O livro “Assim foi temperado o aço”, de Nicolai Ostrowski, teve um grande sucesso de vendas na União Soviética, sendo um exemplo do papel da literatura em auxiliar o Estado revolucionário a educar seus jovens e desenvolver nas novas gerações a coragem e a confiança em sua missão de formar e consolidar a sociedade socialista. Aqui no Brasil, a editora Expressão Popular lançou a obra em português, e está entre seus livros mais vendidos.
O livro relata a vida do protagonista Pavel, do período da tomada do poder pelos bolcheviques, em 1917, até o final da década de 1920, ambientado na Ucrânia, um dos países que viria a constituir a União Soviética. O país vive então um processo muito difícil, envolvendo o período de guerra civil e dos primeiros passos da construção de uma nova sociedade.
Pavel passa por diversas provações e tensões desse período, trabalhando incansavelmente. Aos 24 anos, após escapar da morte diversas vezes, seja por bala ou por doenças, já está com o sistema nervoso bastante debilitado, sem nenhuma condição de cumprir tarefas práticas. Acaba aposentado e passa a se dedicar integralmente ao trabalho político e intelectual, lendo sem cessar a literatura marxista.
Em sua procura por tarefas dentro do Partido, Pavel tem a possibilidade de trabalhar na imprensa e consegue uma conversa com a editora-chefe do jornal central. A seguir, o diálogo entre a redatora e Pavel:
Na redação receberam Pavel muito afavelmente. A diretora, velha militante dos tempos da ilegalidade e membro da comissão central de controle da Ucrânia, fez-lhe várias perguntas.
– Qual é a sua instrução, camarada?
– Três anos de escola primária.
– Esteve nas escolas políticas do Partido?
– Não.
– Não importa; às vezes sem isso surgem também bons jornalistas. O camarada Akim falou-nos de você. Podemos dar-lhe trabalho, não para que venha obrigatoriamente aqui, mas para que o faça em casa, em geral, criar-lhe condições adequadas. Mas esse trabalho requer amplos conhecimentos. Em particular na esfera da literatura e da linguagem.
Tudo aquilo augurava a derrota de Pavel. Em meia hora de conversação, manifestou-se sua falta de conhecimentos; e no artigo, escrito por ele, a mulher sublinhou com lápis vermelho mais de trinta erros de estilo e não poucos ortográficos.
– Camarada Pavel! Você tem grandes condições. Se se preocupar em aprofundar seus conhecimentos, no futuro poderá converter-se num trabalhador literário, mas agora você escreve mal. Por seu artigo vê-se que não conhece a língua russa. Isso não é de admirar, não teve tempo para estudar. Mas sentimos muito, não podemos utilizá-lo. Repito-lhe que você tem grandes condições. Se se corrigisse seu artigo, sem mudar o conteúdo, seria magnífico. E nós necessitamos, precisamente, de pessoas que saibam corrigir o artigo dos outros.
Esse diálogo do livro nos traz uma importante lição: a necessidade de os revolucionários conhecerem e dominarem a sua língua. Hoje, vivemos no Partido, um importante debate entre os que fazem o jornal A Verdade paraescreverem mais e melhor, visando garantir uma publicação semanal. Lendo Assim foi temperado o aço, conheceremos a rica história da construção do socialismo na União Soviética e encontraremos essa e muitas outras grandes lições.
O livro pode ser encontrado no site da editora Expressão Popular: www.expressaopopular.com.br.
Queops Damasceno, militante do PCR