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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Subsídios a banqueiros e guerras são as causas da gigantesca dívida dos EUA

Na região mais conhecida como o Chifre da África, milhões de pessoas estão morrendo de fome. Membros dos grupos de assistência da ONU (Organização das Nações Unidas) encontram crianças fracas demais até para engolir a comida. Pais estão assistindo a seus filhos morrer sem nada poder fazer. Halimar Omar, um pequeno agricultor na Somália, após três anos de seca, já enterrou quatro de seus seis filhos. “Não há nada pior que ver uma criança morrer diante de seus olhos porque você não pode alimentá-la”, disse Omar. Segundo Ban Ki-Moon, secretário-geral da ONU, são mais de 11 milhões de pessoas que estão em extrema necessidade na Somália e sete milhões no Quênia e na Etiópia.

Até agora, alguns poucos governos atenderam aos apelos desesperados do secretário-geral da ONU para aumentar as doações de alimentos. No total, quase um bilhão de pessoas passam fome no mundo.

Não bastasse, prosseguem sem trégua os bombardeios das potências imperialistas (EUA, Inglaterra e França) sobre a Líbia. Até julho, informa a ONU, mais de 15 mil líbios morreram devido à nova guerra imperialista.

Porém, essas enormes tragédias humanas, que revelam bem o que é o sistema capitalista, são colocadas de lado pelos grandes meios de comunicação para destacar se o Governo dos Estados Unidos vai ou não elevar mais uma vez sua dívida de 14,3 trilhões de dólares, o equivalente a sete vezes o PIB do Brasil. Aliás, aumentar a dívida norte-americana não chega a ser uma novidade: desde os anos 80, o Congresso já aumentou 40 vezes o  teto da dívida.

Mas por que tanta preocupação com o aumento da dívida da maior potência econômica capitalista?

Os possuidores dos títulos da dívida são os mega-agiotas de papéis, isto é, grandes bancos, fundos de investimentos, corporações internacionais, bilionários e Tesouros de dezenas de países. Sem aumentar o teto da dívida, os EUA não têm como pagar a esses especuladores e, teriam que renegociar o prazo de vencimento dos títulos e os juros a serem pagos. Teriam, assim, uma queda em seus rendimentos. Portanto, o interesse da grande burguesia que governa o mundo com o aumento do teto da dívida pública é unicamente garantir que a agiotagem internacional continue funcionando sem freios.

No entanto, apesar de todo o estardalhaço da grande imprensa sobre essa dívida, nada é dito sobre as reais causas do seu colossal aumento.

De fato, os EUA não chegaram a ter a maior dívida do mundo à toa. Trata-se do país que mais gastos militares realizou desde a Segunda Guerra Mundial. É o que mais fabrica e possui armas nucleares; o que mais financiou e apoiou golpes contra governos populares; possui 1.000 bases militares fora do país e é o que mais guerras e intervenções realizou nos últimos 60 anos.

Somente no ano passado, os EUA gastaram 800 bilhões de dólares para financiar as guerras no Iraque e no Afeganistão. Este ano, com a guerra para conquistar o petróleo líbio, o gasto militar cresceu ainda mais. Por dia, são gastos dois milhões de dólares na guerra contra a Líbia e, a exemplo do Governo Bush, Barack Obama tem aumentado o orçamento militar todos os anos.

Portanto, as guerras financiadas com o dinheiro público e os gastos militares são as principais razões para a disparada da dívida dos EUA. Sem pôr fim às guerras imperialistas, não há como o problema da dívida ser resolvido.

Uma outra causa para o brutal avanço da dívida são os variados e enormes subsídios que o Governo estadunidense concede há anos à classe capitalista. Com efeito, os ricos norte-americanos anualmente recebem financiamentos a juros negativos para suas empresas e maciços cortes de impostos. Para se ter uma ideia, basta saber que até jatinhos de executivos das grandes empresas têm o combustível pago pelo Estado.

Governo doou bilhões para banqueiros

Ademais, com a nova crise do capitalismo, os EUA gastaram rios de dinheiro para socorrer seus monopólios e bancos e evitar a bancarrota da GM, da Ford, dos bancos JP Morgan, AIG, Bank of America, Merrill Lynch e Citigroup, entre outros. O total gasto com o socorro aos bancos e monopólios ultrapassou os cinco trilhões de dólares. Tivessem os EUA poupado esse dinheiro, a dívida seria bem menor.

Por fim, com o desemprego recorde – hoje mais de 20 milhões de homens e mulheres estão desempregados- ,famílias endividadas e sendo despejadas de suas casas, 50 milhões de pessoas vivendo na pobreza e a economia em recessão, a arrecadação caiu. Com menor arrecadação e gastos maiores, a dívida cresce em espiral Por mês, a dívida norte-americana aumenta cerca de 130 bilhões de dólares.

A solução seria, portanto, os EUA abandonarem sua política imperialista e poremr fim aos privilégios para banqueiros e corporações internacionais, mas isso vai contra a essência do sistema capitalista.Afinal, sem as guerras, como os monopólios norte-americanos vão conquistar petróleo de outras nações? Sem intervenções e chantagens  sobre governos, como os EUA vão conquistar mercados para seus produtos e manter a espoliação sobre dezenas de nações? Lembremos que os EUA consomem 25% do petróleo mundial, mas possuem apenas 2,38% das reservas e que, após a invasão do Iraque, quatro empresas norte-americanas, (Halliburton, Baker Huhhes, Wearhertford e Schlumberger) detêm a maior parte dos contratos para a exploração do petróleo iraquiano.

