Durante a realização do 15º Seminário Internacional Problemas da Revolução na América Latina, realizado no Equador de 11 a 15 de julho, o jornal A Verdade entrevistou Zinaia Smírnova, dirigente do Partido Comunista (bolchevique) de toda a União Soviética. Zinaia analisa a atual situação da Rússia, do movimento revolucionário e a repressão no país.
A Verdade – Zinaia, nos fale um pouco sobre a volta do capitalismo na Rússia, sobre a situação atual do povo Russo.
Zinaia Smírnova – Em primeiro lugar gostaria de saudar fraternalmente o Partido Comunista Revolucionário e o jornal A Verdade, que nós conhecemos bem, e a classe operária brasileira. Recebam esta saudação em nome da pátria de Lênin e Stálin, em nome do Partido Comunista (bolchevique) de toda a União Soviética e em nome da pátria que venceu o fascismo e que não está de joelhos frente à ditadura fascista da Rússia atual. Bem, neste momento estamos vivendo a “data negra” – agora faz 20 anos do fim da URSS. O povo soviético viu por dois momentos a justeza da doutrina marxista; o primeira de fato, depois da revolução e até 1956, e. agora, mais ainda no absurdo que vivemos atualmente. Em 20 anos não houve a construção de um metrô sequer, nem de uma fábrica; foi construído um único avião e 80 milhões de russos são considerados em baixas condições de saúde e expectativa da vida. 80% dos hospitais não têm água e também 80% dos medicamentos vendidos em farmácias são falsificados; 75% da população não tem condições de se alimentar bem e 20% da população entre 7 e 20 anos não sabe sequer assinar o nome. Por outro lado, as 20 pessoas mais ricas da Europa são russas. A população na Rússia, ao contrário do que acontece em geral no mundo, diminui ano a ano. Agora, para cada nascimento são registradas de 2 a 2,5 mortes no país, dependendo da região. Desde 1992 se morre mais do que se nasce na Rússia. São registradas 50 mil mortes no país ao ano. A expectativa de vida caiu de 75 anos para mulheres e 73 para homens, em 1991, para atuais 56 e 42, respectivamente. Para termos ideia do que isso significa, a guerra no Afeganistão assassinou 13 mil pessoas durante 10 anos. Hoje é mais seguro viver no Afeganistão do que na Rússia. Existem 14 milhões de policiais de todos os tipos na Rússia, mas estamos em primeiro lugar no mundo em tráfico de drogas e de órgãos humanos. Apesar de 90% do gás e do petróleo utilizados na Europa virem da Rússia, lá o preço da gasolina é o dobro do que é cobrado nos EUA, cerca de US$ 3 [cerca de R$ 4,70] o litro. A comida é muito cara, mas em compensação a vodca e o cigarro são muito baratos: com poucos centavos se pode comprá-los.
O Governo tem aumentado a repressão ao movimento revolucionário?
O governo russo está sustentando em três pilares: demagogia, passividade da população e repressão. O governo utiliza demagogia barata para se manter. É disseminada a ideia de que a Rússia está em processo de reconstrução e também que tem caráter anti-imperialista, razão pela qual é “malvista e perseguida” pelo mundo. Por outro lado, com a derrota da URSS o povo russo ficou desnorteado. Tinha-se clareza de que o caminho era o socialismo, e a população não entende o que aconteceu – ficou descrente na mudança. Além disso, existe a realidade de que 80% dos ingressos financeiros russos vêm através do petróleo; com o aumento internacional do valor desse produto, alguns setores tiveram melhora nas condições de vida. Tudo isso colabora para uma posição de passividade da população. Quanto à repressão, o governo tem mecanismos legais de reprimir não somente os revolucionários, mas qualquer pessoa que esteja em desacordo com ele. Sentenças de morte e sequestros de crianças sob a alegação de que seus pais não têm condições morais de criá-las, tudo isso por motivos políticos, são praticados indiscriminadamente e dentro da lei. Nossa filha foi sequestrada com esta alegação. Houve muita manifestação de apoio e, depois de cinco meses, conseguimos a autorização para passarmos três dias juntos, e foi quando tive a chance de fugir com ela. Ela dizia apenas três palavras quando a encontramos: “Eu tenho medo”. Não temos condições de voltar para a Rússia neste momento, porque, além de tudo, estou com a minha sentença de morte decretada. Setenta mil crianças passaram por situação semelhante na Rússia, não somente porque os pais são comunistas, mas porque essa é uma forma de pressão do Estado contra qualquer um que se oponha à sua política. Desde 2009 o PC(b)R está proibido e vive na clandestinidade.
Como se posiciona o Partido Comunista da Federação Russa frente a essa situação?
O Partido Comunista revisionista se diz continuador do processo revolucionário e apresenta a realidade de hoje como um processo que vem desde a revolução e é alinhado ao governo. Eles apoiaram o Parlamento em favor desta prática de sequestro de crianças, por exemplo. Hoje, o que acontece na Rússia é uma espécie de vingança da burguesia por termos construído o socialismo, por termos vencido o fascismo e, principalmente, pela ação de Lênin e Stálin. É verdadeiramente uma política genocida contra nós.
E como vocês avaliam o avanço da luta revolucionária neste momento?
No último congresso do nosso partido, realizado na clandestinidade em 2010, concluímos que vivemos na Rússia uma situação pré-revolucionária, porque as classes dominantes não podem mais governar com seus “velhos métodos”, como diria Lênin. O regime está caindo em descrédito, cada vez mais, diante da população. Nos últimos anos tem aumentado o número de greves e ações de protesto, inclusive ilegais. A insatisfação cresce até mesmo entre as estruturas de poder, especialmente na aeronáutica e na marinha. O trabalho do nosso partido agora está voltado para criar as condições subjetivas para a revolução, para que as massas mais amplas do povo trabalhador reconheçam em nosso partido a força capaz de movê-las ao assalto da fortaleza do poder do capital. Nosso jornal A Verdade Bolchevique foi proibido, mas em julho deste ano começamos a distribuição do A Bandeira Bolchevique, restabelecemos o trabalho com a nossa página na internet, atualizada no exterior, e também nas redes sociais e jornais locais. Além disso, a orientação do partido é que ampliemos nosso trabalho junto às organizações sociais – e já temos importante influência em muitas. Não estamos de joelhos diante desse governo fascista. O que o capitalismo demonstra é que ele representa a morte, mas a vida é sempre mais forte que a morte. Como dizemos na Rússia, sobre a tormenta triunfa o arco-íris, sobre a morte triunfa a vida, e é pela vida de nosso povo, pelo amanhecer de nosso país que luta o Partido Comunista (bolchevique) de toda a União Soviética.
Da Redação