ilusões. O atual sistema econômico e político deve ser derrubado e não simplesmente reformado.
Como pretendem cumprir as exigências da legislação eleitoral para a criação de um novo partido?
Nos últimos anos, surgiram partidos montados artificialmente, comprando pessoas para conseguir assinaturas e até falsificá-las, ou seja, já nascem com esquemas de corrupção.
Nossa construção é popular, de forma que quem está trabalhando no recolhimento de assinaturas, levando nossas fichas para a população, são lideranças populares, sindicais, estudantis, intelectuais comprometidos com as causas sociais, milhares de pessoas com os mesmos objetivos. Por isso mesmo, o trabalho coletivo deve ser o principal. Nós indivíduos somos muito limitados trabalhando sozinhos, mas quando trabalhamos segundo as ideias de um coletivo de pessoas, podemos ir muito longe. Todos os envolvidos na construção da Unidade Popular têm a consciência de estarem contribuindo com a criação de um novo instrumento que possa permitir a libertação da exploração a que milhões estão submetidos hoje.
Onde explicamos as nossas propostas e ligamos essa agitação política com os problemas vividos pelo povo no seu dia a dia, somos bem recebidos. E as pessoas ainda dizem coisas do tipo: “já era hora de isso acontecer”, “realmente estamos sem opção”, “pode contar comigo, já me decepcionei muito, mas acredito que coisa nova pode surgir”.
Também é importante termos muita paciência, pois tem muita gente boa que pode nos confundir com a maioria dos demais partidos burgueses, então temos esses vamos convencer pela nossa prática. Isso que vai diferenciar nossa militância da superficialidade dos demais partidos. Não vamos apenas recolher assinaturas, estamos procurando crescer entre os trabalhadores e somente conseguiremos isso se organizarmos, apoiarmos, incentivarmos e participarmos das lutas do nosso povo. Somos, antes de tudo, uma organização de luta da classe trabalhadora.
Da Redação