Por outro lado, não são  só os EUA que estão à beira de um calote. Após três anos salvando bancos e monopólios, a maioria dos governos capitalistas também está atolado em dívidas impagáveis.

Segundo dados do Economist Intelligence Unit (EIU), o Japão tem uma dívida de 199% do seu Produto Interno Bruto (PIB). A Itália, 119%. A China, aproximadamente 90% do PIB. A Alemanha, 69% e Portugal (93%).

Somadas as dívidas dos países europeus que declaradamente não têm condições de pagar, o montante chega a 5,5 trilhões de euros.

Desesperados, e vendo seu sistema caminhar para a bancarrota, a burguesia mundial e, em particular, a oligarquia financeira, tudo faz para que os trabalhadores e os povos paguem por mais uma crise econômica.

Esta é a razão para vários economistas burgueses defenderem abertamente que somente um corte gigantesco nos programas sociais, o desmantelamento da saúde pública e a privatização da educação podem reverter a situação de endividamento dos Estados capitalistas.

A Grécia, por exemplo, para receber um novo empréstimo do FMI e da União Europeia, foi obrigada a vender sua soberania, demitir 150 mil trabalhadores, privatizar empresas públicas, cortar verbas para a educação e a saúde, aumentar a jornada de trabalho e reduzir o salário mínimo. O resultado dessas draconianas medidas, semelhantes em tudo aos planos do FMI para a América Latina, foi aumentar a recessão e a pobreza no país.  Tornou-se comum nas ruas de Atenas encontrar pessoas sem-teto vasculhando caixotes de lixo à procura de alimento e desempregados nas ruas em busca de  trabalho.

Pior. Nada no horizonte aponta para o fim da atual crise capitalista.

A economia global continua em recessão e a OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico) prevê desaceleração na maioria das grandes economias, inclusive China, Brasil e Índia.

De acordo com a organização britânica Oxfam, o preço dos alimentos aumentará de 70 a 90% até 2030 devido à especulação nos mercados futuros de commodities de agricultura, ao uso de alimentos como biocombustivéis e à crise econômica.

Na União Europeia, quase 20% da população não tem os meios necessários para satisfazer as suas necessidades mais básicas.

Um gigantesco exército de desempregados, constituído principalmente por jovens, se forma em vários  países.

Na Espanha, o desemprego entre a população de 16 a 24 anos, está em 43%. Nos EUA, 19%. Na Grécia, 25%. Na Itália, 27% e na Irlanda, 30%. No Egito, 80% dos jovens estão desempregados, e mais da metade da população vive na miséria.

Em consequência, prospera também a prostituição e o tráfico de drogas. Segundo a Unicef, 223 milhões de meninas e meninos são vítimas de exploração sexual no mundo.

Enquanto isso, 217 magnatas estão hoje mais ricos do que há um anoEm 2009, eles tinham 1,27  trilhão de dólares de patrimônio. Hoje, possuem 1,37 trilhão de dólares de patrimônio, informa a revista Forbes.

Socialismo ou barbárie

Como vemos, a crise continua e se agrava porque nenhum dos problemas que a causaram  – os baixos salários, o desemprego, as guerras, a dominação do capital financeiro, isto é, a contradição entre o caráter social da produção e a propriedade privada dos meios de produção – foram resolvidos.

O capitalismo chega, portanto, ao século 21 deixando claro sua total incapacidade em solucionar os obstáculos ao desenvolvimento econômico e em satisfazer as necessidades da humanidade.

Assim, a voraz e insaciável classe dos capitalistas, ansiosa por crescer seus lucros, por meio de  seus governos segue a velha receita para as crises econômicas que ela mesma fabrica:  arrocho dos salários, demissão de funcionários públicos, privatizações de empresas, ampliação da jornada de trabalho, cortes dos investimentos nos serviços públicos, aumento da idade para o trabalhador se aposentar e redução dos impostos para as grandes empresas e bancos. O objetivo dessas medidas, diferente do que dizem os meios de comunicação burgueses, não é pôr fim à crise, mas obter mais recursos financeiros para pagar os escorchantes juros das dívidas públicas e, dessa forma, garantir uma sobrevida para o sistema financeiro internacional e manter os lucros da oligarquia financeira.

Esta é a luta que o mundo trava hoje. O resultado final desse confronto se dará nas ruas, nas praças e nos campos. A vitória dos trabalhadores, necessária para evitar a barbárie, é plenamente possível. Mas, dependerá de se conseguir êxito na tarefa de atrair a maioria das massas populares para o lado da Revolução, pois, como disse Lênin no III Congresso da Internacional Comunista: “Se durante a luta tivermos ao nosso lado não só a maioria dos trabalhadores -mas a maioria de todos os explorados e oprimidos – então venceremos realmente”.

Lula Falcão, membro do comitê central do Partido Comunista Revolucionário

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